Segunda-feira, 14 de Novembro de 2005
Desta feita estamos a lidar com a África subsaariana, que segundo um relatório do FMI, sobre a evolução da economia em África para este ano e 2006, se revela que esta região do Mundo, a zona mais pobre do continente, em 2005, um crescimento económico de 4,6%, abaixo dos 5,3% registados em 2004 enquanto que para 2006, o relatório prevê um crescimento de 5,3%.
Ao contrário do que alguns leaderes africanos teimam em manter a Democracia, à ocidental, o menos mau dos maus regimes que o ser humano tem sabido criar, continua a inexistir neste Continente, à excepção de casos pontuais como a República da África do Sul e, a sua inexistência tem sido razão para descrédito internacional e fragilização crescente a nível interno.
O melhor exemplo desta realidade tem sido o Zimbabwe. Se em tempos de Independência continuou a ser considerado o «celeiro de África», desde que o seu leader assumiu, para se manter no poder, um posicionamento racista e totalitário, tem apresentado uma economia completamente fragilizada e este ano apresentou uma queda de 7,1% do Produto Interno Bruto (PIB), continuando e acelerando aliás o ritmo anterior, pois já em 2004 tinha tido uma baixa de 2,4%, esperando-se que em 2006, segundo o FMI a queda seja da ordem dos 5%.
Segundo o FMI, a grave crise económica no Zimbabué sustenta-se na caótica reforma agrária, aplicada pelo governo do presidente Robert Mugabe e que impôs expropriação de centenas de fazendeiros brancos.
Não sou dessa opinião. A Reforma Agrária limitou-se a ser a bomba que despoletou uma crise baseada na falta de confiança no país e numa discriminação económica que, em vez de ter sido amenizada, foi alimentada pelo regime até que o mesmo a aproveitou para se manter no Poder, passando a utilizar essa discriminação, ou o combate à mesma como arma, racista também, para manter um falso apoio da maioria negra a um regime apodrecido.
Ignorando acordos internacionais antigos, a dita reforma agrária mugabiana originou as sanções aplicadas pela comunidade internacional ao governo zimbabueano, justamente acusado de violar os direitos humanos, o que agravou a crise interna.
No que respeita a Angola, o FMI reconhece que este é o país subsaariano que vai registar maior crescimento económico este ano, estando a beneficiar do forte crescimento da actividade petrolífera, depois do final da guerra civil há três anos.
De novo sou a acrescentar algo mais às perspectivas do FMI. Na verdade, a Paz, ao trazer crescente estabilidade e confiança interna, tem vindo a permitir que a economia de subsistência angolana se tenha, crescentemente, inserido na economia de mercado, dinâmica, que neste país existe.
Relevando os aspectos negativos desta região, este relatório do FMI recorda os muito graves problemas alimentares registados no Níger, Chade e Mali, que podem estender-se ao Quénia e à Etiópia ainda que reconheça que em 2006 esta instância internacional preveja que a Etiópia, Moçambique e Serra Leoa cresçam acima dos sete por cento, enquanto que para a maior economia desta região e do continente, a África do Sul, se mantenha um crescimento de 3,9%, abaixo da meta fixada pelo Governo de Pretória, que perspectivava um aumento de 6%.
Estamos portanto perante uma Região que não encontrou ainda o seu caminho próprio, sendo certo que esta dificuldade continua a resultar da enorme dificuldade em esta Região superar as crises internas de cada um dos seus países.
Sou dos que defende que a economia não vive por si. Ela existe e vive porque é feita pelas Pessoas e para as Pessoas.
Dai que não seja possível enquadrar uma economia de forma estável se não se contar com a participação, a decisão e o empenhamento das mesmas Pessoas e tal sucede de forma adequada, sobretudo, em regimes democráticos, aqueles onde a participação das Pessoas é realmente possível inclusive na actividade económica.
Hoje é sabido que não poucas das empresas transnacionais estabelecem o planeamento da sua produção a partir da forma como os consumidores reagem aos seus produtos, quase que em resposta dia a dia, dadas as facilidades que a tecnologia actual para o efeito permitem.
Assim, se a decisão do Consumidor se reflecte até na Produção, por via de um modelo idêntico ao voto, a prova de interesse dada pela compra dos Produtos, como imaginar uma sociedade hoje sem que esse voto seja transposto nas decisões estratégicas para cada país, para cada Região, na escolha até dos que representam no Poder as Pessoas?
É certo que esta Democracia se encontra ainda limitada. Assim, ela está limitada porque não há Representação directa das Pessoas em instâncias como as Nações Unidas, ou como o FMI.
Mas a seu tempo chegaremos lá. E mais rápido seria esse tempo se, aos países, chegasse também a Democracia.
Joffre Justino
(in, O Liberal)