Segunda-feira, 31 de Agosto de 2009

Façamos Uma Educação Sexual à D. Afonso Henriques…(A Politica de Família de Manuela Ferreira Leite?)

Abençoada seja a educação sexual à D. Afonso Henriques, que nos deixou, só com ele, mais 11 cidadãos e cidadãs neste espaço de expressão portuguesa…diz-nos Gonçalo Portocarrero de Allmada…onde? Claro, no “mais que liberal” Publico, (infelizmente, este mesmo sr Portocarrero esquece-se de nos informar que D. Afonso Henriques morre somente com dois filhos vivos dos seus onze…)!
Eis os caminhos a que nos conduzem os “neoliberalismos” “ à católico portocarrerorista” no Portugal de hoje, com a sra Manuela Ferreira Leite na liderança, que se afirma defensora “da família”,(na verdade, já um pouco camba no contexto da família católica, seja dita a verdade completa, pois a sra é divorciada, o que deveria relevar-lhe o direito das outras visões para a Família…diga-se).
Educação sexual? Para quê tal, dizem-nos os Portocarrero do Mundo?
Porquê educação sexual agora, em 2009, quando o Fundador da Pátria de expressão portuguesa, “não a teve” e tão bem soube procriar…? Tal como respiramos, sabemos agir no sexo, “naturalmente”, diz-nos este cidadão, Portocarrero, doutorado em Filosofia, e, aparentemente, pela foto, padre católico.
Viva o neoliberalismo dirá ele…certamente, desde que à sua, dele, forma de pensar, já que este “neoliberalismo” nem ao de Milton Friedman corresponde, pois é bem mais reaccionário, pois faz lembrar em demasia o Franco dali ao lado, da morte à cultura, da violência anticultural que nem Salazar teve!
Porquê então o Estado a envolver-se na “educação sexual”, questiona-nos este cidadão, que, na verdade, nos insulta (e insulta o lince da Malcata), com um “dito irónico” texto sobre a introdução da educação sexual nos currículos escolares e só escreve não para atacar nem o BE nem o PCP, mas este governo socialista, de Socrates, que finalmente, pretende, ainda que incipientemente na minha opinião, mas antes tal que nada, introduzir a Educação Sexual nas Escolas?
Na verdade, nestes dias de HIV em crescimento exponencial, de situações crescentes de gravidez juvenil, de re generalização das doenças venéreas, de prostituição crescente nas ruas e estradas do país, apresentar um texto deste teor num jornal é, sem dúvida, ofensivo, e lamento dizê-lo, absolutamente anticristão.
Basta recordar, ao tempo de D. Afonso Henriques, as pestes que mataram milhões de europeus, (cerca de metade da População europeia diga-se), para recordar os resultados da total falta de educação, sanitária, sexual e outra, que uma parte da Igreja Católica, a dominante, impunha aos seus Crentes, sendo certo que nem era tal a posição de D. Afonso Henriques, que soube e bem impor o Ensino, pelo menos às suas elites, em nome do progresso do país que conquistou de espada na mão, também contra uma facção da Igreja Católica, apoiando um Papa contra outro, ambos existentes ao mesmo tempo.
A Educação sexual tem andado travada num tal Conselho Nacional da Educação, há anos sem fim, com o silencio exageradamente prolongado dos “progressistas” à Anacleto Louçã e à Bernardino Soares, (e não falo aqui do BE e do PCP…), nesta matéria, e continuará travada enquanto a dita comunicação social, dita liberal, der albergue a dislates como as deste sr Portocarrero, que nos escreve “A propósito, não será por falta de educação sexual que o lince ibérico está em vias de se extinção? (sic)”, brincando em acréscimo com um dever que, na Bíblia, Deus no deixou, o de gerirmos este Planeta e não o de o destruirmos?
Qualquer cristão, qualquer leitor da Palavra de Deus, sabe que a Bíblia não alberga estes dislates, este nonsense reaccionário, que não é mais que um atentado ao ser humano, sobretudo Filho de Deus.
É certo que Chavez comete erros ao tentar proibir a livre expressão do pensamento, bloqueando meios de comunicação social que ele entende enquanto “reaccionários”, mas não pode ser considerado um erro a não publicação de tamanha colecção de asneiras, espirituais, bíblicas, filosóficas e cientifico sanitárias, como as que o texto deste Portocarrero apresenta em tão poucas letras adicionadas em texto.
Daí que só se possa dizer que os responsáveis do Publico são igualmente responsáveis por estes dislates portocarreroristas…
Expliquemos um pouco mais a este sr Portocarrero – ao tempo de D. Afonso Henriques as comunidades não tinham 900 000 habitantes, como Lisboa hoje tem, os países não tinham 10 milhões de habitantes, como Portugal hoje tem, fechados em caixas de fósforo a que chamamos de apartamentos, a n metros do chão, e os papás e mamãs não estavam entre 9 horas a 13 horas fora de casa, a trabalhar, para levar para casa o sustento da família:
Assim, ao tempo de D. Afonso Henriques, havia quem tivesse oportunidade de fazer a educação sexual das crianças no contexto da família, com tempo e disponibilidade, e sobretudo D. Afonso Henriques teve essa oportunidade, isto é, os mais velhos, os que acompanhavam as crianças, mesmo quando com erros evidentes tais como, aquela “se te masturbares ficarás maluquinho…”
Hoje nem tal é possível acontecer! Os papás e as mamãs, os mais velhos em geral, vivem horas sem fim longe das suas crianças, para prover o sustento das mesmas!
Mas este é os caminhos que queremos para Portugal, em 2009?
Este é o caminho dos “neoliberais” à José Manuel Fernandes e à Manuela Ferreira Leite?
Esta é a “família” de Manuela Ferreira Leite, a família do caminho que conduzirá Portugal aos índices sanitários, (e democráticos diga-se), do Zimbabwe do sr Mugabe?
É por isso que este programa deste PSD é o programa minimalista do abaixo o Estado e viva o deixa andar?
Para que não se escreva o que se pensa mas não se quer tornar público?
Esta é a Educação que os Professores tanto anseiam? A Educação que conduz à “santa” ignorância que tudo aceita?
É a esta equipa que os Professores querem entregar a sua profissão?
É por isso que se insinua com a falta de liberdade no Portugal de hoje para que esqueçamos o saneamento, político, de Marcelo Rebelo de Sousa por muito, mas mesmo muitíssimo, menos do que a outra Manuela já inventou nos suas telenovelas de sexta feira à noite na tvi?
É por isso que fazem por esquecer quem efectivamente controla a comunicação social em Portugal, os belmiros, os balsemões, e, agora, os seus afilhados, isto é, a Direita portuguesa?
Que mentem despudoradamente, vejam-se os anos a fio de ataques a José Sócrates, colocados ao lado dos interesses britânicos diga-se, para, nem apresentarem um pedido de desculpas sequer! Como nada dizem sobre as inventonas presidenciais, apanhados que foram de calças na mão, na mentira?
É tempo de travar a mentira e, democraticamente, exigir o controlo dos cidadãos e cidadãs sobre os meios de comunicação social.
Na verdade, é mentira que a liberdade não exija respeito, pelo outro, pela ciência, pelos valores, pelos assuntos espirituais e, por isso, os meios de comunicação social não podem, como não pode a Banca, andar ao sabor dos desvarios de qualquer um Portocarrero que, com as suas asneiras, com a sua arrogância anticristã, na verdade, insulta Jesus Cristo, o Filho de Deus que protegeu a prostituta do apedrejamento e que teve como primeiro milagre, o milagre da multiplicação do vinho!
Gostava aliás que este cidadão Portocarrero me explicasse porque é que nesta sociedade sem educação sexual, (pois até agora não houve Educação Sexual nas escolas…) e que ele tanto privilegia, estamos, neste 2009, a caminhar para o suicídio colectivo, com 1,3 crianças por casal, sem procriação que se veja, enfim?
Onde anda ele?
Além, claro, de andar no ódio aos outros…e a Deus! Porque, essa família, não é a família que, na Palavra, Deus privilegia.
Lá não está escrito, em lado nenhum, que sexo é igual a procriação e que sexo não exige educação, aprendizagem e claro, sempre, Amor.
Porque o Amor também se ensina! E a Bíblia é, em si, prova disso!

Joffre Justino
Nota Final : Sobre a prole de D. Afonso Henriques, Diogo Freitas do Amaral no seu livro D. Afonso Henriques Biografia, explica-nos que dos 7 filhos legítimos 4 não chegaram a adultos e que dos 4 ilegítimos pouco se sabe à excepção do seu filho mais velho, ilegítimo, D. Fernando Afonso, muito próximo do Pai Fundador de Portugal, seu pai de sangue e que esteve envolvido em várias tentativas de tomada do poder contra D. Sancho…prole significativa, de 3 mulheres, mas de resultado limitado no tempo como se vê….
Obra dos tempos de educação, sanitária e sexual, de predomínio dos portocarreros?
publicado por JoffreJustino às 16:23
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Sexta-feira, 21 de Agosto de 2009

Os Erros, Graves, de Manuela Ferreira Leite…

Não é, para mim, sequer aceitável que se possa pensar, que a leader do principal partido da Oposição, o PSD, possa dizer, por falta de informação, coisas como, o PS beneficia uns empresários em desfavor de outros, ou, o PS não atinge a importância dos pequenos investimentos, na dinamização da economia, ou ainda, perante uma crise mundial que afecta fortemente o pais que não viabilizará um governo de coligação se tal for a exigência do eleitorado.

Ou ainda que será ela, Manuela Ferreira Leite, somente ela, a par de Paulo Portas, o arauto dos bons tempos para as PME e para o país….

Nem discutirei o passado, (como a venda a desbarato, feita por Manuela Ferreira Leite, da Dívida Publica portuguesa, ao seu tempo de ministra das Finanças)...

Nem discutirei o aparecimento de pastas cheias de notas nas mãos de dirigentes do PSD, (o PSD de facto poderá não ter nada a ver com tal!)….

Não, e volto a insistir, sendo socialista, não me parece que o sê-lo me obriga a ser anti empresário, ou a escolher os micro e pequenos empresários em desfavor dos restantes, esses os “capitalistas reaccionários”.

Porque, sendo defensor da economia de mercado, entendo, o Socialismo como a evolução para uma economia de mercado de base crescentemente social, no contexto de um debate profundo e prolongado de ideias e de práticas, exigindo tal a crescente participação das e dos Cidadãos nas decisões, politicas, sociais, culturais e, muito obrigatoriamente económicas, ao nível micro sobretudo, ao nível da empresa e das Organizações da economia!

Por via do combate pelo direito e dever à Transparência, à Ética Empresarial e organizacional, à Responsabilidade Social, à crescente participação das decisões de gestão de todas as partes interessadas, seus representantes e trabalhadores incluídos, à defesa do Lucro enquanto custo do Investimento e à Recusa e proibição da espoliação do Outro.

E sobretudo, pela percepção de que a posição perante o Risco exige que se entenda o empresário enquanto um leader de Opinião e de grupo comunitário, conhecendo as regras do jogo e utilizando-as, é uma peça determinante na dinâmica social e na promoção do Desenvolvimento Sustentado das Comunidades.

Haverá entre os empresários quem não tenha a percepção da responsabilidade dos actos de gestão em que se envolve, uns por pura maldade, outros por erro simples.

Mas, já o disse, não fora o sentimento de Responsabilidade Social de uma parte substancial dos empresários em Portugal e a dupla crise em que vivemos, estaria a ter impactos bem maiores, no Emprego, e na Distribuição dos Rendimentos.

Eu próprio, enquanto um dos responsáveis de uma Cooperativa de Ensino, a EPAR, crl, conheço bem o sentimento de Responsabilidade Social e o evidente apoio, diria melhor, Solidariedade, que temos tido nas nossas actividades vindo de Pequenas, mas também de muito grandes Organizações. Já divulguei esses apoios, vindos da REN e da Liberty Seguros, mas também da HBS!

Ora, hoje, menos de 12h depois da entrevista de Manuela Ferreira Leite à RTP, o jornal i vem desmentir tudo o que a Leader do PSD afirmou, no plano da economia, contra o PS !

Assim,

As PME, para o i “É a jóia da coroa do ministério da economia e, por isso, as quatro linhas de apoio ao investimento criadas, (a primeira no segundo semestre de 2008), “libertaram financiamento bancário bonificado no valor de 3,5 mil milhões de euros até final de Julho”, havendo pois uma execução, face ao previsto de 94%!

É impossível que Manuela Ferreira Leite não soubesse de tal!

No contexto das qualificações das Pessoas nas Organizações, segundo o i “já foram injectados 1,1 mil milhões de euros” de dinheiros do QREN e, mais ainda, o governo “gastou 82,5 milhões com apoio ao emprego e protecção social”!

É também impossível que Manuela Ferreira Leite não soubesse de tal!


Os empresários no entanto têm razões de queixa!

E infelizmente de forma significativa, pois no crédito novo “As operações inferiores a um milhão de euros”, obviamente largamente relacionadas com actividades de PME, caíram em 10%, (- 1,4 mil milhões de euros), tal como se reduziu o crédito às grandes empresas, com uma queda brutal, de 35%, (- 6,4 mil milhões de euros), e para terminar com a redução no crédito à habitação, essencial para a sustentabilidade do sector da construçãop civil e do imobiliário, também de forma brutal, com uma queda de 45%, (-3,5 mil milhões de euros).

Mas tal, a redução do crédito, acontece não por falta de apoio do Governo ao crédito bancário, nem por haver apoio discriminatório, beneficiando “amigos”, situação não provada e verdadeiramente infantil perante as verbas envolvidas, mas porque a Banca, já o escrevi, está a assumir-se no mercado com um exagerado conservadorismo, perante incumprimentos que não atingem sequer os 3%!

Tal, sem entender, a Banca, que a manter este exagerado conservadorismo, poderá conduzir, já o escrevi, a uma terceira crise, na “bolha” imobiliária, que pode arrastar o país para uma crise com consequências dramáticas!

Mais acrescento – as afirmações, inadequadas, não provadas, de privilégio a uns poucos, por “amiguismos” partidários, o descrédito sobre a economia que tal gera, são razão de fragilização da economia, de desmotivação dos empresários, dos que arriscam e esperam que o Estado, os Governos, ajam transparentemente, pelo que as afirmações de Manuela Ferreira Leite são, sobretudo, de sustentação da crise por mais e mais tempo e não de solução!

Joffre Justino
publicado por JoffreJustino às 15:39
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Quinta-feira, 20 de Agosto de 2009

5) Enquanto Republicano e Laico Do Hino A Portuguesa

Por forma a ficar mais conhecida ainda a evolução do Hino A Portuguesa, hoje o Hino Nacional, deixo-vos abaixo a versão de 1890, com letra de Henrique Lopes Mendonça e com Música de Alfredo Keil. Na verdade, já houve quem tivesse duvidado da existência das, não duas mas várias versões deste Hino, anti britânico na sua primeira versão, e resultante da revolta em Portugal contra a imposição do Ultimatum de 1890.

Dada a importância, histórica, da envolvente que fez nascer o Hino Nacional, vale a pena relatar alguns aspectos desta envolvência que levou ao surgimento do mesmo.

Na verdade, o Ultimatum foi, sem dúvida, dada a resposta que o rei e o governo monárquico lhe deram, o motivo central para o reforçar e generalizar dos Ideais Republicanos em Portugal. Regressarei, assim, ao livro de F. Keil do Amaral, neto de Alfredo Keil do Amaral, “Histórias À Margem de Um Século de História”, que já utilizei nestes textos “Enquanto Republicano e Laico”.

“São velhas edições, mandadas imprimir por particulares para distribuir gratuitamente, da “marcha patriótica” composta pelo meu avô Alfredo Keil em 1890…são tampas de caixas de bolachas, ou de sardinha, ou de massas alimentícias, ou de cigarros, …cujos fabricantes decidiram, com alusões e homenagens à “Portuguesa”, dar realce ao seu patriotismo em chaga…estampas e postais alegóricos, ….prospectos, anúncios, leques,…programas de concertos e de espectáculos…”, eis a panóplia de instrumentos que foram a base da propaganda antibritânica tomando sempre como elemento central, a “Portuguesa” e que, por tal, se foi transformando no Hino Patriótico definitivamente ligado à República!

Relata F. Keil do Amaral que foram distribuídos, também, gratuitamente, 40 000 exemplares desta “marcha patriótica”, como recorda ainda que se fizeram “orquestrações especiais para “piano só, piano e canto, canto só, grande orquestra, banda marcial, fanfarra, pequena orquestra, charanga, sol e dó, e estudantina”. Diz ainda F. Keil do Amaral, “Meu avô comungava nessa onda de indignação. Filho de alemães, mas português de nascimento, de hábitos e de coração, vibrava de patriotismo magoado. E logo no dia 12, numa roda de amigos, com ele a sangrar, surgiu-lhe a ideia de uma marcha, ou hino, capaz de exprimir a revolta da Pátrio oprimida e de incutir ânimo para o ressurgimento nacional.”

Henrique Lopes de Mendonça, o poeta de A Portuguesa, escreveu no Comércio do Porto sobre o encontro que teve com Alfredo Keil como segue, “…Junto à porta da rua esperava-me o maestro, exaltado e exuberante de gestos, agitando na mão um rolo de papel de música…sentado no modesto piano que ainda conservo, é que Keil se explicou melhor. Tratava-se de uma música, hino ou marcha, em que a alma portuguesa desabafasse a sua revolta perante a afronta recebida e orgulhosamente marcasse, perante o mundo, a sua vitalidade”.

“…E “A Portuguesa” caiu como petróleo sobre o braseiro da revolta…No dia 1 de Fevereiro realizou-se um grande sarau em S. Carlos e ali foi ouvida a obra de meu avô e de Henrique Lopes de Mendonça, com enorme entusiasmo”.

De S. Carlos, A Portuguesa passou para o teatro Alegira, depois para o teatro Avenida, a 10 de Março os aspirantes de Marinha realizaram um Sarau a favor de uma Subscrição nacional e de novo o elemento central do Sarau era A Portuguesa que já era considerado o Hino do Povo.

Entretanto, rei e governo, novo que o anterior já tinha sido afastado, começaram a tudo fazer para reprimir o ímpeto de revolta nacional e começaram a reprimir os comícios, a dispersar violentamente as manifestações patrióticas e”…abafaram as vozes que entoaram A Portuguesa”, sendo que os jornais monárquicos a assumiam como o “hino da canalha”.

Mas, apesar de toda a repressão e maledicência os Cidadãos “Tocavam-na e cantavam-na com mais fervor, quando podiam; quando os governantes não tinham forças para os impedir. Cantavam-na contra os ingleses, contra “os cobardes” e contra o governo…Cantavam-na com um desespero esperançoso”.

Depois de falhado o 31 de Janeiro de 1891, começaram a surgir então exemplares “que têm uma sobreimpressão cujo propósito e cuja sobriedade impressionam: em grandes letras negras, atravessadas na capa azul e branca, a recomendação “LEMBRA-TE”; mas era desnecessária. O Povo não esquecia o seu hino – o hino da esperança no ressurgimento nacional”.

A 5 de Outubro de 1910, com a implantação da República, A Portuguesa só podia transformar-se no Hino Nacional de Portugal…

Mas para que conheçam a sua História e a sua evolução eu, luso angolano, entendi escrever e divulgar este texto junto de Vós, pois, tudo o que fica na História tem razões fortes para que tal aconteça. Infelizmente, alguns esforçam-se por esconder as razões pensando que, com tal, se pode modificar a História.

Joffre Justino

Data: 1890 (versão original)[1]
Letra: Henrique Lopes de Mendonça
Música: Alfredo Keil
I
Herois do mar, nobre povo,
Nação valente, imortal,
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memoria,
Oh patria sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!

Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela patria lutar!
Contra os Bretões marchar, marchar!

II
Desfralda a invicta bandeira,
À luz viva do teu céo!
Brade a Europa á terra inteira:
Portugal não pereceu!
Beija o teu sólo jucundo
O Oceano, a rugir de amor;
E o teu braço vencedor
Deu mundos novos ao mundo!

Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela patria lutar!
Contra os Bretões marchar!

III
Saudai o sol que desponta
Sobre um ridente porvir;
Seja o eco de uma afronta
O sinal do resurgir.
Raios dessa aurora forte
São como beijos de mãe,
Que nos guardam, nos sustêm,
Contra as injurias da sorte.

Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela patria lutar!
Contra os Bretões marchar!

Data: 1890 (com alterações de 1957)
Letra: Henrique Lopes de Mendonça
Música: Alfredo Keil
I
Heróis do mar, nobre povo,
Nação valente, imortal,
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória,
Ó Pátria sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!

Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!

II
Desfralda a invicta Bandeira,
À luz viva do teu céu!
Brade a Europa à terra inteira:
Portugal não pereceu
Beija o solo teu jucundo
O oceano, a rugir d'amor,
E o teu braço vencedor
Deu mundos novos ao Mundo!

Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!

III
Saudai o Sol que desponta
Sobre um ridente porvir;
Seja o eco de uma afronta
O sinal do ressurgir.
Raios dessa aurora forte
São como beijos de mãe,
Que nos guardam, nos sustêm,
Contra as injúrias da sorte.

Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Ás armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!
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Quarta-feira, 19 de Agosto de 2009

(4) Enquanto Republicano e Laico

…E como era a situação em Portugal por voltas dos anos 1900?


De facto, é de todo importante percebemos como viviam os portugueses, para entendermos das razões que cabiam aos Republicanos e da razão pela qual o apoio que foram tendo não parou de crescer, ainda que especialmente nas áreas urbanas e apesar da forma como, assumidamente se confrontaram com poderes instituídos como o da Igreja Católica, espalhada por todo o país.

Na verdade, não podemos esquecer que as batalhas da Laicidade do Estado, do Registo Civil, feito pelo Estado, foram batalhas verdadeiramente fracturantes na época e mais que as posições dos Republicanos portugueses eram, nessas matérias, das mais radicais da Europa.

Como em outros textos citamos e trabalhamos em volta de um autor Republicano, desta vez João Chagas, nas suas Cartas Políticas e de textos que ele refere.

Segundo João Chagas, se a Bélgica despendia para 6 693 584 habitantes, para a instrução primária, por ano, 7 628 contos, Portugal, com 5 016 267 habitantes, portanto com uma população quase idêntica, gastava somente 1 600 contos, 20% das verbas belgas, dos quais somente 600 contos eram do Estado Central sendo o restante dos verbas dos Municípios.

No entanto, em 1878 para uma população de 4 455 699 habitantes Portugal tinha 82% de analfabetos, que passavam em 1890, para 5 049 720 habitantes, com 79,2% de analfabetos e em 1900, para 5 423 132 habitantes onde existiam 78,5% de analfabetos. Assim, em 22 anos Portugal só conseguira reduzir o analfabetismo em 3,5%, o que só pode ser considerada uma redução irrisória, só explicada pelo desprezo que as elites monárquicas tinham sobre as necessidades da População em Portugal e sobre as necessidades de desenvolvimento do país, num tempo também, como o foi este, de fortes inovações tecnológicas em consequência dos impactos da Revolução Industrial!

Segundo Casimiro Freire, “Estamos hoje mais atrazados em instrução do que os indígenas (cafres e outras raças) do Cabo da Boa Esperança há 32 anos…As próprias cidades de Lisboa e Porto contam com maior nº de analphabetos do que a raça negra dos Estados Unidos, que em 1890 contava 56%”, o que releva do forte atraso que o regime e as governações monárquicas, 11 governos em 18 anos de D. Carlos, impuseram a um país já fortemente afectado pelos anos de ocupação militar, britânica e francesa, e pelos anos de Guerra Civil.

Dizia ainda, segundo João Chagas, o Boletim da Associação das Escolas Móveis, em 1907, que, “Percorrem-se 22 povoações da Beira Baixa, n’um só districto para só encontrar 13 mulheres sabendo ler!”, o que releva da total desigualdade de oportunidades dominante no regime monárquico em Portugal e, claro, sobre o conservadorismo das elites monárquicas.

Anselmo Andrade, citado por João Chagas, recorda ainda que, “Pode-se dizer que, fora da península scandinava e das enormes vastidões moscovitas, em paíz nenhum há tão grandes disponibilidades de terras”, pois 44% dos terrenos agrícolas portugueses eram à época incultos. No entanto, “Mais de uma quarta parte do rendimento liquido da agricultura portugueza consome-se em impostos e juros a credores”. Portugal, que não era à época um país industrializado, tendia a deixar de ser um país agrícola, vivendo basicamente do endividamento e do poder colonial, ele próprio inaproveitado.


Mas também, “O peso dos impostos por cada habitante excede em Portugal 8 a 100 por cento o dos outros povos da Europa” e, ainda por cima “… o encargo da divida publica em Portugal é, “absolutamente maior do que o de muitas nações da Europa e relativamente mais pesado do que em todas elas, exceptuada apenas a França onde a indemnização de guerra explica e documenta a grandeza da sua dívida”

Portugal era ainda “…o paiz do mundo onde os serviços públicos custam mais caros. Na Suissa, custam, por habitante, 6 francos, na Inglaterra, 10,5,…, na Bélgica 15…na França 24. O custo dos serviços públicos em França é considerado exhorbitante. Pois bem: Portugal excede-o….”.

Ora “As despezas com o pessoal representam 23% dos valores administrados”, largamente superior aos da França, em termos relativos, o que começa a explicar o custo dos serviços públicos. Mas, não havendo despesas que se justifiquem na Educação, ou na Saúde, ou nas Obras Publicas, o que resta para justificar este peso das despesas com o Pessoal? O peso das Forças Armadas, em consequência do impacto colonial, e da sustentação do regime monárquico e, evidentemente, o impacto da sustentação, através do Estado, dos lobbies politico e familiares e, ainda, as despesas com a família real….

Joffre Justino
publicado por JoffreJustino às 14:21
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Segunda-feira, 17 de Agosto de 2009

Ah! Brilhante!...Nacionalizemos! (…Para Quê?)

Existem uns tantos, há Esquerda, que entendem que a solução para todos os males do País é simples – criemos uma nova classe dominante, não feita de empresários, mas sim de “gestores”, públicos, de bens nacionalizados, nossos, de todos, mas geridos por eles, a elite, os sapientes e os amigos dos sapientes.

Revolucionaria atitude dizem eles, no BE e no PCP…Revolucionária atitude?

Bem, Lenine, em 3 anos de poder revolucionário amaldiçoou n vezes estes “gestores” esta nova elite, esta nova classe dominante, apresentando-a como o exemplo da contra revolução…quem não acreditar em tal que se encarregue de ler os últimos textos, pós anos 20, de Lenine…pois ele nunca confundiu a revolução com as medidas à Bismarck…

Mas nem precisamos, no espaço de expressão portuguesa, do exemplo de Lenine.

No Brasil, no Brasil até da ditadura militar, acho que os chamaram de marajás, tal era a ostentação destes “gestores públicos”.

Em Angola, são a elite do MPLA, e foi tal o resultado que conseguiu criar, num país com mais de 30% da população a ganhar menos de 1 dólar por dia, a capital mais cara de se viver do Mundo!

E em Portugal, o exemplo dos anos 70/80, com as empresas publicas sistematicamente deficitárias, com o sector dos transportes navais a desaparecer, simplesmente a desaparecer, com as Siderurgias Nacionais mortas, etc, os exemplos são perfeitos de qualidade na gestão, de boa gestão da coisa pública, de rentabilidade económica e financeira! Tão perfeitos que ninguém se atreveu a defender o sector empresarial do Estado, anos a fio.

Custe aos PCP e BE, mas na verdade não fossem as empresas privadas e os empresários privados, os autênticos, não os de pacotilha, e não fosse a governação de Mário Soares e o país teria falido aí por voltas de 1984, depois do descalabro que foram os anos da direitista AD pós Sá Carneiro!

Hoje, PCP e BE avançam de novo com os “elefantes brancos”, o nome português de então para o sacrossanto sector empresarial de estado, um, o PCP, para a banca comercial e outro, o BE, para o sector da Energia. O mesmo do muito mau enfim, eis a solução “revolucionária” destes dois partidos para a crise que hoje vivemos...

Os argumentos são o máximo – “O crédito e a moeda são serviços públicos…o sangue que faz circular a economia”, diz-se no PCP. Ou, como no BE diz Anacleto Louçã, “Um país que não pode decidir sobre uma refinaria petrolífera ou que entrega a uma empresa estrangeira o controlo sobre a distribuição de electricidade é um país vulnerável”.

Estamos pois no maior dos anseios – o de reestabelecer a elite dos gestores públicos, a todo o custo! O de trocar os empresários por uns tantos, sempre os mesmos, como já o foi, desta elite sapiente.

Que se dane a União Europeia, vivam os “gestores públicos”!

Claro que sem risco. Claro que se correr mal, os nossos impostos que paguem, como sucedeu em Portugal, mas também na URSS, ou em Cuba, ou na Republica Popular da China. Porque o contrário é exploração capitalista, abaixo os empresários!

E querem eles, PCP e BE, arrogarem-se de defensores do Socialismo!

Pois, mas ainda existe quem sabe que capitalismo de estado não é mais que isso, capitalismo de estado.

Ainda existe quem sabe que perante uma crise e em nome da sanidade da economia, a estatização é um meio a ser utilizado, com bom senso mas a ser utilizado, sem duvida. Mas como meio e não como filosofia política e mais, como é evidente que cabe ao Pais em causa, ao governo desse país, assumir tal medida.

O PS fê-lo com o BPN e fê-lo bem.

Claro que o resultado foi o ataque cerrado do CDS, aliado ao PCP e ao BE, que de imediato transformaram o criminoso, o sr. Oliveira e Costa do BPN, em um santo e o policia no caso BPN, o Banco de Portugal, num criminoso!

Criteriosa atitude? Sim, no contexto da irresponsabilidade e da necessidade de escamotear que coragem para decidir o governo PS teve-a. No contexto da maledicência pura eis o que viveu a nacionalização do BPN e a única prisão de um banqueiro em Portugal, à custa do CDS, (normal) mas também do PCP e do BE, (estranho no mínimo!).

Mas perante as atitudes do PCP e do BE no caso BPN, dentro da Assembleia da Republica realce-se, como é possível ver nas medidas “nacionalizantes” do PCP e do BE outra coisa que não seja a demagogia pura?

A solução de longo prazo e sustentável, não está, aliás, na estatização.

A solução está na democratização da vida económica, no alargamento da participação e do controlo, controlo de cidadania diga-se, não de burocracia, e na transparência, das Pessoas sobre a Economia, a sua Economia.

Regulamentar a participação das Pessoas nas Empresas e concretizá-la. Limitar regulamentadamente as decisões empresariais, impor o fim das tendências para o monopólio, tornar rigorosa a publicitação das Contas de Empresa, integrar a actividade empresarial no meio envolvente, regulamentar a implementação da Responsabilidade Social e da Ética Empresarial e, finalmente, promover a Economia Social, o Cooperativismo, o Associativismo, o Mutualismo, o Autogestionarismo, essas sim são as soluções do século XXI para o Socialismo.

A par do controlo das deslocalizações, da implementação mundial da distribuição dos rendimentos, e de uma maior paridade salarial no Mundo, claro e obrigatoriamente.

Nacionalizar como solução revolucionária?

Salvo seja! Quando muito e limitadamente como solução, capitalista, para a crise!

Mas, claro, mesmo nas Cooperativas, na Economia Social, mantém-se o Risco, a necessidade de empenho, de tudo menos de uma vida de “académico”. E para isso, nem PCP, nem BE gostam muito de dar.

É claro que estas propostas tornam bem difíceis as ideias de coligação com o PCP e o BE, em qualquer parte da Esquerda em Portugal, para além deles próprios claro.

Hoje, e eu defendo a Unidade na Esquerda, é fundamental reiniciar um debate lançado nos inícios dos anos 80 do século XX, com a liderança de Mário Soares, sobre o que é isso da Esquerda.

Na certeza que ser estatista não é ser de Esquerda. Ser estatista é ser isso somente, estatista, defensor das elites provindas do Estado e para beneficio das elites que a ele se agarram e ponto final.

Lamento desiludir Anacleto Louçã, o BE e o PCP, mas nesse caminho do estatismo há muito pouca Esquerda!

Joffre Justino
publicado por JoffreJustino às 14:17
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(3) Enquanto Republicano e Laico Sobre o Ultimatum e a República em Portugal

(Tendo como base o texto, O 31 DE JANEIRO, (Porto 1891), POR JORGE D'ABREU)

…Pois recordemos agora uma das razões, a mais importante sem dúvida, das que levaram ao Ultimatum britânico sobre Portugal – a expedição de Serpa Pinto, a fins de 1889, para “affirmar a soberania de Portugal nos territorios do Nyassa, que o nosso paiz reivindicava. Commandava-a aquelle major do exercito e compunham-na varios funccionarios e technicos. O engenheiro chefe da missão de estudo era o sr. Pereira Ferraz.” – e, claro, à implantação da I Republica em Portugal.
Tratava-se, como se vê pela composição da expedição, de um conflito nada africano, mas em tudo europeu, só que vivido no continente africano, como o relato a seguir explicita bem, sendo sem dúvida, também, uma expedição com claros fins militares, dada a sua enorme presença na mesma, e forte contexto “colonialista”, característico das relações internacionais da época,“Foi depois d'sto que o major Serpa Pinto, accudindo com mais gente á expedição e elevando o seu contigente a uns 6.000 homens armados, marchou sobre os negros revoltados e travou com elles em Mupasso sangrento combate. Os makololos deixaram mortos no campo uns 72 homens e muitos prisioneiros importantes. A expedição poz-se novamente em marcha apoz a victoria, que, diga-se desde já, teve no estrangeiro uma extraordinaria resonancia. Na Africa Oriental e principalmente na região sublevada o effeito não foi menor. O sultão Macanjira estabelecido nas margens do{23} Nyassa prestou vassalagem a Portugal. O chefe M'ponda apressou-se tambem a imital-o; o regulo Malipuiri e outro visinho dos makololos foram a{24} Quelimane receber a bandeira portugueza. Mas, emquanto isto succedia, o Times, dando conta do combate, fazia affirmações d'este theor: que o major Serpa Pinto enganara o consul inglez na região onde elle se travara, affirmando intenções pacificas, mas que, decorrido algum tempo, levantara conflicto com os makololos, fazendo n'elles grande morticinio e tomando-lhes duas bandeiras britannicas recentemente dadas por aquelle consul. Os makololos, julgando-se abandonados pelos inglezes, tinham então reconhecido a dominação portugueza. O major Serpa Pinto, accrescentava o Times, annunciara a intenção de conquistar o Chire até o lago Nyassa e convidara os residentes inglezes a collocarem-se debaixo da protecção de Portugal, tornando-os responsaveis pelas consequencias no caso de recusa. A imprensa franceza, por seu lado, occupando-se da victoria alcançada por Serpa Pinto, falava pouco mais ou menos n'estes termos: «a acção do major portuguez poz termo á comedia que a Inglaterra andava representando em Moçambique. Felicitamol-o por isso. Portugal deu um excellente exemplo. Esperamos que outras nações o saberão seguir na occasião opportuna para fazerem respeitar as espheras de influencia de cada um, e não permittirem as continuas invasões da Inglaterra no terreno alheio».
O texto que cito acima é bem claro. Britânicos, Portugueses e Franceses procuravam delimitar, na sequência da Conferencia de Berlim, terreno colonial em África e a maior potência do mundo de então, iria assumir, desta vez contra o seu centenário aliado, Portugal, o seu estatuto de primeira potência, com significativa veemência.
É saudável referir que, à excepção dos Estados Unidos da América, que defendeu o direito dos Povos Africanos, à Autodeterminação, todas as restantes potências assumiram a expansão e ocupação colonial como um dever, como os mais disparatados argumentos diga-se.
Na verdade, para os britânicos, o que tinha sucedido era, terem percebido na atitude de Serpa Pinto, , para além de uma ameaça aos seus interesses económicos, uma ofensa ao seu estatuto de potência imperial dominante, em especial vindo da parte da pequena potencia europeia que Portugal então era e que, diga-se, mantinha dada a sua aliança com o império britânico.
Assim, perante a afronta portuguesa, que na verdade não mais era que uma tentativa de impor no terreno a sua ambição de ocupar um território africano que ligasse o Atlântico ao Índico,“O marquez de Salisbury dirigiu ao governo portuguez uma nota que foi entregue ao sr. Barros Gomes pelo sr. Glynn Petre, ministro britannico em Lisboa. A nota, diziam n'essa occasião os telegrammas de Londres, tinha a forma de uma representação sobre a acção de Portugal na Africa do Sul e Oriental e pedia que o nosso governo repudiasse os actos do agente portuguez no districto da Zambezia. O marquez de Salisbury, affirmava-se, não usava de ameaças; a nota continha uma exposição de varios factos que asseverava terem occorrido e pedia a restauração do anterior statu quo na região em litigio; o governo inglez não podia permittir que fosse arriada a bandeira ingleza depois de arvorada por um representante responsável .. . Serpa Pinto, na verdade, objectava-se em Portugal, limitara-se a desembaraçar o caminho á expedição Ferraz perturbada pelos makololos e mais nada.
Isto passava-se em 18 de dezembro de 1889. A nota do marquez de Salisbury referindo-se exclusivamente ao supposto ataque da expedição portugueza contra os makololos, e não fazendo menção alguma dos outros assumptos pendentes entre a Inglaterra e Portugal sobre as suas respectivas espheras de influencia na Africa do Sul e Oriental e pedindo ao sr. Barros Gomes uma resposta prompta, o mais rapida possivel, e, no caso do ataque se confirmar, a chamada a Lisboa do major Serpa Pinto; o ministro portuguez dos negocios estrangeiros replicou que as informações até á data recebidas não confirmavam as interpretações dadas{26} pelo gabinete inglez aos actos do major, que «repellira sómente o ataque d'uma tribu hostil na bagagem da qual encontrara tres bandeiras inglezas». O sr. Barros Gomes terminava por pedir uma demora afim de poder communicar com o major Serpa Pinto. Entretanto, «para estar preparado para qualquer contingencia», o governo britannico decidia collocar as suas forças navaes proximo de Portugal. Persuadido de que «a reunião de barcos de guerra inglezes no Tejo augmentaria indefectivelmente a irritação dos portuguezes e entorpeceria a acção do governo lusitano nas suas negociações para o arranjo da questão relativa ao paiz do Nyassa», os couraçados britannicos receberam ordem de reunir-se em Gibraltar e de ahi se manterem «em expectativa dos acontecimentos futuros»…entre os que formavam a esquadra do Mediterraneo. Os couraçados Bendvor e Colossus, a 27 de dezembro, levantavam ferro de Malta com destino a Gibraltar. Em Malta tambem se encontravam as fragatas couraçadas Agammenon e Dreadnought; em Edimburgo egualmente se preparavam outros navios.”
A pressão sobre Portugal originou, logo, o despoletar de uma forte oposição, em especial Republicana, que desenvolvia intensa propaganda política antimonárquica como vemos neste texto a seguir, “…«Comtudo estava provado que a realeza perdera o prestigio, que a dynastia de Bragança alienara todas as sympathias, que as instituições tinham cahido no descredito e que, por conseguinte, o povo desejava vida nova»… «O que devemos á dynastia? Que principio superior anda ligado á existencia{27} d'essa anachronica forma de governo? A Patria?... Oh! nós bem sabemos que, quando Portugal se quiz emancipar do jugo da monarchia hespanhola, quem mais conspirou contra a Patria foi o Bragança idiota, por quem os ingenuos combatentes de 1640 andavam expondo a vida; sabemos como esta funesta dynastia tem, pouco a pouco, em presentes de noivado e como premio de serviços contra a nação, entregado as nossas colonias aos inglezes; sabemos como, na hora do perigo para a nossa independencia, para a nossa honra nacional, o sr. D. João VI fugiu covardemente para o Brazil; sabemos como o pae do actual reinante (D. Luiz) escreveu umas cartas criminosas a Napoleão III, no intuito de se formar em seu proveito e da sua raça a união iberica. A Liberdade?... Não a suffocam, porque não podem. O Bragança, que aqui implantou o systema constitucional, fôra um despota no Brazil. Escorraçado de lá, como não podia apresentar-se em frente da monarchia tradiccional representada por seu irmão, em nome de outro principio deu-nos a constituição que, mais tarde, seu filho rasgou á vontade, abafando os clamores angustiosos da nação, com a intervenção das armas estrangeiras...»”
Na comunicação social de então e no Parlamento, como, claro, nas ruas e cafés do país, em todos os locais onde se discutia política, o caso Serpa Pinto e as pressões britânicas tornou-se rapidamente num caso de âmbito nacional.
Não deixa de ser verdade que, inicialmente, até o rei Carlos assumiu uma posição “nacionalista”, o que afasta a ideia do carácter britânico deste rei, “Era necessario ouvir os dois expedicionarios e ouvir-lhes as allegações que, decerto, produziriam sobre a sua attitude em tão melindroso assumpto. Uma parte da imprensa acreditava até ingenuamente que a Inglaterra não tardaria a modificar o tom aggressivo das suas notas diplomaticas, substituindo-o por outro de feição conciliadora: «em primeiro logar, porque assim o quer o respeito devido por cada nação a todas as outras; em segundo logar, porque, se procurasse entregar á violencia a decisão d'um pleito em que devem ser ouvidos e escutados os argumentos de parte a parte e em que a justiça ou a equidade deve proferir sentença em unica instancia, não só concitaria a nossa resistencia mas, porventura, tambem provocaria a indignação do mundo». E essa parte da imprensa ia mesmo mais longe na sua ingenuidade: «A Grã-Bretanha sabe que, embora sejam enormes as suas forças comparadas com as nossas, poderia arriscar-se a revezes se desrasoadamente accendesse a guerra na Africa...»
Ao abrir-se o parlamento, o rei D. Carlos, que, pela primeira vez, se apresentava a desempenhar o seu papel constitucional de «chave de todos os poderes», lendo o classico discurso da côroa, sublinhou estas passagens, que a assembleia dos representantes da nação escutou com rara e justificada avidez:
«Recentemente as patrioticas aspirações da nação ingleza e do governo de sua magestade britannica, a dilatarem as suas vastas possessões na Africa, encontraram-se em mais d'um ponto d'esse continente, com o firme proposito de Portugal de conservar sob o seu dominio e de utilisar para a civilisação os territorios africanos que primeiro foram descobertos e trilhados pelos portuguezes, por elles foram revelados e abertos ás missões do{29} christianismo e ás operações do commercio e nos quaes as auctoridades portuguezas teem praticado os actos de jurisdicção e influencia consentaneos ao estado social dos seus habitantes, actos que sempre bastaram para significar dominio incontestavel.
«Este encontro poz em relevo desaccordos de opinião entre o meu governo e o de sua magestade britannica ácêrca das condições a que devem satisfazer e dos titulos que teem de adduzir as soberanias europeias em Africa, para serem reconhecidas pelas potencias, e d'esses desaccordos resultou uma correspondencia diplomatica que ainda os não poude sanar e que tambem houve de occupar-se de outras divergencias, posteriormente suscitadas, sobre o modo de apreciar um conflicto, occorrido nas margens do Chire, entre uma tribu indigena e uma expedição scientifica portugueza. O meu governo, inspirando-se no sentimento nacional e conformando-se com o voto unanime das duas casas do parlamento, tem diligenciado convencer o de sua magestade britannica do direito que assiste a Portugal de reger os territorios ao sul e norte do Zambeze sobre que versa a mencionada correspondencia, limitando-se, durante o incidente e em todos os seus termos, a manter dominios que sempre reivindicou, e reiterar declarações que sempre fez. E n'esta attitude persistirá com o apoio, que decerto lhe não ha de faltar, dos representantes da nação, esperando conseguir uma equitativa conciliação de todos os legitimos interesses, que promptamente restabeleça, como eu desejo, o perfeito accordo entre os governos de duas nações ligadas por vinculos de amizade e tradicções seculares».”
Rápida e infelizmente a pressão britânica e a falta de capacidade militar, mas também de firmeza negocial, conduziria o rei e o governo português a iniciarem uma sequência de cedências que fragilizariam para sempre a monarquia em Portugal, com a opinião publica de cada país a ser pressionada pelas respectivos meios de comunicação social, “O Times, referindo-se-lhe, dizia que, se a Inglaterra não tomasse promptas providencias «para apagar a impressão causada pelas incursões do major Serpa Pinto, toda a região dos Lagos Africanos se incendiaria; os makololos tinham visto a Inglaterra grosseiramente ultrajada; era necessario que a vissem reivindicar claramente a sua honra». Por outro lado, o governo portuguez, desejoso, sem duvida, de attenuar um pouco a irritação que o da Grã-Bretanha denunciara na nota de 5 de janeiro, havia ordenado a Serpa Pinto que recolhesse á metropole. Mas nem com isso o colosso amorteceu a pancada.”
O rei e o Governo tentaram ainda a saída de uma conferência internacional que abrisse a Portugal algumas portas que lhe permitisse sair com honra da situação gerada pela expedição de Serpa Pinto e que não passasse por um conflito militar, na Europa, com o império britânico.
Mas,
“Á nota do dia 8 d'aquelle mez, em que o sr. Barros Gomes lamentava que a Inglaterra nunca tivesse reconhecido o direito historico constantemente affirmado por Portugal aos territorios do Chire e do Nyassa, a essa nota, o ministro Petre respondeu no dia 10 com um memorandum—guarda avançada da exigencia formal. «O governo britannico, frisava esse documento, precisa saber se foram ou não enviadas instrucções rigorosas ás auctoridades portuguezas em Moçambique com referencia aos actos de força e ao exercicio de jurisdicção que ali subsistem actualmente». E, quasi sem dar tempo a que a sr. Barros Gomes digerisse o tom comminatorio{31} do memorandum, o ministro Petre entregou-lhe o famoso ultimatum concebido n'estes termos:

O governo de sua magestade britannica não pode acceitar como satisfatorias ou sufficientes as seguranças dadas pelo governo portuguez, taes como as interpreta. O consul interino de sua magestade em Moçambique telegraphou, citando o proprio major Serpa Pinto, que a expedição estava ainda occupando o Chire e que Kalunga e outros logares mais no territorio dos makololos iam ser fortificados e receberiam guarnições. O que o governo de sua magestade deseja e em que insiste é no seguinte:

Que se enviem ao governador de Moçambique instrucções telegraphicas immediatas para que todas e quaesquer forças militares actualmente no Chire e nos paizes dos makololos e mashonas se retirem. O governo de sua magestade entende que sem isto as seguranças dadas pelo governo portuguez são illusorias.

Mr. Petre ver-se-ha obrigado, á vista das suas instrucções, a deixar immediatamente Lisboa com todos os membros da sua legação, se uma resposta satisfatoria á precedente intimação não fôr por elle recebida esta tarde; o navio de{32} sua magestade «Enchantress» está em Vigo esperando as suas ordens.

O ultimatum tinha a data de 11 de janeiro.”

Estava dado um irreversível passo, ou para a guerra, ou para uma vergonhosa cedência.
O governo português e o rei passavam a estar envolvidos numa decisão, por eles tomada, que gerara mais repúdio que o esperado por parte da principal potência mundial de então, que ultrapassava visivelmente a sua capacidade de resposta e que, ao mesmo tempo feria gravemente os brios nacionais de todas as camadas sociais do país.
“No mesmo dia o sr. Barros Gomes entregava ao ministro inglez a resposta... Abria pela declaração infantil de que o governo portuguez julgava ter, com a sua nota do dia 8, satisfeito «por inteiro quanto d'elle reclamava o de sua magestade britannica; antecipando-se á segurança d'uma justa reciprocidade, que devia constituir o natural preliminar das suas resoluções, apressara-se a enviar para Moçambique as ordens mais terminantes no sentido de fazer respeitar desde logo, em toda a provincia, o compromisso tomado, no intuito de facilitar a realisação d'um accordo com a Grã-Bretanha, pelo qual o governo portuguez sempre pugnara». A resposta do sr. Barros Gomes fechava assim:

Na presença d'uma ruptura imminente de relações com a Grã-Bretanha e de todas as consequencias que d'ella poderiam talvez derivar-se, o governo de sua magestade resolveu ceder ás exigencias recentemente formuladas e, resalvando por todas as formas os direitos da corôa de Portugal nas regiões africanas de que se trata, protestando bem assim pelo direito que lhe confere o artigo 12.º do Acto Geral de Berlim, de ver resolvido definitivamente o assumpto em litigio por uma mediação ou pela arbitragem, o governo de sua magestade vae expedir para o governador geral de Moçambique as ordens exigidas pela Grã-Bretanha. Aproveito a occasião para renovar a v. ex.ª as seguranças da minha alta consideração.{33}

Resumindo: se a intimação era cathegorica, e a ameaça do governo inglez resumava inilludivelmente o proposito de vexar, de humilhar o pequeno paiz ao qual ella se dirigia, a resposta não podia ser mais subserviente, apesar do fraco esboço de protesto… Ao pontapé vibrado impiedosamente pela Inglaterra, Portugal offerecia uma curvatura de espinha só propria d'um lacaio... Custa dizel-o sem disfarce, mas é a verdade.”
Perante este evoluir dos acontecimentos, a comunicação social portuguesa, logo a 12 de Fevereiro, referia, “«O governo inglez, o philantropico e honesto governo inglez, recorreu, emfim, ao argumento que lhe é usual nas discordias com os povos pequenos. Recorreu ao argumento da força! O governo portuguez recebeu uma intimação formal: ou dá promptas satisfações, n'um curto praso, que deveria ter terminado ás 2 horas da manhã de hoje, ou marcha sobre Lisboa a poderosa esquadra que está reunida em Gibraltar, com ordem de bombardear a capital de Portugal! Lisboa, a nossa querida e formosissima Lisboa, bombardeada pelos canhões da Inglaterra! … a cidade dos navegadores heroicos e generosos, destruida a tiros de peça pelos couraçados da nação colonial por excellencia! É phantasticamente horrivel! …
… Que respondeu o governo? Salvou a sua honra, ou salvou a historia d'esta immensa vergonha, e Lisboa d'esta immensa catastrophe? Nada podemos averiguar. O ministerio esteve reunido até alta noite e do que decidiu só hoje, provavelmente, haverá conhecimento. A hora não é de recriminações… n'este momento solemne da nossa historia!»”
Continuando o relato por via da comunicação social portuguesa de então, pode-se constatar que o referido Ultimatum teve o efeito devastador, “O domingo 12, isto é, o dia immediato ao da recepção do ultimatum, consagrou-o a população lisboeta a commentar o acontecimento. Uma parte da imprensa, … , accrescentava que, emquanto o ministro inglez sr. Petre entregava a intimação formal ao sr. Barros Gomes, este recebia do governador de Cabo Verde um telegramma communicando-lhe que entrara no porto de S. Vicente com carta de prego um cruzador britannico; o nosso consul em Gibraltar{35} avisava-o, por seu turno, de que a esquadra do Canal lá estava concentrada, prompta ao primeiro aviso; o consul em Zanzibar tambem telegraphava participando a sahida para as costas de Moçambique de dez navios de guerra inglezes, acompanhados de um transporte com carvão e mantimentos. Perante esta situação, o governo consultara o conselho de Estado, que reunira sob a presidencia do rei D. Carlos. No conselho tinham votado pela satisfação ás exigencias da Inglaterra os srs. Barjona de Freitas, José Luciano de Castro, conde de S. Lourenço, Barros Gomes e João Chrysostomo. O sr. Antonio de Serpa manifestára-se pela arbitragem e por que só fossem mandadas retirar as forças portuguezas do Chire depois da Inglaterra a acceitar.”
O relâmpago da ameaça vinda pelo Ultimatum, propagava-se em fogos que se iam concentrado por toda a população portuguesa, e não só lisboeta. Mas, na capital do pequeno império português, os resultados eram assim relatados, “Ao começo da noite formaram-se grupos numerosos no Rocio e como do Colyseu da rua da Palma sahisse, em certa altura, um cortejo de patriotas que soltavam calorosos vivas á nação, ao exercito e á imprensa e morras ao governo e á Inglaterra, os grupos addicionaram-se-lhes e uma enorme multidão dirigiu os passos para a Sociedade de Geographia. Ahi, d'uma das varandas, falou o sr. Luciano Cordeiro:
—A Inglaterra, trovejou, pode expulsar-nos pela força, mas o direito subsiste! Precisamos protestar contra a pirataria britannica!...
Mas, da multidão, elevaram-se outras vozes:
—E contra o governo que nos atraiçoou! E contra os Braganças que nos jungiram á Inglaterra!...
Depois, a grande massa dos manifestantes subiu á parte alta da cidade a saudar a imprensa, que se{36} collocára abertamente ao lado do povo, verberando a affronta. As redacções do Seculo, Revolução de Setembro, Jornal da Noite, Jornal do Commercio, Debates, Correio da Manhã e Gazeta de Portugal foram alvo de manifestações de sympathia. Á passagem em frente da redacção do Dia, alguns dos populares deram palmas emquanto outros se limitaram a bradar: «Viva Portugal! Abaixo a Inglaterra!». Em frente ao Correio da Noite produziu-se uma manifestação hostil ao governo, manifestação que se repetiu junto do Reporter e que redobrou de violencia em frente das Novidades, com morras ao sr. Emygdio Navarro, aos «progressistas traidores» e gritos de: «Abaixo o chalet! Viva a Republica!....
….Na rua Serpa Pinto, a multidão, lembrando-se do nome do official que derrotara os makololos, rompeu em estrepitosas acclamações em sua honra. O enthusiasmo attingiu proporções indescriptiveis. Do terceiro andar d'uma casa habitada por uma modista, falou um academico convidando os collegas a realisarem no dia seguinte um grande cortejo patriotico. Foi delirantemente applaudido. Da rua Serpa Pinto, a massa popular avançou depois sobre o theatro de S. Carlos e irrompeu na sala dando vivas á patria e clamando contra a Inglaterra. Os habitués da nossa Opera,—a jeunesse dorée—tranzidos de pavor, não lhe oppuzeram a menor resistencia. Dentro e fora do edificio os manifestantes gritavam:
—Hoje não é dia de espectaculo, é dia de luto!...
Sahindo de S. Carlos, alguem lembrou que o consulado inglez era na rua das Flores. O rastilho propagou-se….E, só quando a policia interveiu, prendendo 61 dos populares, é que a{37} mole se desfez, mas preparando in mente para o dia seguinte novas e incisivas manifestações de antipathia á Grã-Bretanha e ao governo que promptamente se lhe submettera. Entretanto, esse ministerio pedia a demissão, abalado pelos primeiros symptomas da reacção nacional. Para mais o movimento de protesto não se limitára a Lisboa. Repercutira de norte a sul do paiz, revelando energias civicas que desnorteavam por completo a corôa e os partidos da monarchia.”
Mas os cidadãos continuariam os seus protestos e, em Lisboa, pondo crescentemente em causa quer o governo, quer o rei, quer o próprio regime monárquico, “…um cortejo de mais de quinze mil pessoas, sahindo da Escola Polytechnica, encaminhou-se para S. Bento.
Á entrada do Largo das Côrtes, do lado do mercado, um cordão de policias pretendeu impedir a passagem aos manifestantes, mas o cortejo rompeu-o e tudo passou. A guarda do palacio chamou ás armas e calou bayonetas. Em frente do edificio, destacou-se do cortejo uma commissão que foi falar ao presidente da camara. A policia dentro e fora do edificio era em tão grande quantidade que Fialho d'Almeida soltou esta boutade:{38}
—Os seios da representação nacional trazem hoje espartilho de guarda civil...
Os aspirantes de marinha, receiando que a massa de povo aglomerada no largo fosse maltratada pela força militar, formaram deante d'esta, offerecendo-lhe como que uma barreira, e a sua attitude provocou uma ovação extraordinaria, frenetica de enthusiasmo. D'ahi a momentos, a commissão que se avistara com o presidente da camara voltou para junto dos manifestantes, e communicou-lhes que o parlamento, tendo tomado em consideração a démarche patriotica da academia, occupar-se-hia, na sessão seguinte, dos assumptos que interessavam a defeza e a integridade do paiz. O cortejo andou depois a percorrer varias ruas da cidade, pronunciando-se hostilmente em frente dos jornaes caracterisadamente governamentaes e á noite repetiram-se as scenas da vespera, queimando-se bandeiras inglezas, victoriando-se em delirio os nomes de Serpa Pinto, Latino Coelho e outros democratas então em evidencia.
No dia 14, pelas seis e meia da tarde, sahiu do Café Aurea um grupo de estudantes soltando vivas á patria, á liberdade, á independencia nacional, ao exercito e á marinha. A esse grupo juntou-se na rua do Ouro e praça de D. Pedro muito povo e á porta do Café Martinho o antigo deputado progressista sr. dr. Eduardo de Abreu propoz à multidão que se envolvesse em crepes a estatua de Camões. Dito e feito. Os manifestantes enfiaram pela rua Nova do Carmo e o Chiado, explodindo sempre o maior enthusiasmo, aos degraus do monumento subiram alguns individuos, arranjou-se uma escada, passou-se o crepe em largas dobras rodeando a estatua e rematando sobre a corôa de ferro ali deposta pelos estudantes em 1880 e, no meio do mais respeitoso silencio, leu-se ao povo este cartaz, que foi depois affixado:{39}
Estes crepes, que envolvem a alma da patria, são entregues á guarda do povo, do exercito e da alma nacional. Quem os arrancar ou mandar arrancar é o ultimo dos covardes vendido á Inglaterra.
Uma prolongada e fremente salva de palmas acolheu a leitura d'este protesto, simples e curto, mas d'uma eloquencia esmagadora e o cortejo patriotico voltou, como nos dias anteriores, a percorrer as ruas de Lisboa, gritando febrilmente o seu desejo de liberdade e a revolta contra a ignominia com que a nação fôra aviltada. O ministerio progressista já tinha sido substituido por um outro de feição regeneradora, sob a presidencia do sr. Antonio de Serpa e em que figuravam pela primeira vez o sr. João Arroyo na pasta da marinha,{40} João Franco na da fazenda e Vasco Guedes na da guerra. Um dos actos do novo governo, mal subiu ao poder, foi o de procurar reprimir todas as manifestações patrioticas inspiradas no ultimatum, mandando espadeirar dezenas de populares que na noite de 14 de janeiro desciam o Chiado desferindo as suas exclamações de odio á poderosa Albion. O inicio, como se vê, não podia ser mais promettedor de brutalidade e arbitrio.”
Entretanto, a norte organizara-se a Liga Patriotica do Norte sob a égide de Antero de Quental, também Alfredo Keil, compusera o hino A Portugueza, que mais tarde, com a Republica, seria o hino Nacional, para o qual o sr. Lopes de Mendonça escreveria os versos…; “faziam-se diariamente conferencias publicas de esclarecimento e de protesto; os nomes dos{41} mais illustres africanistas andavam em todas as boccas aureolados de ruidosa celebridade. Houve mesmo uma epoca em que o de Serpa Pinto se ligou á narrativa d'um incidente sul-africano com proporções de feito heroico. Foi quando a imprensa deu publicidade á carta que elle dirigira ao agente britannico Buchanan que o intimara a não avançar pelas terras dos makololos, collocados sob a protecção do governo inglez. N'essa carta dizia Serpa Pinto:
Se na verdade os makololos estão debaixo da protecção do governo inglez e por conseguinte lhe obedecem, estou certo de que a minha passagem será facil e segura, porque o governo inglez, representado por v. ex.ª, só me póde dar facilidades, sendo eu d'um paiz que sempre teve abertas, franca e lealmente, as portas das suas colonias ás expedições scientificas inglezas, prestando-lhes todo o auxilio e amparo; mas, em todo o caso, se é verdade o que v. ex.ª, me diz, peço-lhe que convença os makololos de que a minha expedição é pacifica e scientifica, que lhes diga que pertenço a uma nação amiga da Inglaterra e que, portanto, não perturbem a minha marcha, perturbação a que v. ex.ª, n'esse caso, não pode ser considerado extranho; e assegurando-lhe que não posso consentir que um chefe negro queira disputar-me a passagem, ou fazer-me o mais insignificante insulto, asseguro, além d'isso, a v. ex.ª, que, se na minha entrada no territorio makololo eu fôr atacado, tomarei immediatamente a offensiva e acabarei de uma vez com essa causa constante de perturbação n'esta parte do Chire.»

E n'outro paragrapho:

«Emquanto á intimação que v. ex.ª me faz de não continuar no meu caminho, peço licença para{42} lembrar a v. ex.ª que eu só recebo ordens do governo de sua magestade fidelissima, de quem as recebo directamente e, como não recebi ordem em contrario, continuarei, tenaz e pacificamente, a minha jornada, arvorando uma bandeira de paz e só de paz, mas prompto a repellir com energia quaesquer aggressões sem motivo que me possam ser feitas».”
Poderia até ter acontecido que Serpa Pinto poderia ter sido o leader deste movimento. No entanto, “ longe de conservar esse favor popular, tornando-se o proeminente defensor das reivindicações da grande massa, optou, em breve, pelo serviço incondicional á corôa e essa attitude divorciou-o completamente do nucleo democratico, que o encarara durante algum tempo como uma das esperanças mais promettedoras. E, divorciado, perdeu o prestigio. Quando morreu, dez annos mais tarde, estava em absoluto esquecido.”
Nas forças armadas a contestação também ia acontecendo e durante,
“Dois dias a fio, um cortejo composto exclusivamente{44} de marinheiros da armada appareceu n'alguns pontos de Lisboa, saudando enthusiasticamente a bandeira da patria e dando vivas á independencia nacional. O governo atemorisou-se com o facto e ameaçou os manifestantes de os encarcerar durante trinta dias. Ao mesmo tempo, a policia recebeu ordem de empregar maior violencia na dispersão dos grupos patrioticos. Uma coisa e outra, porém, não impediram que a onda de indignação se avolumasse e que frequentemente se produzissem incidentes demonstrando que o divorcio entre a nação e a dynastia se accentuava cada vez mais. N'um dos ultimos dias de janeiro, o Gremio Henriques Nogueira, tendo dirigido caloroso convite ao povo de Lisboa, organisou uma manifestação imponente que, em marcha correcta e digna pelas ruas da cidade, se dirigiu ás legações de França e Hespanha a agradecer á opinião dos dois paizes, a sympathia e a solidariedade moral dispensadas nas horas lutuosas da affronta ingleza. O gabinete regenerador, entretanto—muito embora todos os grupos politicos lhe tivessem offerecido apoio incondicional no respeitante á questão anglo-lusa—fazia dissolver o parlamento, collocando-se em verdadeira dictadura. O presidente do conselho, sr. Serpa Pimentel, e o ministro dos estrangeiros, o sr. Hintze Ribeiro, preparavam-se assim para negociar com a chancellaria britannica o accordo final, sanccionando a expoliação contida no ultimatum.
Em 11 de fevereiro, repetiram-se na capital, e com maior intensidade, as scenas de agitação popular que haviam caracterisado os primeiros dias do mez anterior. Motivou-as a prohibição d'um comicio no colyseu da rua da Palma, em que se deveria «accordar nos meios de se enviar uma mensagem de congratulação e agradecimento ao povo francez e hespanhol e de se apreciar o pensamento e a opportunidade da liga portugueza anti-britannica{45} como base dos trabalhos da federação dos povos latinos». Pouco antes, como corressem boatos de que o governo projectava dissolver a camara municipal de Lisboa, o presidente d'essa corporação, o sr. Fernando Palha, apressara-se a inquirir do chefe do governo os motivos de tão arbitraria resolução, tomando ao mesmo passo varias medidas tendentes a resistir-lhe caso ella fosse levada á pratica. O sr. Serpa Pimentel, apesar do decreto de dissolução já estar lavrado, receiou publical-o e respondeu ao sr. Fernando Palha que os boatos eram insubsistentes, calculando que, recuando n'essa altura da situação, poderia conjurar uma nova explosão de sentimentos patrioticos.
No dia 11, á tarde, quando o povo se encaminhava para o colyseu da rua da Palma a assistir ao comicio, verificou-se que o governo não só decidira obstar á sua realisação como á d'um cortejo organisado pelo Gremio Henriques Nogueira, que se propunha, n'esse mesmo dia, collocar uma corôa no monumento a Camões. A policia e a municipal que estacionavam nas immediações do colyseu tinham modos provocadores. O povo, porém, conservou-se tranquillo e só ás 3 horas, quando se convenceu em absoluto de que a ordem do governo era irrevogavel, é que formou um cortejo, acompanhando na retirada do local os oradores que deviam falar no comicio: Jacintho Nunes, Manuel de Arriaga, Consiglieri Pedroso e outros. Chegado esse cortejo ao Rocio, Manuel de Arriaga, no intuito de fazer dispersar a multidão, subiu a um banco e dando um viva á patria, disse:
—Povo: o governo sahiu da lei prohibindo a nossa reunião. Conservemo-nos dentro d'ella, protestando contra os que a violaram.
O sr. Jacintho Nunes tambem proferiu algumas palavras no mesmo sentido. O povo, enthusiasmado, applaudiu os dois oradores. Mas não foi preciso{46} mais para a policia iniciar as violencias e as prisões. As correrias dos guardas lançaram no recinto largos minutos de panico. Chamou-se ali, como reforço, um esquadrão de cavallaria. O povo recebeu-o com demonstrações de sympathia e os soldados desfilaram socegadamente, acompanhados dos vivas da multidão. Os primeiros presos foram Manuel de Arriaga e Jacintho Nunes. Depois a leva, comprehendendo uns 130 individuos, seguiu para o governo civil, d'onde, no dia immediato, foi mandada para bordo do India e do Vasco da Gama.
Assim que o facto constou na cidade, o commercio fechou meia porta e quasi todas as associações realisaram sessões de protesto. Reappareceram os incidentes tumultuosos, a população voltou a agitar-se, os jornaes democratas abriram subscripções em favor dos presos e, ás ameaças de novas e maiores violencias, o elemento popular respondeu approximando-se mais e mais dos vultos então em evidencia no partido republicano…”
Joffre Justino
(Presidente da Academia de Estudos Laicos e Republicanos, e Director Pedagógico da EPAR, Escola Profissional Almirante Reis)
publicado por JoffreJustino às 11:32
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Sexta-feira, 14 de Agosto de 2009

Um texto da minha Amiga Clementina Henriques

Olá Joffre
Lembra-se de mim? Leio normalmente os seus comentários que acho muito bem escritos e expressivos de um certo modo de ver muito convicto, proprio de pessoas que tem uma ideologia.

Respeito imenso pessoas pessoas como o Joffre que com determinação defende aquilo em que acredita e justamenete por isso me permito perguntar-lhe :

Acredita mesmo, quando escreve "De facto, sendo Portugal por origem uma economia frágil e aberta, fortemente dependente do exterior na sua actividade económica, seria de esperar que a crise batesse duro à nossa porta. Tal não tem sucedido dado o empenho do governo e o sentimento de Responsabilidade Social de muitas empresas e empresários e, claro, dada a forte agressividade comercial destes empresários e o empenho dos trabalhadores na actividade económica" que a governação Socrates é imune! Acha que a economia real, aquela que gera riqueza, contribui para o PIB, para a BT, cria emprego, etc, etc, etc, não tem sido submersa pelas actuais politicas?
Acredito na democracia e aprendi a respaitar as pessoas mesmo que pensem de modo diferente de mim. É assim que, a meu ver, se aprende. Bom é que discordem de nós, mau é quando nos ignoram.

Com todo o respeito

Clementina Henriques
publicado por JoffreJustino às 14:22
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(2) Enquanto Republicano e Laico…

Estamos pois na madrugada de 31 de Janeiro de 1891, no Porto. O Ultimatum britânico a Portugal, a cedência vergonhosa do rei, Carlos, e do seu governo às exigências do Império britânico, a 1ª demonstração da falência do Império português, tinham já feito explodir Lisboa e até pelos Algarves se falou em Revolução, segundo João Chagas que foi até lá ver o que se passava quanto ao descontentamento popular, face a uma monarquia de vergava perante uma corte estrangeira.

Nesta madrugada, o batalhão de Caçadores nº9, liderada pelos seus sargentos, o tentente Malheiro e o Regimento de Infantaria 18, o tenente Coelho e o Regimento de Infantaria 10, e ainda uma companhia da Guiarda Fiscal, e, em frente ao antigo edifício da Câmara Municipal do Porto, ouvem o seu leader, Alves da Veiga, a declarar a implantação da Republica.

Nasce aí a raiz da actual Bandeira Portuguesa, pois é hasteada pela primeira vez uma Bandeira verde e vermelha, sendo, mais uma vez, cantada a Portuguesa, o Hino que será, depois do 5 de Outubro de 1910, o Hino do país, pois transformara-se no Hino mais cantado e divulgado em Portugal, na sua revolta anti britânica.

O 31 de Janeiro de 1891, foi uma revolta contestada, mesmo por entre os Republicanos, duvidosos quanto à eficácia da mesma, e duvidosos quanto á sua liderança, mas foi o despoletar de uma decisão – a de que a Monarquia tinha de cair, por todos os meios.

Movimento militar foi também civil pois a Declaração da Implantação da Republica foi acompanhada por uma significativa multidão, tendo morrido, pelo ataque violento de que foram alvo os revoltosos, nunca menos de 12 pessoas e tendo ficado feridas nunca menos de 40.

De facto, mesmo que rapidamente derrotado, este 31 de Janeiro transformou-se rapidamente num símbolo do que iria acontecer tarde ou cedo. E, como diz Oliveira Martins, “O Porto foi e ainda é a capital do pensamento democrático português.
O Porto foi o foco donde todos os movimentos restauradores da nossa sociedade partiram;…
…Foi assim em 1820, para expulsar os ingleses e obrigar a corte a voltar a Portugal.
Foi assim em 1826 para proclamar a Carta Constitucional.
Foi assim em 1833-34 quando se expulsou D. Miguel.
…Será assim em 188…quando se puser termo à ditadura de miséria que a nossa fraqueza tolera e que vive apenas pela nossa inércia”, terminando com esta frase premonitória Oliveira Martins este texto.

Regressando à Bandeira, a mesma, a aposta na Câmara Municipal do Porto, era a Bandeira do Centro Federal do Porto e de raiz maçónica e pretendia acentuar a raiz republicana do Movimento também dadas as características deste Centro, bem activo, ao contrário do que hoje vai sucedendo, pois, infelizmente, os actuais Centros Republicanos, uns não existem na prática, outros mantêm-se com dificuldade e outros, como se viu recentemente, com o histórico Centro Botto Machado, servem para vinganças pessoais e para campanhas partidárias anti PS…

Note-se que os Republicanos que lideraram este Movimento eram municipalistas, daí as Declarações, a do Porto e depois a de Lisboa, serem feitas nas varandas das respectivas Câmaras Municipais, ( e diga-se que em geral era uma Visão de todos os Republicanos), mas também Federalistas e Ibéricos….resultado sem dúvida da forma como eram vistas as cortes portuguesas e espanholas pelos respectivos Republicanos e restantes oposicionistas de então…

Foi assim que nasceu a Bandeira Republicana, verde e vermelha, e que é, agora a Bandeira de Portugal, gostem os monárquicos ou não, como é também a Bandeira do Município, aquela que os do “31 da Armada” roubaram.

Dói-lhes ter sido mudada a Bandeira? Dói-lhes ter acabado a Monarquia? Seria bom que assumissem, antes do mais, que foi a própria Monarquia quem criou as condições, afectivas, sociais, culturais, para que em Portugal se implantasse a República.

O que não fazem. Nunca fizeram…orgulhos balofos, humildades inexistentes.



Joffre Justino
(Presidente da Academia de Estudos Laicos e Republicanos; Director Pedagógico da EPAR, Escola Profissional Almirante Reis)
publicado por JoffreJustino às 13:16
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Quinta-feira, 13 de Agosto de 2009

Enquanto Republicano e Laico…

Sou presidente da Academia de Estudos Laicos e Republicanos e sou director pedagógico da EPAR Escola Profissional Almirante Reis.

Como cidadão não deixei de me divertir ao ler que o sr Duarte Nuno, assumido enquanto duque de Bragança e enquanto candidato ao trono de Portugal, acha que o sucedido na Câmara Municipal de Lisboa foi “uma irreverência própria da juventude…”. Chamaria a tal dor de cotovelo…

Já enquanto presidente da Academia de Estudos Laicos e Republicanos e director pedagógico da EPAR Escola Profissional Almirante Reis e sabendo que nos encontramos em cima do centenário da 1ª Câmara Municipal Republicana e da Republica Portuguesa, entendi que deveria participar no debate gerado pelos “31 da Armada”, recordando um pouco de História do Portugal quando era ainda Império…

Claro que é duvidoso que os do “31 da Armada”, sejam ou não irreverentes, conheçam estas parcelas da História e que vou passar a relatar, citando um texto de F. Keil do Amaral, “Histórias à Margem de Um Século de História”, (Seara Nova 1970), onde o autor recorda, por via da sua família, aspectos vários das Lutas Liberais em Portugal, não poucas delas contra uma decadente Monarquia.

Assim, e começando por recordar o Ultimatum Britânico a Portugal,

“É pouco conhecida a nota do Governo inglês, causa directa desse abalo. E lida agora, a 74 anos de distância,…Desintegrada das circunstâncias que lhe conferiam carácter vexatório e nos colocavam numa situação dramática, ressalta a mediocridade do fraseado, a desproporção entre uma prosa banal e o seu terrível alcance: “O que o Governo de Sua Majestade deseja e em que insiste é no seguinte : Que se enviem ao Governador de Moçambique instrucções telegráphicas immediatas, para que todas e quaisquer forças militares portuguezas, actualmente no Chire e nos paízes makololos e machonas se retirem. O Governo de Sua Majestade entende que, sem isto, as seguranças dadas pelo Governo Português são illusórias.
Mr Petre ver-se-há obrigado, à vista das suas instrucções, a deixar Lisboa com todos os seus membros da sua legação, se uma resposta satisfatória não for por elle recebida esta tarde; e o navio de Sua Majestade Enchantress está em Vigo esperando as suas ordens.
Legação britânica, 11 de Janeiro de 1890”

F. Keil do Amaral recorda que em Lisboa esta carta gerou o fim do mundo…”Mas o Conselho de Estado, presidido por D. Carlos, e o Ministério, abdicaram pouco depois de qualquer atitude viril e cederam sem brio às imposições estrangeiras”

E, citando Basilio Telles, “O ultimatum, a sessão agitada do Conselho d’Estado, a resolução tomada por esta corporação e o ministério, divulgaram-se com a rapidez do relâmpago…O effeito foi prodigioso. N’um relance magotes movediços e frementes manchavam o pavimento das ruas e praças; os cafés da Baixa, repletos, estavam em ardente ebulição; as vociferações, os protestos, as injurias…entraram a cahir como granizo…O rei e os “cobardes” que tinham subscrito as exigências do gabinete de Inglaterra eram, litteralmente, esfarrapados n’estes primeiros golpes de língua…”.

Guerra Junqueiro escreveria também, “Eu rei de Portugal, súbdito ingles, declaro que à nobre imperatriz das Indias e ao preclaro Lord Salisbury entrego os restos duma herança que d’um povo ficou à casa de Bragança, dando-me em volta, a mim e ao príncepe da beira a deshonra, a abjeção, o trono…e a Jarreteira”.

Nasceu então, pelas mãos de Keil do Amaral, avô, e de Henrique Lopes de Mendonça, compositor e poeta, nesta exaltação anti imperialista britânica, a Portugueza, ainda com o texto onde se podia ler – contra os bretões marchar marchar!

Mas este relato fá-lo-ei em outro texto!

No entretanto fica, aqui, relatado e bem, essencialmente por F. Keil do Amaral, as raízes da revolta que conduziram ao assassinato de d. Carlos, rei, e pouco depois, à implantação da República!

Fiquem pois os do “31 da Armada” com a bandeira da Câmara Municipal de Lisboa, pois, nós, Republicanos ficamos com a certeza de que, na Câmara já não presidem dos que se agacham aos poderes imperiais dos britânicos.




Joffre Justino
publicado por JoffreJustino às 16:18
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Quarta-feira, 12 de Agosto de 2009

…Tempos Dolorosos Deveriam Exigir Solidariedades Alargadas! Onde anda a Responsabilidade Social, onde anda a Banca?

O DN de ontem avança com um quadro dramático do crescimento do Desemprego na União Europeia e que abaixo relato. No mesmo Portugal surge, felizmente, somente a meio da Tabela, com 9,8% de Desempregados na previsão para 2010 para 16% de desempregados na neoliberal/tipo Manuela Ferreira Leite Irlanda…
Hoje outro Jornal, o Publico, anuncia que o nº de Desempregados Desprotegidos está já nos 138 000.

O que são desempregados Desprotegidos? São as Pessoas que foram colocadas no Desemprego sem terem descontos iguais ou superiores a 450 dias de descontos para o subsidio de desemprego, ou a 180 dias para o subsidio social de desemprego.

Não posso deixar de relevar que o facto de estarmos com uma taxa de desemprego na média da União Europeia tal sucede porque muitas empresas e empresários têm a noção da Responsabilidade Social bem presente e por isso se coíbem de avançar com despedimentos apesar de sentirem na actividade desenvolvida – a crise!

De facto, sendo Portugal por origem uma economia frágil e aberta, fortemente dependente do exterior na sua actividade económica, seria de esperar que a crise batesse duro à nossa porta. Tal não tem sucedido dado o empenho do governo e o sentimento de Responsabilidade Social de muitas empresas e empresários e, claro, dada a forte agressividade comercial destes empresários e o empenho dos trabalhadores na actividade económica.

E não falo “de cátedra” pois na cooperativa de ensino onde estou sinto bem toda esta realidade que acima descrevo.

No entanto, não é difícil descrever os inúmeros casos de explicitação total de irresponsabilidade social de muitas empresas e empresários, os tais neo liberais, os que se revêem no PSD da sra Manuela Ferreira Leite, no CDS do sr Paulo Portas, (ambos do governo que provocou a componente portuguesa da crise ora vivida em Portugal), e que no primeiro momento, sem razão para tal, despedem indiscriminadamente, os que com eles trabalham.

Como não é difícil descrever casos surgidos na Banca Portuguesa, ainda por cima protegida pelo Estado e demonstrando lucros bem apetitosos, nada comparados com a crise europeia, no seu sector, que mostram como este sector em nada conhece o risco, na sua relação com as empresas, cometendo entretanto um grave erro…

A “bolha” que tende a rebentar no sector do Imobiliário em Portugal também. Atrasada, por razões internas, mas crescentemente visível nas casas com anúncios e que ninguém toca, quer para alugar, quer para vender.

E porque tende a rebentar? Porque a Banca não entende que se “não abrir os cordões à bolsa”, para as empresas, por forma a que estas sustentem o emprego em níveis aceitáveis, o que sucederá é a explosão do crédito mal parado das famílias, com o aumento do desemprego, e, daí à crise na banca, vai um muito pequenino passo!

Pequenino passo que gerará uma segunda crise, interna.

Grave.

Lamento mas não vou em cantigas de académicos, “à Louçã”, ( de direita ou de esquerda), pois conheço o terreno que piso na economia de mercado, (vivo nela), mesmo que mais sustentadamente que o que vivem muitos dos restantes empresários em Portugal.

O país foi deixado em crise, pela sra Manuela Ferreira Guedes, o sr Santana Lopes e o sr Durão Barroso. O país foi deixado com um tecido empresarial frágil, bem frágil, apesar dos financiamentos comunitários, malparados, pelo sr Cavaco Silva e também pelo sr António Guterres. O país foi posto em rota de recuperação por José Socrates, eis a verdade.

Por vias difíceis mas necessárias. É claro que a Oposição, em parte porque está envolvida nos erros do passado que há que escamotear e em parte porque há que aproveitar a onda da crise para culpabilizar a esquerda democrática e afastá-la do eleitorado, tudo fez não para salvar o país, o que devia fazer dada a crise, mas para o anular.

Daí que se tenha assistido a cenas do mais profundo reaccionarismo, como a que se viu liderada pelos sr Francisco Aancleto Louçã e o sr Bernardino Soares, que conduziu ao afastamento de Manuel Pinho.

Note-se, sou socialista, mas nem defendi a candidatura de José Socrates a secretário geral, pois apoiei João Soares. Foi a sua governação que me convenceu. E que me convence ainda hoje.

Mesmo com os bretões a atacar, a verdade é que a sra Moura Guedes, a horribilis, e os amigos tipo Anacleto Louçã, nem sequer conseguiram provar nada, nem no Freeport, nem em nenhum outro caso.

No entanto esta guerrilha serviu para dividir o país, para o fragilizar no meio de uma crise, para afastar da vida politica, para a abstenção, uma fortíssima percentagem de Cidadãos e Cidadãs, única razão pela qual o PSD, que ainda assim perdeu votos para o CDS, com o apoio do Publico e da restante comunicação social de direita, pôde aparecer como ganhador de algo que ninguém ganhou.

Nada mais.

Mas o suficiente para alimentar a guerrilha que vivemos em cada página de certos jornais e em cada telejornal. Dia após dia desmentidos, como o mostrado com a “crise da Prisa” que, coitadinha, socialista que era, andou anos a aturar a Moura Guedes com uma paciência de Jó…para agora vermos a faca a espetar-se no peito da Impresa….do nº1 do PSD….por gente…do PSD!

No entanto temos todos de viver e para o fazermos temos todos de entender que ninguém ganha com o fechar os olhos à crise vivida e olharmos somente para o nosso umbigo.

Urge a Solidariedade e esta não pode ser dada somente pelo Estado, falido que foi deixado, pelos que hoje se assumem tão santamente….pois este governo conseguiu o impensável – não estarmos ao nível da Islândia, nem ao nível da Irlanda!

Onde anda então a Banca? Que Responsabilidade Social demonstra?

Como nos vai ajudar, ajudando-se, a superar as duas crises, a interna, herdada de Durão Barroso/Manuela Ferreira Leite e a externa, importada, e da terceira que se arrisca a surgir?

Cabe à Banca Responder. Com mais Responsabilidade e com um pouco mais de Risco!


Joffre Justino
publicado por JoffreJustino às 11:53
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