Terça-feira, 27 de Maio de 2008

O Maio 68 e John Locke

"É por isso que se o rei demonstrar

ódio não só contra certas pessoas

em particular, mas contra o corpo

inteiro da comunidade política da

qual ele é chefe, e se maltratar de

forma intolerável e cruelmente

tiranizar o conjunto dos seus súbditos

ou um número considerável deles,

nesse caso o povo tem o direito de

resistir e de se defender da injúria;

mas sujeito a esta condição, que se

limitará a defender-se, mas não atacará

o seu príncipe"

(in John Locke, Da Dissolução do Governo,

Segundo Tratado, Dois Tratados do

Governo Civil, pág. 385, Ed. 70,

Outubro 2006)







Nota de Abertura



Temos visto surgirem, por aí, (como alguém já o disse), textos vários, como o de JC Espada, analisando negativamente o impacto do Maio de 68, baseando-se em textos filosóficos de clássicos do Liberalismo político.



Por isso achei divertido ir a John Locke, um clássico do Liberalismo, 1632/1704 e, da sua obra, começar por retirar a citação acima, que o autor imputa a um tal Barclay, "esse grande campeão do poder dos reis e do seu carácter sagrado", (pág. 383), para iniciar esta minha segunda volta através dos Mitos do Maio 68.



Note-se que John Locke terá sido, enquanto Liberal que foi, um revolucionário sui generis já que sendo herdeiro de uma tradição republicana e cromweliana, conviveu bem com o rei Carlos II até se revelar como evidente a ascensão do "assumidamente católico duque de Iorque ao trono", (pág. IX, Introdução ao livro citado), altura em que, tendo visto o seu patrono ser afastado do cargo que tinha, Lord Chancellor, se viu forçado a exilar-se para a Holanda e lá ter assumido um empenhamento político activo.



Sendo revolucionário, porque era Liberal, foi, sobretudo, segundo o autor da Introdução deste livro, alguém que percebeu que a Revolução de 1688, (onde ele participou activamente, enquanto intelectual claro), era "um claro triunfo da liberdade sobre a tirania, e, portanto, claramente benéfica,…" ainda que tenha representado também, "uma "oportunidade" perdida", ( citações de pág. XI).



Na verdade, John Locke foi um combatente intelectual e por isso se opôs a teorias vivenciadas e dominantes na sua época, com a sua visão o Liberalismo, que, nesse combate se foi reforçando. Como é referido na já citada Introdução, "Locke permite-nos perceber que a teoria política liberal se estruturou na consciência de que tinha rivais, de que havia alternativas muito sérias à sua proposta de organização da vida política e moral", (in Introdução à obra citada, pág. XIII).



Enfim, os Liberais combateram, e foram, contra os monárquicos absolutistas e autoritários, revolucionários sendo que, contra eles, reflectiram sobre uma forma de organizar a vida, as pessoas, o mundo, alternativa.









O Maio de 68



Cohen Bendit farta-se de acentuar, em múltiplas declarações que tem vindo a fazer, que para a geração em que ele foi um dos leaderes, para o Maio de 68 enfim, a revolução feita por jovens estudantes, não tinha como objectivo a tomada do Poder. O próprio Krivine, trotskista "nascido" com o Maio de 68 e ainda hoje leader trotskista francês, releva essa realidade relatando as manifestações que passavam ao lado da Assembleia Nacional Francesa, protegida por um ou dois polícias, sem se preocuparem em a "tomar" como sucedeu em Portugal em 1975….(não sei bem se JC Espada esteve nessa "tomada da Bastilha", eu não, estava do outro lado da barricada, mas, na época suponho que JC Espada terá defendido essa "tomada da Bastilha", enquanto acto revolucionariamente essencial…).



O Maio de 68 foi pois uma revolução onde os revolucionários se preocuparam sobretudo com a revolução das mentalidades. Assim, os estudantes ocuparam os espaços de saber, fizeram da rua espaços de debate, mais que de barricadas, associaram-se aos operários em nome da Igualdade e da Justiça, levantaram nos espaços de debate temas então tabu, como o sexo, a igualdade de género e o direito dos povos à autodeterminação.



E quando De Gaulle defendeu o Poder, com um referendo, (perdidas as tentativas expressamente repressivas), os dirigentes desta revolução específica – foram para a praia!



Por isso entendi que a citação mais adequada a fazer, para introduzir este texto, era a citação que Locke fez de um absolutista, a que acima refiro, pois nela fica patente a evidente necessidade da relação, em qualquer regime, entre o poder e o povo, assim como o direito de revolta por parte deste ultimo.



Trotskistas, maoístas, internacional situacionistas, anarquistas, até socialistas e comunistas pró soviéticos, todos procuraram tirar vantagem desta Revolução, uns com boas e outros com más intenções, em todos os campos ideológicos acima referidos.



Mas, na verdade, o que os estudantes e os seus leaderes fizeram foi seguir o conselho de Barclay perante um governo que os desprezava e amesquinhava – revoltaram-se.



Atacaram o príncipe? Sim, claro, na rua, e nas áreas que sentiam a opressão. Mataram o príncipe? Não, deixaram-no a gemer nos corredores do poder e a ter que se adaptar a este novo mundo que entrava pelas portas a dentro das Famílias, das Escolas, das Empresas, dos Sindicatos e dos Partidos Políticos e que, inexoravelmente varria as antigas concepções, formalmente obrigatórias, para os caixotes dos lixo de cada uma das Famílias que nas suas casas, espaços organizacionais, se confrontavam com o seu Maio 68.



Enfim, sinto que posso garantir que John Locke estaria ao lado de Cohen Bendit naquele ano de 68. Excepto no que se refere à passagem ao lado do poder…



A Insurreição



De qualquer forma o Maio de 68 foi uma das componentes de um movimento à escala internacional, de mudança, radical muitas vezes, perdedora no momento a maior parte das vezes, e, também na maior parte das suas componentes, preocupada com o Poder.



Talvez por isso, por não se terem preocupado com o poder, que o Maio 68 e o Movimento Hippie sejam duas das componentes desse movimento que se assumiram ganhadoras, enquanto que as restantes, não tenham podido dizer o mesmo, como sucedeu com o vivido na ocupação checa pelos tanques soviéticos, e vietnamita pelos marines americanos.



Nestes dois casos John Locke não se coíbe de assumir que, perante uma ocupação estrangeira a exigência dissolução do governo é sem dúvida natural.



Mas esqueçamos estes casos extremos e vejamos outros mais complexos. Enfim quando, "…o príncipe inibe a legislatura de se reunir no devido tempo ou de agir livremente na prossecução dos fins em vista dos quais foi constituída", ou ainda quando "…o detentor do poder executivo supremo negligencia e abandona essa tarefa ao ponto da execução das leis existentes se tornar impossível", (obra citada pág. 373 e pág. 375), Jonh Locke entende inevitável ou certa a ideia da dissolução do governo.



Ora quando não se dá a renovação das elites no poder a tendência é a sustentação de uma situação de crescente impasse entre a forma como o poder vê a sociedade e o povo e a forma com esta e este evolui no seu dia a dia.



Foi o que sucedeu no Maio de 68, em França e um pouco por toda a parte. Os poderes patriarcais múltiplos de então inibiam, com a força da sua influencia, da sua autoridade, da repressão, da corrupção, a actividade das legislaturas em favor do povo.



E uma parte deste revoltou-se.



Ora, como diz John Locke, "Neste como noutros casos semelhantes em que o governo é dissolvido, o povo tem a liberdade de cuidar de si mesmo instaurando um novo poder legislativo, diferente do anterior no que diz respeito aos seus titulares, à forma ou ambas as coisas em simultâneo, segundo o que lhe parecer melhor para garantir a sua segurança e o seu bem.", (pág. 375).



E assim foi o Maio de 68.



Poder-se-ia dizer mais, mas por ora chega….





Joffre Justino
publicado por JoffreJustino às 09:24
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Terça-feira, 20 de Maio de 2008

Um texto de João Belchior Nunes sobre o caso Geldorf

Não li nem ouvi a conferência que o Senhor Geldorf proferiu em Lisboa. Estava no Médio Oriente e quando cheguei a Lisboa, já só apanhei os cacos da conferência. Não sei quanto custou a dita conferência e ignoro quanto é que o Senhor Geldorf cobrou, a título de honorários, pela sua apresentação. Se cobrou caro, começo por pôr em dúvida a bondade da sua intervenção a não ser que me demonstrem que das suas receitas, uma parte significativa vai para doações a populações carenciadas do planeta..



Sei que o Senhor Geldorf é um estudioso e profundo conhecedor dos problemas de África e não me espantou que tivesse utilizado uma linguagem agressiva em relação ao poder e classes dominantes nos mais diversos países pobres do Mundo. Se o fez em relação a Angola, fê-lo certamente com conhecimento de causa e porque sabe que a força das palavras é uma forma de chamar à atenção para os problemas. Contudo, esse comportamento das classes dominantes, nos países pobres, só é mais notório porque a incorrecta distribuição da riqueza, deixa uma parte significativa da população na miséria. Isto é, por outras palavras a incorrecta distribuição da riqueza também acontece nas sociedades dos países mais ou menos ricos e também entre estes e os países pobres.



Tudo isto é uma questão de patamar onde cada um se encontra e de educação. A qualidade das classes dominantes e dos políticos que acabam por, em larga maioria, mais tarde ou mais cedo, pensarem e agirem como parte da classe dominante, depende da qualidade da educação existente no país e que se reflecte na sociedade nacional como um todo.



Não sou ingénuo e como tal reconheço que não existem sociedades perfeitas. Contudo vejo que os países nórdicos conseguiram criar sociedades com um nível superior de qualidade. Considerar a sociedade americana como um exemplo a copiar é um erro. Na Europa temos melhor.



Para explicar melhor o meu raciocínio, vou repetir algo que já disse e escrevi, no passado, quando alguém critica o que se passa em Angola ou na Nigéria, países africanos ricos em petróleo: - Façamos um pouco de esforço e imaginemos o que aconteceria na sociedade portuguesa actual se de um momento para o outro Portugal passasse a produzir, diariamente, dois milhões de barris de petróleo. Não acredito que acontecesse algo semelhante ao que acontece em Angola ou na Nigéria mas também estou certo que ficaríamos muito aquém do que acontece na Noruega.



Conheço muito bem Angola, país onde me desloquei mais de cem vezes ao longo de vinte e três anos e onde conheci muita gente e tenho alguns amigos, alguns deles fazem parte dessa classe dominante que censuro e que gostaria que pudesse mudar rapidamente. Não obstante, as mentalidades que definem o comportamento gerado pelas estruturas sociais do subdesenvolvimento só muito lentamente se modificarão, independentemente de sabermos que hoje tudo se passa muito rapidamente.



Em patamares de desenvolvimento diferentes e com outros envolvimentos e roupagens, acabamos por encontrar, no mundo desenvolvido, comportamentos não muito diferentes dos de África. A diferença mais notória é que, na África, esses comportamentos geram miséria e fome e nos países desenvolvidos do hemisfério norte, gera má distribuição da riqueza, pobreza e exclusão, algo menos chocante do que a miséria, a fome e a doença que predomina, principalmente, em muitos países da África e da Ásia.



Para acabar, lembro-me, a título de exemplo, que há dias ao passar por uma pobre aldeia da Síria, vi dois autênticos palácios que me foram identificados como propriedade da família Menem, ex Presidente da Argentina, de ascendência síria.”





João Belchior Nunes
publicado por JoffreJustino às 12:36
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Quarta-feira, 14 de Maio de 2008

O Corporativismo Profissional – Uma Nova Forma de Campanha Eleitoral?

Assinado por um tal Ramiro Marques surgiu na Internet, o espaço de todos os possíveis, mais um ataque cerrado ao Partido Socialista, subordinado ao lema – vota à direita ou à esquerda! Não votes PS!



Surge esta campanha enquanto apelo corporativista puro, enquanto defesa dos “interesses” de uma profissão, enquanto “vingança” dessa profissão perante as medidas do governo socialista no sentido da reconfiguração da mesma profissão, no Ensino Público.



O argumento é simples – se o PS não tivesse tido maioria absoluta não teria tido coragem de se confrontar com os professores, ou, se o tivesse tido, teria sido manietado pelas posições dos outros partidos políticos.



Não deixa de ser importante recordar a campanha das Farmácias e da sua ordem, ao tempo do PS liderado por Ferro Rodrigues, pois também na altura não houve farmácia que não se enchesse de folhetos contra o PS…trata-se pois de um déjà vu esta campanha dos “professores”.



Pretende o autor desta campanha, com a mesma, fazer com que o PS perca o 1% dos votos que lhe deu a Maioria Absoluta com que hoje governa, já que os professores significariam 3% do eleitorado…



Pudicamente entende que os “professores” podem votar à Direita, ou à Esquerda, o que não devem é votar PS.



Já estou a imaginar o que mais aí vem de campanha todas na mesma linha…



No entanto, o conteúdo, neutro, apolítico, da campanha de Ramiro Marques, não esconde o quão de reaccionário existe na sua campanha. Na verdade, o Chile de Pinochet nasceu de uma também “pudica” campanha em favor das classes médias, desfavorecidas perante o privilégio que Allende estaria a dar aos trabalhadores…



Trata-se de uma campanha que escamoteia várias realidades e que vale a pena acentuar aqui.



A primeira dessas realidades reside num facto demográfico – os e as portuguesas estão a cometer o grave erro de se suicidarem colectivamente, já que estamos com menos de 1,4 crianças por casal.



Esta realidade é a que na verdade mais afecta os professores enquanto profissão. As Escolas, Públicas e Privadas, vivem da existência de crianças, pelo que esta tendência para a redução dos filhos por casal é o que, acima de tudo, está a afectar os professores, pois reduz os postos de trabalho potenciais desta profissão.



Trata-se de uma tendência que tem vindo, curiosamente, a suceder desde inícios da década de 70, e que nem a entrada no contexto deste Portugal pós 25 de Abril, continental europeu, somente, dos chamados “retornados”, travou.



Mas, curiosamente, foi o PS, e divertidamente, foi este PS liderado por Sócrates, quem procurou soluções precisamente para os professores, ao abrir a oportunidade de Cursos Profissionalizantes nas Escolas Públicas, perante o nº crescente de professores com horário 0 nas mesmas escolas….



Não fora esta oportunidade e o nº de professores com horário 0 seria escandaloso em Portugal.



Verdade verdadinha, diga-se, durante décadas, 2 a caminho de 3, nenhum governo, se preocupou efectivamente com esta grave tendência para o suicídio de um Povo, o seu, o português. Pelo que não se pode culpar este governo em concreto.



E, mais importante ainda, pode-se dizer que a actual classe média portuguesa se tem mantido sobretudo à custa da redução dos filhos por casal. O apartamento que compra, o carro que troca, o aparelho electrodoméstico que adquire, é um filho a menos que o casal tem.



Pelo que o tema em si, se pode relacionar com a construção “moderna” deste Portugal “moderno”…



E, curiosamente, nenhuma estrutura agregadora de professores procurou, até hoje, reflectir sobre este assunto. Nem as escolas públicas, nem as privadas, nem os Sindicatos, nem as Associações Empresariais do sector.



Diga-se ainda que as medidas, tímidas, iniciadas ao tempo do Governo de Guterres, incentivando o surgimento de creches a preços mais baratos, ou as medidas legais de apoio à parentalidade, e continuadas neste Governo de Sócrates, são evidentemente insuficientes.



Mas foram feitas por dois Governos Socialistas.



O problema tem estado, sobretudo, na classe alta portuguesa, geradora de actividades económicas pouco criadoras de emprego estável e bem remunerado, base central de uma economia sustentadora de uma demografia capaz de sustentar o País, no longo prazo.



E tal tem sucedido, penso, porque a classe Portuguesa tem estado desconfiada quanto ao seu país, quanto ao seu potencial de sustentação…



Mas deixemos este tema para outra oportunidade….



A segunda realidade a analisar reside na inexistências de medidas, suficientes, promotoras da Qualificação das Pessoas em Portugal.



O Conhecimento, em Portugal, não tem infelizmente, significado. Durante décadas, desde 28 de Maio de 1926 até bem próximo de nós, a Qualificação das Pessoas foi tratada como um luxo a adquirir pelas Pessoas, tal qual um electrodoméstico.



Mais ainda, estando generalizadas, em Portugal, as baixas qualificações, em todas as camadas sociais, o desinteresse pelo Conhecimento é patente no nº de livros, revistas, etc, por leitor, no país, no nº de idas ao cinema, ao teatro, a espectáculos, etc., acentuados que estão, claro, pelos generalizados baixos rendimentos.



Curiosamente, mais uma vez, coube a este Governo apresentar, pela primeira vez, um Programa que efectivamente apresenta medidas capazes de incentivar a Qualificação, escolar e profissional, das Pessoas - o QREN, Quadro de Referencia Estratégico Nacional.



Será no contexto do QREN que encontraremos as medidas capazes de valorizar o Conhecimento, de incentivar a Qualificação, e, sem dúvida, de estabilizar Postos de Trabalho centrados no Conhecimento e geradores de Conhecimento.



De Postos de Trabalho para Professores, sem dúvida.



Neste campo, tenho sido bastante activo, quer no contexto profissional, (sou director de uma Escola Profissional, a EPAR, Escola Profissional Almirante Reis), quer no contexto associativo, pois sou fundador e dirigente da APEAFOP, Associação Portuguesa das Entidades Acreditadas de Formação Profissional.



Ora urge sim incentivar este Governo, pela positiva a assumir, corajosamente, algumas medidas, e cito somente algumas,



O custo da actividade da divulgação do Conhecimento, da dupla Certificação das Pessoas, escolar e profissional, não pode manter-se ao nível da esmola, se pretendemos Qualidade. Assim, urge alterar a tendência que conduziu ao custo hora formando de 900 escudos, 3,5 euros, em 1986, para os 355 escudos, 1,7 euros, hoje 2008, ainda, e que tão fortemente afecta a Qualificação, em Conhecimento acumulado, das entidades formadoras e dos formadores, já que somos o único sector de actividade onde se reduziu tão drasticamente note-se, o potencial de Receita, (já não falo de lucros…).
Urge também encontrar um Modelo funcional para o cumprimento efectivo da cláusula da formação do Código do Trabalho, o que até hoje não tem sucedido
É essencial que o Estado Português entenda enquanto Parceiros privilegiados para a dupla Certificação, escolar e profissional, também as entidades privadas de formação profissional, o que tem tendido a não suceder
Urge ainda o alargamento rápido do Catálogo Nacional de Qualificações e dos referenciais de formação, potenciadores da dupla Certificação, no contexto da Agencia Nacional para a Qualificação, ANQ, permitindo que a Formação Modular Certificada e a Educação e Formação de Adultos correspondam a um nº mais alargado de Profissões
Urge alargar a Formação Contínua de Professores a todas as entidades formadoras existentes por forma a não manter enquistada e fechada em si toda uma classe profissional, os Professores, que hoje, neste contexto, se formam uns aos outros, fechando-se ao resto da realidade
Urge alterar radicalmente a estrutura e a funcionalidade do Conselho Nacional da Educação, sobretudo tendo em conta que nos devemos recentrar na Qualificação escolar e profissional
Urge encontrar um modelo de financiamento mais eficaz para a Região de Lisboa e Vale do Tejo


A terceira realidade é a realidade da Mudança que “apanhou” a Profissão Professor.



Estamos num tempo novo. O Conhecimento já não se transmite somente na clássica sala de aula, centrada no Professor. O Conhecimento espalha-se por múltiplas vias sendo que a profissão de Professor exige novas abordagens, tal qual acontece com a generalidade das profissões existentes.



O que implica uma reestruturação das suas Carreiras Profissionais, da sua evolução na carreira profissional, da demonstração do seu desempenho profissional.



E é neste campo que surgem as contestações dos “professores”. Por ora não vou discutir uma a uma os temas geradores de contestação.



O que Ramiro Marques está a fazer, é partidarizar a temática.



Só por si, está, com esta sugestão, a envenenar as relações dos Professores com qualquer coisa entre 35% e 45% dos cidadãos adultos de Portugal.



Trata-se portanto de uma via negativa, instabilizadora das relações dos Professores com os Encarregados de Educação, parte da Escola actual, parte de um dos instrumentos de promoção do Conhecimento.



Só por isso é uma péssima via esta que Ramiro Marques sugere aos Professores. Veremos mais tarde as restantes implicações negativas desta “campanha”.





Joffre Justino
publicado por JoffreJustino às 11:41
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Terça-feira, 13 de Maio de 2008

Geldof, o Desenvolvimento Sustentável e a Economia Angolana

O sistema colonial português criou em Angola uma economia que não se sustentava em 2 produtos – o petróleo e os diamantes – bem pelo contrário, Angola exportava inclusivamente mandioca, tinha um tecido industrial florescente, uma Agricultura estável, uma actividade de Serviços em franco crescimento e uma Pecuária riquíssima e estavelmente aproveitada, para além da actividade mineira.

O sistema colonial português introduzira na economia formal uma percentagem altamente significativa da economia informal africana, com estruturas, familiares a maior parte delas, dirigidas por mestiços e negros Angolanos, recuperando, na década de 60 do século XX a inserção das elites negras, mestiças e brancas africanas, no modelo económico e social dominante, o que tinha sido anulado pelo modelo corporativista de Salazar que tudo fizera para anular a influencia, dominante quase, dos Angolenses na economia e na sociedade Angolana até aos anos 20 do século XX.

O conflito americano – soviético de controlo do mundo, entretanto, conduziu à erradicação não só dos portugueses de Angola, como também dos Angolenses de elite, negros, mestiços e brancos africanos.

E, neste processo, a economia Angolana destruiu-se.

Angola era uma economia Sustentada, mas com uma elite que, em parte importante, não o era por não ser Angolana, o que originou uma economia sustentada no seio de uma sociedade erradamente estruturada.

Assim, a posse, na economia, ao não ser Angolana, foi a razão da falência do Modelo Angolano de origem portuguesa, sendo no entanto certo que este Modelo esteve prestes a ser adequado a um Desenvolvimento Sustentado, não fora a anulação das elites Angolenses imposta pelo regime de Salazar.

O processo que conduziu à Independência, estruturado de fora, pelos conflitos soviéticos e americanos, que erradicaram de Angola os interesses portugueses, (aí totalmente inexistentes entre 1975 e 1985, a não ser enquanto intermediário, via PCP, da União Soviética), não anulou a base social Angolana, ainda que centrada em um bloco sociopolítico, o MPLA, no Poder, e um outro fora do Poder, a UNITA.

Foram estas bases sociais Angolanas que, conflituando, estruturaram a Angola de hoje, com dois exércitos, as FAPLA/FAA e as FALA, (e note-se que o exercito é sempre uma estrutura que tradicionalmente agrega as nações), que ao comporem-se das múltiplas etnias angolanas, recompuseram o tecido social e cultural de Angola.

A economia Angolana hoje não é uma economia sustentada – entre outras razões porque vive quase que somente, ainda, de 2 produtos, o petróleo e os diamantes. No entanto a sociedade Angolana é já uma sociedade estruturada e portanto com potencial para gerar uma economia sustentada. Alteraram-se portanto as premissas.

E como as Pessoas são a base da economia, hoje, Angola tem um potencial maior que na década de sessenta do século XX para gerar um Desenvolvimento Sustentável para si e para os seus.

Neste contexto, Geldof não tem, portanto, razão. E quem não lhe dá razão são os 6 anos de Paz, gerados pelo Memorando de Entendimento de 2002, pois nestes 6 anos a economia Angolana não se tem limitado ao estrito aproveitamento dos dois produtos atrás mencionados, ainda que os tenha aproveitado para se recompor da Guerra Civil, ainda que continuem a predominar estruturações erradas da elite dominante, por onde passa também a corrupção.

No entanto, na verdade, perante impasses impostos pelo FMI e pelo Banco Mundial, perante o esquecer, pelos EUA mas também pela União Europeia, da Conferência de Doadores, elemento central dos Acordos de Lusaka e do Memorando de Entendimento, o Governo de Angola procurou, e encontrou, alternativas para um crescimento com sustentabilidade – a aliança com a República Popular da China e o essencial empréstimo por esta feita para a recuperação das infraestruturas de Angola.

Não foi portanto por ignorância, bem pelo contrário, que Geldof acentuou a potencial capacidade de influencia das elites Angolanas na Republica Popular da China, imediatamente antes de, na sua intervenção, atacar estas mesmas elites de Angola.

As elites Angolanas têm tido uma significativa capacidade de gestão dos seus interesses, e inclusivamente no contexto do interesse nacional.

No entanto, têm cometido sistematicamente um mesmo erro - o de não gerarem processos de Redistribuição eficaz da Riqueza.

No plano da economia formal, já que no contexto da economia informal a situação ser um pouco diferente.

Erro que se sustenta no controlo, pré democrático, do Estado Angolano.

Geldof foi, assumidamente ou não, não interessa, o porta voz dos interesses da aliança anglosaxónica, americana e inglesa, que se sente lesada pela “via chinesa” das elites angolanas e a Conferencia do BES serviu somente de palco, mais um, para um arreganhar dos dentes destes interesses, que não se vêem reflectidos suficientemente naquela Região de África, (a questão do Zimbabwe é somente mais um exemplo).

No meio, mais uma vez, por inequívoca ingenuidade, de novo foram atacados os interesses portugueses. (Mas quem se lembra, sem estudar os impactos possíveis, de convidar um anglófono, para uma Conferencia sobre o Desenvolvimento Sustentado?)

Enfim e para sintetizar Angola nada perdeu com esta Conferência, (nem sequer as elites angolanas), pois a critica ao Modelo que se constrói em Angola, não só tem de ser feita, como, sobretudo, só essa critica fará recordar às elites de Angola, e, a prazo, elas só ganharão com esta critica, a importância da Redistribuição da Riqueza e da necessidade da Democracia em Angola.

E, nesta matéria, Geldof e a Conferência do BES, foram úteis, mesmo que o tenham sido, diversamente, feitos por más razões.


Joffre Justino
publicado por JoffreJustino às 10:06
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Quinta-feira, 8 de Maio de 2008

Um Texto de Anibal Russo

Recebi, há já mais de um mês, de inúmeros "emissores" o link do youtube que abaixo refere.

Por afazeres profissionais e de outra ordem, ainda não tive oportunidade de ver senão os primeiros minutos do mesmo mas, conto vê-lo em breve, na sua totalidade.

Não é novidade para ninguém, que siga com um mínimo de atenção a realidade angolana, que de novo se prepara uma fraude eleitoral.

Vemos todo um cortejo de desvergonhas e afrontas à oposição, não só nos subornos com que tenta, com êxito nalguns casos, como no da UNITA, na criação das ditas renovadas como ainda na compra de consciências e votos a que o Sr. Presidente se te dedicado, nomeadamente com as generosas ofertas de dezenas de viaturas, às chamadas autoridades gentílicas, no Huambo.

Também pela criação das tensões politicas a que se tem assistido em Luanda, perceptíveis mesmo daqui, nada de bom espero das tais eleições, que não passearam ainda de promessas.

Quanto às alegadas diferenças abissais na distribuição da riqueza a que os Kamaradas se têm entretido, nem sequer comento.

O afamado slogan "o MPLA é o povo e o povo é o MPLA", só me desperta o mesmo desprezo que as frequentes alegações de que "os comunistas lutam pela liberdade".

Só se for a liberdade de destruir quem não alinha pela cartilha, como já fui alvo desses "humanistas libertários", apenas escapando, por manifesta incompetência dos executantes em várias ocasiões.

O desenvolvimento a que se vai assistindo, mais não serve do que mascarar as grandes negociatas e exportações de capitais para as "máquinas de lavar" europeias, quiçá, maioritariamente em Portugal.

A China limita-se a exportar mão de obra que sai das prisões e vai ocupar, nas suas empresas, o lugar que aos pobres angolanos deveriam ser destinados.

Mas a renegociação da dívida dos desvarios da guerra, não deixava grande margem de negociação.

Admitirmos que aquela nomenklatura ainda se dedica a realizar "conferencias de doadores", para matar a fome ao povo, o tal que diz defender . . . e não a denunciarmos . . .

Linkando este assunto ás afirmações do Sr. Geldof, feitas em Lisboa e face ao que pude ler na imprensa angolana de hoje não só, apenas me limito a reconhecer que o dito senhor se limitou a chamar os bois pelos nomes.

Quem não quer ser lobo não lhe veste a pele e não esqueço, que quem ainda hoje ocupa o poder no meu país de origem, são os mesmos que criaram o tenebroso PODER POPULAR, de triste e sangrenta memória, fizeram o 27 de Maio, onde vi desaparecer alguns conhecidos mas também muitos amigos e antigos colegas.

São os mesmos que roubam descaradamente e em conluio com os seus sócios internacionais, de todos os matizes ideológicos, da "impoluta" esquerda, os tais detentores da superioridade moral . . . à direita, seja ela extrema ou mais centrada.

Criminoso é, segundo julgo que constará em qualquer dicionário de língua portuguesa, é que pratica crimes.

Será que o senhor Geldof foi assim tão injusto para estes senhores?

O Emb. Assunção dos Anjos fez o que lhe competia, quanto mais não seja, para conservar o seu cargo.

Os promotores do evento, deveriam ter mais cuidado, na escolha das companhias e sociedades onde se metem e não olhar só aos cifrões.

Sempre quero ver onde vão os ditos senhores apresentar a dita queixa por difamação.

Que há interesses antagónicos em luta em Angola, todos sabemos que estas lutas, têm séculos.

Quase que me apetecia dizer que, o generoso solo e sub solo angolanos, desgraçadamente, não param de atormentar o seu povo!

Não sou assim tão pessimista como o Senhor, com a alusão à mexicanização da minha terra e nego que, não esteja à espera, que a liberdade e terra, porque o povo lutou, ainda a irei ver.

Se não de uma forma muito "ocidentalizada", pelo menos não tão . . . vermelha e negra.

Cumprimentos, Salutations

Aníbal J. Russo
publicado por JoffreJustino às 14:28
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Angola – as denuncias, os desesperos, os aproveitamentos….

Recebi o youtube abaixo, que devem ver com sentido critico.


Trata-se de uma vídeo/reportagem feita em Angola por um cidadão anglófono, anti Bush, talvez também antiBlair, ao que parece dois anos depois da Paz se iniciar em Angola, em 2004 portanto…



Como sabem muitos dos que me lerão não sou um defensor do Regime Angolano. Fui aliás sancionado pelas Nações Unidas/União Europeia/Estado Português, por ser um forte critico do Regime de Angola.



A situação de miséria, de uma fortemente inadequada Distribuição da Riqueza, de inexistência de um Estado Social em Angola, de um Regime pré Democrático em curso, (com próximas eleições), de exploração descontrolada dos Recursos Naturais, petróleo e diamantes, (onde vai o tempo das campanhas contra os diamantes de sangue…contra a UNITA do dr Jonas Savimbi na verdade), é ainda a realidade em Angola, a par da criação de uma elite dominante detentora de significativa riqueza como é evidente.



Aliás, sou dos que entendo que Angola sofre um processo de evidente “mexicanização” – grande pobreza e forte concentração de Riqueza na elite dominante, com forte probabilidade de a mesma elite se manter no Poder para os próximos mais 40 anos, (para fazer os 70 anitos do PRI Mexicano…) – pois as Oposições se encontram significativamente fragilizadas.



Ao mesmo tempo, quase, que recebia este vídeo do youtube, recebia eu as noticias sobre a Conferência do BES e a intervenção do inefável Bob Geldof que acusava o regime de Angola de corrupção e de crime. Mau tiro promocional para o BES, banco respeitável note-se, mas que não soube atender às especificidades do momento angolano – eleições, conflito Anglofonia/China, em Angola, questão zimbabuana – e que viu uma actividade de interesse ser transformada em momento de campanha angolana.



Note-se que até simpatizo com o sr Geldof, note-se que até sei, todos o sabemos, que Angola vive um momento de concentração da riqueza nacional, tal qual o viveram os EUA nos anos 30 do século XX, por exemplo, que gera sempre forte instabilidade social, (e política), e portanto de uma horrível distribuição da riqueza.



No entanto, Angola já viveu momentos bem piores. O período de destruição e de estatização da economia vivido nos anos 75/80 do século XX foi bem pior do que a hoje vivida.



Hoje, pelo contrário, assiste-se a uma fase de recuperação económica, de alargamento do tecido empresarial, de reconstrução infraestrutural, (estradas, aeroportos, telecomunicações, parque habitacional), onde a empregabilidade cresce a olhos vistos e portanto, onde a Riqueza Nacional inicia um processo de Redistribuição por entre as camadas sociais mais pobres, que recomeça ainda a usufruir de uma Agricultura que dá, de novo, os primeiros passos.



Assim, a mexicanização que acima refiro está a ser feita em um contexto de menor risco para os Mais Pobres do País, o que não significa que não esteja a acontecer a concentração da Riqueza já acentuada por mim.



A denuncia destas realidades sociais ainda assim muito difíceis é sempre vantajosa pois ela acentuará uma pressão dos opinion makers, em especial os do interior, sobre a elite dominante, de maneira a reforçar o processo de Redistribuição já iniciado.



Tal será certamente positivo para os Angolanos Mais Pobres, a larga maioria dos mesmos. Como permitirá reforçar o papel dos que aceitam e procuram promover as regras da Governação Democrática e esvaziará os que se mantêm em sentido contrário e olham para a Vantagem Competitiva que a Parceria com a China traz, não no seu contexto de recuperação económica, mas sim no contexto de aceitação do seu regime totalitário.



O que também será particularmente útil para toda a Angola.



Mas na verdade, estamos a assistir tanto a razões justas para esta campanha – a necessidade de uma mais perfeita Redistribuição da Riqueza Nacional Angolana, a necessidade de abrir espaço às frágeis Oposições Angolanas – como a razões um pouco mais obscuras – a critica da aproximação de Angola à China e da sua autonomização face aos interesses anglófonos…tenhamos pois atenção ao como passaremos a ler as “noticias” Angolanas.





Joffre Justino






http://www.youtube.com/watch?v=kMOxUZAHNLk
publicado por JoffreJustino às 08:48
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Quarta-feira, 7 de Maio de 2008

1968 : Toda a Esperança e todo o Medo entre Kennedy, LBJonhson e Salazar

"Eu não temo nada!

Eu não temo nenhum Homem!

Os meus olhos viram a Glória do Regresso do Senhor!

(3 de Abril de 1968, discurso de Martin Luther King, no Templo

Maçónico em Memphis, na noite anterior ao seu assassinato)









Dias antes, a 31 de Março, LB Johnson anunciava a sua não candidatura à Presidência americana, em estado de total desilusão e abandono, deixando Robert Kennedy como o potencial verdadeiro único candidato Democrata.



E se a 4 de Abril de 1968 Martin Luther King era assassinado o mundo explodia um pouco por toda a parte, excepto, aparentemente, no espaço de expressão portuguesa, onde Salazar calçava ainda os seus efeminados, e por vezes maltratados, botins, em S. Bento, Lisboa.



Maio de 68 era, para o Portugal oficial, o findar do Mês e ano das comemorações do cinquentenário das aparições de Fátima, iniciado em Maio de 1967, com inaugurações da estatua de Paulo VI a 12 desse mês e com uma edição especial de dez milhões de selos, de um escudo, desenhados pelo pintor José Pedro Roque e impressos, claro, na Casa da Moeda.



Tudo em Portugal parecia calmo, dominado, autocensurado, nada havendo a considerar senão as cerradas criticas da comunicação social dominada pelo regime de então, sempre ridicularizando o fracasso das Democracias patente na radicalização social vivida com o Maio de 68, muito próxima da linha das posições soviéticas diga-se…Em Angola, entretanto, oficialmente, nesse mês de Maio de 1968, a excitação era o IX Circuito da Fortaleza, sendo favorito o Porsche 904 GTS de Ahrens de Novais, na época o melhor carro que corria na assim apresentada Província Ultramarina de Angola…



Na verdade, no ano anterior, em Maio de 1967, vivera a oposição preocupada e em desalento uma vaga de prisões de dirigentes comunistas, centrada sobretudo na margem Sul do Tejo e em toda a zona Sul, onde são detidos cerca de uma dezena de funcionários do PCP e nascem, entre cisões várias no seio dos CMLP, os Núcleos O Comunista, em 1968, enquanto que Mário Soares fora desterrado para S. Tomé, em Março de 1968.



Estava pois tudo bem, a tal ponto que ainda hoje se escreve, em não poucos documentos e livros, por não poucas mãos, que, por exemplo, Angola era vista, pelos Americanos, como, "uma mera extensão do território português, ou como parte de um cenário mais complexo do confronto Este/Oeste", (in, EUA e Angola: A Diplomacia Económica do Petróleo, Ana Paula Fernandes, pág.39)…



Mas nada verdade nada foi assim, ainda que aquele ano, aquele brilhante ano como alguém já o definiu, que foi 1968, em Portugal, nada tenha tido de brilhante, bem pelo contrário, tendo-se pautado, em geral, pela mediocridade habitual daqueles 46 anos salazaristas, aqui e ali apimentado por toques "globalizantes", apesar de se sucederem 2 ou 3 casos "interessantes" e geradores de alguma expectativa.



De qualquer forma vale bem a pena recordar, 40 anos depois esse ano, até no contexto do conflito Portugal/ ex Colónias/EUA, porque, de facto, ele pauta um inicio de Mudança…









Com os Kennedy em cena




John F. Kennedy surge num contexto de rotura com uma década fortemente conservadora, nos EUA, onde predominavam, no Poder, os anticomunismos doentios , mcartistas. E essa ideia de rotura manteve-se, como se verá, por toda a década de 60, mantida também pela imagem deste Presidente dos EUA.



Mas, anotemos, se a década de 50 foi, nos EUA, o que acima referimos, na Europa sucedeu algo diferente, em especial em parte, no inicio dessa década, pois ela ainda foi o tempo das Frentes Populares, como foi o tempo da expansão comunista nos países do leste europeu e, claro, também, de Salazar e de Franco, gerando outro tipo de enquistamentos sociais e políticos.



No entanto, houve algo de comum em ambos os continentes – a crescente influência, política e económica, da anglofonia no mundo, a par de uma crescente influência desta "cultura" nas culturas nacionais, regionais e mesmo locais.



E, nessa matéria, quer a música, quer a tecnologia de massificação nela centrada foram essenciais para o peso que hoje é dominante da anglofonia. A vulgarização do rocknroll, dos blues, das baladas, ou do jazz, tenderam a criar uma forma aproximada de ver o mundo entre os jovens dos países do chamado Ocidente, e que se alargou a todo o ambiente juvenil mundial.



E tanto John F Kennedy, como Robert Kennedy, surgem na cena política mundial com esta imagem moderna, liberal, democrática, universalista e antiracista – enfim em tudo ao contrário dos conservadores de então, europeus ou americanos e mesmo de muitos dos liberais de então…



Na verdade, nem John F Kennedy, nem Robert Kennedy lideraram movimentos cívicos/sociais. Mas foram, ambos, quem escancarou as portas do Poder, na altura pouco habituado a tal, e quem lhes deu as ruas para se manifestarem.



O odor a bafio existente nos espaços de Poder, com tal escancarar de portas, modificou-se o suficiente para se tornar respirável e que mostrou como era evidente, mais até necessário, o incentivo destes movimentos cívicos/sociais, o que, na Europa deu origem ao aparecimento, entre outros, de forças sindicais novas, já não alinhadas com as tradições anarquistas, comunistas, trabalhistas e católicas.



E assim, se o Plano Marshall foi, ao mesmo tempo, a hipótese de recuperação económica, e de mercado face às consequências da II Guerra Mundial, na Europa foi também um elo/prisão da Europa aos EUA, sempre com a oposição da França de De Gaulle, tal como o ambiente Kennedy foi a demonstração da possibilidade de um relacionamento mais próximo aos entre iguais, no chamado modelo ocidental.



Os direitos cívicos, em particular o combate ao segregacionismo dos negors, incentivado pelos Kennedy, veio afirmar essa oportunidade de direitos e deveres iguais, também sem dúvida porque leaderes como Martin Luther King conduziram esse combate não só com significativa coragem, mas sobretudo com esta dupla percepção – a dos direitos e deveres em paralelo.



Por outro lado, rebentadas que foram as amarras dos indivíduos às relações tradicionais – as classes sociais, os sindicatos tradicionais, os partidos de classe – estes alimentaram outras expectativas que Maio de 68 fizeram explodir e que passam sobretudo pela importância da individualidade na Comunidade/Sociedade.





2) Portugal, Angola e os Kennedy





John Kenneth Galbraith terá dito algures, mas enquanto embaixador dos EUA na Índia, um país de ponta da linha da Mudança internacional, em 1961, que " O Império Português sobreviveu não por mérito especial, mas através de uma combinação de razões intimamente ligadas a atrasos, tenacidade e mero acaso", o que, manifestamente só pode ser entendido como uma frase de circunstância e realmente pouco verdadeira, goste-se ou não do Império Português.



No entanto a frase acima mostra bem o caldo cultural e politico da governação de John F Kennedy e o seu posicionamento face a Salazar, à sua ditadura e às ex-colónias portuguesas.



Como se disse já, John F Kennedy não era um activista cívico/social, não estava tanto assim relacionado com esses movimentos americanos de então. No entanto, já em 1957, a 27 de Julho, fizera um discurso, no Senado americano, onde, atacou a política externa de Eisenhower, então Presidente dos EUA, de "neutralidade cautelosa" face aos nacionalismos nascentes da década de 50, em África.



Tal valeu-lhe o direito de encabeçar o SubComité sobre África, no âmbito do Comité de Relações com o Estrangeiro, do Senado, já em 1959 e, assim ter tido a oportunidade de conhecer, pessoalmente, Holden Roberto, tal como o leader trabalhista queniano Tom Mboya, entre outros dirigentes africanos.



Esta contradição africana entre Eisenhower e John F Kennedy passava ainda pela forte ligação do primeiro a Salazar e ao seu regime, que o levou a que, em 1955, Eisenhower integrasse Portugal num pacote de 15 países a serem aceites na ONU, num acordo com a URSS, e ainda em tivesse aceite, já em 1951, a que Portugal pudesse utilizar equipamento militar da NATO nas ex- colónias portuguesas, no contexto do Acordo que manteve a abertura da Base das Lajes aos EUA e à NATO, o que tinha a oposição de John F Kennedy.



Aliás John F Kennedy iniciou bem o seu mandato, instando particularmente Salazar, em consequência do assalto ao paquete Santa Maria, a 22 de Janeiro de 1961.



De facto, numa acção liderada por Henrique Galvão, este ex capitão do exército português mais 11 portugueses e 11 espanhóis, agregados no Directório Revolucionário Ibérico de Libertação, DRIL, toma este paquete português de luxo e John F Kennedy quando questionado perante o acto, lamentando embora o facto de haverem vidas americanas em risco assim como o facto da bandeira do Sta Maria ser de "um país com o qual os EUA tem relações de amizade", afirmou que não dera ordens para abordar o referido paquete assaltado.



O regime ditatorial viveu aliás tempos de enorme tensão com este assalto, já que corria rumores insistentes e credíveis de que o Sta Maria acostaria em Luanda para a tomar e aí ser declarada a Independência de Angola.



Na verdade, tanto uma parte importante dos republicanos em Luanda, como o prestigiado dr Eugénio Ferreira, como a Oposição mais radical lisboeta, manteve fortes expectativas com esta acção, tendo havido inclusive contactos entre os mesmos e a UPA, União dos Povos de Angola, de Monsenhor Alves das Neves, e esta com a UPA de Holden Roberto, (no sentido de angariar armamento), tendo tudo falhado porque Holden Roberto recusou esta aliança com a facção democrática portuguesa em nome da independência do seu movimento nacionalista.



Em Lisboa, entre Janeiro e Março de 1961, surge o Programa para a Democratização da República, um documento que relança a Oposição Republicana ao regime de Salazar, onde as questão colonial é muito cuidadosamente tratada diga-se, e inspirado por Jaime Cortesão e Mário de Azevedo Gomes, sendo que desta iniciativa resulta a prisão de Mário Soares, Acácio Gouveia e de Gustavo Soromenho um oposicionista bastante ligado a Angola.



Mas, Salazar assume como essencial sobretudo a posição da Administração Americana de John F Kennedy reagindo violentamente à mesma, com manifestações de rua de "desagravo" e uma agressiva diplomacia centrada na sua arma principal –a Base das Lajes.



Esta será a sua arma de arremesso dominante desde então – a recusa em negociar a utilização desta base militar por parte da NATO e das Forças Americanas, naquilo que hoje se chamaria de aliança objectiva com a URSS.



Mas ainda não acabara o regime salazarista de respirar fundo, perante o caso Sta Maria e logo outro caso nasce – o 4 de Fevereiro de 1961 – que viria a fazer ressaltar o conflito EUA/ Portugal.



Depois dos bombardeamentos, a napalm, da Baixa do Kassange, como resposta, (civilizada como se vê…), a uma greve de camponeses produtores de algodão, perante a exploração que sentiam na pele e na vivência das suas famílias, a UPA de Luanda decidiu antecipar-se ao ataque, previsto para Março, ao poder português e ataca uma prisão de Luanda, onde estavam largas dezenas de presos políticos angolanos.



Rechaçado o ataque pelas forças coloniais portuguesas, a resposta que se segue, em Luanda, foi violenta, com ataques dos civis portugueses, apoiados pelas forças policiais, aos musseques de Luanda, gerando largo nº de mortos e de presos.



De imediato, nas Nações Unidas, George Padmore, embaixador da Libéria, e que passou a ser particularmente citado e ridicularizado na comunicação social oficial do regime salazarista, solicitou uma reunião urgente do Conselho de Segurança, onde pretendia que se lidasse com a questão Angolana com forte veemência.



Esta posição foi de imediato apoiada por Adlai Stevenson, embaixador americano nas Nações Unidas, com o consentimento formal de John F Kennedy. Também autorizado por John F Kennedy, o embaixador americano em Portugal, Elbrick, informava formalmente Lisboa que os EUA não apoiariam o regime salazarista nos debates do Conselho de Segurança sobre Angola.



E para tornar a questão ainda mais preocupante, para Salazar, a administração americana aconselhava Portugal a iniciar "acções graduais…para a autodeterminação com um calendário realista".



Assim, a 15 de Março de 1961, Adlai Stevenson votou a favor da Resolução sobre Angola, apoiada pela Libéria, pelo Ceilão e pela República Árabe Unida, medida que foi vista pelo NYTimes como uma nova Declaração de Independência e que foi reforçada a 20 de Abril com uma votação na Assembleia Geral das Nações Unidas onde se pedia a Portugal para caminhar no sentido da autodeterminação das suas colónias de então.



Se a primeira Resolução foi, no Conselho de Segurança, derrotada, já a Resolução apresentada na Assembleia Geral da ONU foi aprovada, relevando o que se foi acentuando progressivamente – a clivagem entre os poderosos do Mundo e os países do Terceiro Mundo, mas num processo onde em crescendo se foi assistindo ao isolamento de Portugal, no plano internacional.





3) Os Açores como Arma de Pressão sobre os EUA e a NATO



No dia em que a AG da ONU votava a favor da autodeterminação de Angola, a UPA de Holden Roberto iniciava a sua Luta Armada no Norte de Angola, colocando esta colónia em autêntico estado de caos social e militar.



Tal caos gerou repercussões em Lisboa, implicando movimentações de Botelho Moniz, então ministro da Defesa, no sentido de derrubar Salazar, tentativa que veio a concretizar-se a 12 de Abril de 1961 e que falhou devido a traições dos seus pares militares. De facto, Botelho Moniz sentira-se incentivado para este golpe antisalazarista tanto na sequência das posições das altas patentes (17 em 18) no Conselho Superior Militar, como na sequência de diálogos que tinha tido com o embaixador Elbrick.



De facto, este último apelara junto de Botelho Moniz para a necessidade de reformas políticas em Portugal, que seria bem vistas, se acontecessem, pela Administração Americana, assim como para a necessidade da aceitação do principio da autodeterminação para as suas então colónias, a exemplo da Commonwealth. Por outro lado, numa reunião do conselho Superior Militar chegara a sair uma carta a Salazar assumida por 17 dos 18 oficiais generais presentes, onde se assumia que a situação em Angola e nas restantes colónias não teriam solução militar pelo que se pedia a Salazar medidas sérias que passassem por reformas políticas e pela aceitação de medidas pacificadoras para as mesmas colónias, onde o principio da autodeterminação estava presente.



Salazar, apoiado pelo então Presidente da República, Américo Tomaz e por Kaulza de Arriaga e Santos Costa, militares da chamada linha ultra, domina pois facilmente este golpe palaciano e empurra com as "reformas", já não políticas mas de pessoas na sua governação, Portugal, para 14 anos de uma guerra, aberta, em 3 Frentes e presencial nas restantes colónias, que terminará com o 25 de Abril de 1974, num estado de cansaço total das forças militares portuguesas, suficiente para pôr um triste fim ao Império Português e à Ditadura de Salazar e Caetano.



Firme mais uma vez no Poder Salazar centra a sua estratégia, política e diplomática, essencialmente em dois elementos – a) O combate ao comunismo em ascensão exige a interdependência de todos os países do Ocidente na manutenção das então colónias portuguesas e, b) A Base das Lages só poderia ser espaço de manobra, americano e da NATO, por troca do apoio de ambos à política colonial portuguesa.



Pensara inicialmente o regime salazarista que a Nota Diplomática assinada pela administração americana de então, 1943, peça, para ele, central do Acordo para a utilização por parte dos Aliados, da Base das Lages e onde os EUA se comprometiam a respeitar "a soberania portuguesa em todas as colónias portuguesas" seria suficiente para ligar de vez este país aos interesses coloniais portugueses?



Não se apercebera o regime das mudanças possíveis com decorrer dos resultados da II Guerra Mundial? E com as possíveis alterações das posições americanas perante naturais mudanças de Administração em um regime democrático?



É duvidoso que tenha sido assim. É mais natural que o regime salazarista se tenha mantido aprisionado a um discurso feito a partir do pressuposto de que Portugal seria sempre um Império e não somente uma nação com colónias, que poderiam ser libertadas/erradicadas sem consequências sobre a nação de base.



Na verdade, convém recordar o general Norton de Matos, ou o dr Cunha leal, republicanos e anti salazaristas, para entender que a noção de Império e da importância da sua sustentação ia para além do regime salazarista, pois tanto o primeiro, quanto o segundo, eram tão imperiais quanto Salazar.



Na verdade, Norton de Matos defendeu, por escrito inclusive, que a capital de Portugal deveria passar a sediar-se em Angola, segundo alguns em e Cunha Leal, (e não poucos republicanos…) defenderam a necessidade de se defender Angola do terrorismo.



E, na verdade, a questão da Base das Lages sobretudo, mas também a problemática do combate ao comunismo em ascensão, foram as pedras de toque para travar a facção "africanista" que acompanhava John F Kennedy e que de certa forma ainda continuou com L B Jhonson e que assumia explicitamente a defesa da autodeterminação das então colónias portuguesas, para bem do próprio Ocidente.



Assim, apesar de todo o empenho de Adlai Stevenson, ao tempo de John F Kennnedy, que, nas Nações Unidas, se esforçou por relacionar a ploítica externa americana à defesa das Independências em África e ao combate ao apartheid, a questão da base das Lages foi, crescentemente, atabalhoando a política americana face ás colónias portuguesas e a Portugal



Limitados portanto pela Base das Lages, as administrações tanto de John F kennedy quanto a de LB Jonhson acabaram por se encerrar em divisões internas, com um grupo dito "europeu" e "pragmático" a relevar a importância da Base das Lages e a assumir um peso crescente nas decisões americanas.



Ainda assim e neste confronto, quer interno quer com o regime salazarista, esta Base acabou por passar, a partir de 31.12.1961, a uma gestão e ocupação de dia a dia, sendo sempre a arma de arremesso portuguesa e o entrave a outras opções nos EUA.



É neste período que surgem vários planos, sempre muito cautelosamente apresentados a Salazar e à sua equipa, Franco Nogueira à frente, no sentido do incentivo à autodeterminação de Angola e das restantes colónias, com prazos para a autodeterminação que iam a 8 anos e com apoios financeiros prometidos a Portugal na ordem dos 500 milhões de euros, (relevemos que em 1970 Portugal gastaria 400 milhões de dólares, 45% do orçamento anual, na Defesa e na Segurança…).









4) As mortes dos Kennedy e a radicalização do Mundo, ( e em Portugal…)





A década de 60 surgiu e aparentou ser sobretudo europeia. Foi na Europa que se assistiu a uma significativa estabilização social e a um explicito crescimento económico, Foi na Europa que se viveu um processo, pacifico de integração económica alargada, com a Comunidade Económica Europeia e a EFTA, foi na Europa que ganharam peso novas filosofias, como o existencialismo e as múltiplas correntes marxistas e neokeynesianas, ou os múltiplos movimentos sindicais, e, ainda, foi na Europa que surgiram e se comentaram correntes, literárias, ou de expressão artística cinematográfica, como o neorealismo e foi na Europa que surgiram os Beatles, ou os Rolling Stones.



África fervilhava com os nacionalismos nascentes, com crescente influência na arena internacional, mas surgia com elementos de clivagem interna complexos e que a limitaram, como as roturas com as expressões económicas do colonialismo, erradicando partes da sua população ligadas ao mesmo colonialismo.



A Ásia fervilhava com Mao Tse Tung e Chu En Lai, ou Ho Chi Mhin, mas debatia-se ainda com a dificuldade de integração do seu enorme excedente populacional, na economia e na vivência social e política.



A América fervilhava como já vimos com o impacto dos Kennedy e dos movimentos cívicos, nos EUA, mas debatia-se, por todo o Continente, com a dificuldade da integração da diferença no seu próprio seio, racial/étnica, de distribuição da Riqueza, com roturas que iam desde a linguística, franco/inglês no Canadá, rácio/étnico, AfroNegro/Caucasiano nos EUA, ou no Brasil, Índio/Caucasiano também no Brasil, mas alargado a quase todo o Sul do Continente Americano e Muito Ricos/Muito Pobres em quase todo o Continente.



Assim, o peso europeu, depois de uma década de 50 absolutamente medíocre, e do desastre que fora a década de 40, a Europa, devido a personagens como De Gaulle, Jean Monnet e Wilson, e apesar de Franco e Salazar, parecia renascer a toda a linha.



Em pouco mais de meia dúzia de anos a ideia, reducionista, alimentada à Direita e entre os Comunistas, dos compagnons de route, esvai-se e, até dado o conflito sinosoviético nascido na mesma década de 60, nascem novos pólos e novas opções à Esquerda. De tal forma que, mesmo os impactos de elementos potencialmente bloqueadores, como o IRA na Irlanda, não impedem o nascimento de novas famílias políticas e sociais geradoras de dinâmicas económicas e sociais fundamentais para o reforça da imagem internacional da Europa.



Pelo contrário, as mortes de John F Kennedy, e depois de Martin Luther King e Robert Kennedy, ao potenciarem a radicalização dos movimentos cívicos americanos, sem lideranças fortes, dando relevo a movimentos como os Panteras Negras, ou as ditaduras latino americanas, neutralizam as dinâmicas sociais americanas.



Já em Portugal o conflito sinosoviético e a guerra colonial originam uma das primeiras importantes roturas sociopolíticas prenunciadoras do 25 de Abril – o aparecimento do CMLP, Comité Marxista Leninista Português e da FAP, Frente de Acção Popular, de Francisco Rodrigues Martins, Polido Valente e Rui d'Epinay – que tiveram forte impacto nos meios intelectuais portugueses, apesar, ou se calhar por causa da, enorme vaga de prisões havida em consequência do nascimento desta força política, com o intuito de travar esta onda social de contestação, na classe média portuguesa.



É neste ambiente, de uma enorme fervilhar de opções, que nasce o MPLA, em 1960, mais na Europa que em Tunes, (onde surgiu a meio de uma Conferência Africana, e por pressão externa aos Angolanos), ou que em Angola, como alternativa, comunista/frentista, a UPA de Holden Roberto.





5) Entre o Maio 68 e a Guerra Colonial





LB Johnson sentir-se-á um homem abandonado pelos seus e acabará por recusar uma segunda candidatura presidencial, abrindo, aparentemente as portas a uma vitória, forte, de Robert Kennedy.



Estamos em 1968, Paris parece ser ainda Gaulista, Moscovo era já não de Nikita Krushchov, mas de Leonid Brejnev, Londres continua a ser de Harold Wilson, Lisboa é sem dúvida Salazarista, Madrid Franquista, mas o Mundo está em marcha apesar das aparências.



Assim, a 5 Janeiro de 1968, Alexander Dubcek é nomeado para líder do partido único checoslovaco e a 30 de Março Svoboda é nomeado presidente da república, Svoboda, e destas nomeações surge a Primavera de Praga, uma primeira tentativa de democratização no bloco comunista de Leste. Com estas mudanças é suprimida a censura e são reabilitados as vítimas do estalinismo neste país, a 30 de Junho, e a Europa rejubila com estas mudanças a Leste.



Mas a 21 de Agosto tudo está terminado. As forças militares do Pacto de Varsóvia, por ordem de Brejnev, invadem a Checoslováquia e tudo regressa, a leste, à normalidade, ficando, no entanto, a germinar, a semente da Liberdade.



É evidente que, este movimento de mudança teve a explicita rejeição do PCP e de Álvaro Cunhal, o que originará a saída do PCP de um nº não pequeno de intelectuais.



Em Março, 22, entretanto, a Faculdade de Nanterre inicia mas movimentações que darão origem ao Maio de 68, exigindo a Liberdade de Discussão Política nas Univesdidades, e nelas surge Daniel Cohn-Bendit, Dany Le Rouge, e leader do Movimento 22 de Março.



Acusado de anarquista pequeno burgês pelo Pravda, atacado pelo Le Fígaro, ele assume a contestação total do sistema burguês, nos planos políticos, sociais, culturais e vivenciais e torna-se a figura incontornável do Maio 68.



E enquanto que Pompidou, primeiro ministro, tenta o diálogo, De Gaulle comete o erro de preferir o confronto, desde as tentativas de prisão dos leaderes do movimento estudantil, à repressão nas ruas: Só que, nas ruas, estão também, já, os operários e os estudantes aproximam-se deste movimento social tradicional, contestando também o poder autocrático nas fábricas e na actividade económica em geral.

O mundo está de facto a mudar, e a 13 de Maio de 1968, se em Lisboa o poder se preocupa com o cinquentenário de Fátima, e a enviar o general Spínola para a Guiné-Bissau, para tentar travar o PAIGC, em Teerão a Conferência Internacional dos Direitos do Homem, das Nações Unidas, assume que os direitos do Homem e as liberdades fundamentais são indivisíveis, sendo assim impossível gozar completamente de direitos civis e políticos sem gozar de direitos económicos, sociais e culturais, abrindo novos campos de clivagem nos meios políticos mas também de reforço da posições no individuo nas sociedades.

No EUA, a 13 de Maio de 1968 também, o New York Times inicia a publicação de uma série de reportagens, baseadas num estudo de 7 mil páginas e 2,5 milhões de palavras, do Pentágono, ordenado pelo secretário da Defesa de LB Johnson, Robert McNamara, verdadeiramente demolidor quanto à presença americana no Vietnam, os famosos "Documentos do Pentágono", os The Pentagon Papers, dando razão a toda a contestação, generalizada em todo o mundo e não só nos EUA, e uma pedra de toque da radicalização da juventude e também do Maio 68, a esta presença.

Caracterizando um ambiente internacional recordemos que já em Fevereiro de 1968, a Universidade de Roma se revoltara e tinha sido violentamente assaltada pelas forças policiais, que também em Março os estudantes polacos, (mas também os operários), se tinham revoltado com a politica antisemita do seu governo, sendo os judeus, e os dirigentes estudantis em geral, expulsos do partido operário unificado polaco, no poder, e também os estudantes japoneses em Tóquio tinham iniciado uma contestação que durará até 1970.

O chamado mundo ocidental borbulhava de desejo de mudança por todo o lado e os dirigentes estudantis, transformados em portavozes da mesma, passeavam-se, pela Europa e não só, a motivarem a contestação que era divulgada por toda a comunicação social mundial.

E se tudo parecia ser vivido em festa, e em solidariedade, Maria Lamas, por exemplo, com mais de 70 anos de idade, em Paris, distribuía água aos estudantes contestatários que combatiam nas ruas a policia, a morte ia aparecendo aqui e ali. Para além dos inúmeros feridos e presos, um pouco por toda a parte, como por exemplo ao momento da Convenção do Partido Democrático em Chicago entre 22 e 30 de Agosto de 1968, três estudantes americanos morrem na Carolina do Sul em manifestações pelos direitos cívicos, Dutschke, dirigente estudantil alemão é gravemente ferido em Berlim a 11 de Abril, e a violência é quase absurda em Dublin, a 5 de Outubro, numa Marcha pelos Direitos Cívicos na Irlanda do Norte.

E no resto do Mundo a mudança acontecia também, umas vezes em bom caminhos outras não. No Iraque o partido Baas, onde ascendia Saddam Hussein toma o poder e nacionaliza a indústria petrolífera, o general Franco dá a Independência, num regime totalitário, à Guiné Equaterial, o Reino da Suazilândia assume a Independência, assim como as Maurícias, e, no Mali, cai o marxista leninista Modibo Keita.

Esta onda avassaladora toma conta das ruas, dos cafés, dos bairros estudantis, das Universidades e liceus da Europa e extravasa, ou acompanha as fábricas e as suas movimentações mais tradicionais e reivindicativas, iniciando uma ideia de contestação social interclassista e não estritamente economicista e de poder, um pouco por todo o lado.

Paris, Berlim, Londres, Roma, Amsterdam, Tóquio, Nova Iorque, as grandes cidades e capitais do mundo são apanhadas por esta forte contestação juvenil. Mas também em Lisboa e em Luanda o Maio de 68 borbulha, (em Luanda uma passeata folclórica, de fim de ano lectivo, vive momentos de rejeição da guerra colonial, ouvindo-se pela primeira vez nas ruas gritos de Não à Guerra…).

Velhos hábitos, vivências, formas de vestir, de comunicar, são, por toda a parte postos em causa e se De Gaulle perde a França, também a Esquerda francesa se vê forçada a mudar e a relação de forças na esquerda se modifica com o crescendo de influência das socialistas e a perca de poder dos comunistas, ou com o afastamento dos comunistas, como em Itália, do seu centro clássico – Moscovo.

Mas Lisboa ainda se entendia uma capital de Império, totalitária, gerindo o seu orgulho isolacionista com criticas cerradas à perca de valores no Ocidente e saboreando o verdadeiro prato de lentilhas que era Base das Lajes como se de prato de lagosta se tratasse.



Na verdade, Portugal fora aceite na EFTA, recebera dos EUA, entre 1963 e 1968, com LB Johnson, perto de 33 milhões de dólares em auxilio militar e ainda perto de 55 milhões de dólares em auxílios económicos vários, mantendo ainda assim a ameaça de, com a França, abandonar a NATO…

De repente, a 6 de Setembro de 1968, Salazar viu o seu sofá escaqueirar-se, (prova de que a avareza não é uma virtude cristã, bem pelo contrário…) e, em resultado de uma hemorragia cerebral e não de um golpe de estado, abandona a cadeira do poder, em mais uma originalidade portuguesa.

E será só a 22 de Setembro que Salazar será substituído por Marcelo Caetano, estando pois o regime sem leader, (o almirante Américo Tomás nunca o fora…), o tempo suficiente para que, num outro qualquer país, se sucedessem golpes palacianos, deixando no ar a ideia de que no Poder de então já poucos acreditavam no mesmo a pontos de apostarem nele com veemência…

De qualquer forma a aparência que se vivia dava, em 1968, a vantagem ao regime salazarista, ainda que já sem ele – em Moçambique Eduardo Mondlane era fortemente contestando pelos africanos radicais e mesmo dentro da FRELIMO, por ser alegadamente um agente da CIA, mantendo-se isolado a pontos de ser assassinado em princípios de 1969, 3 de Fevereiro, por ditos dissidentes da FRELIMO, mas, segundo outros, por uma conjugação de interesses que juntava a PIDE, mas também o KGB, pouco interessado na liderança de um pró americano, aparentemente já então infiltrado nos serviços secretos militares portugueses, que teriam aliciado Betty King, secretaria de Janet Mondlane, esposa de Mondlane ; em Angola, tirando as actividades de Daniel Chipenda no MPLA e de Jonas Savimbi, já com a UNITA, ambos a Leste de Angola, nada mais acontecia em todo o seu imenso território; já a Guiné era a única preocupação militar pois o território estava, a perto de 50%, ocupado pelo PAIGC de Amílcar Cabral e daí o envio do general Spínola para esta Região Militar.

E só depois de 68 o Maio deste ano entrou em Portugal, fazendo explodir o Movimento Estudantil e bem mais tarde as Forças Armadas Portuguesas…alguns dizem agora que nada tem a ver com nada e que o Maio de 68 em nada influenciou este país à beira mar plantado.

Ou a memoria é curta, ou não se "lembram" dos Plenários estudantis da Cidade Universitária, do IST, da agitação estudantil em Económicas, ou nos Liceus ….





Joffre Justino
publicado por JoffreJustino às 09:11
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