Quarta-feira, 29 de Junho de 2005

meu caro zé brandão...

"Parabéns ao Joffre"


Meu Caro,

Eu e tu somos de uma "raça" diferente,...sabe-lo bem. Somos dos que construimos os sindicatos, dos que se preocuparam com a vida, a vivência dos outros, dos humildes, dos pobres, dos abusados...ou dos normais cidadãos a quem a vida empurrou para salários mais baixos, estabilidades dificeis...
Ainda me lembro de uma madrugada, eram para aí 06h da matina, em fim de uma greve falhada dos sindicatos da UGT, furada pelos sindicatos da CGTP...porque eles também furam greves...
Lembras te?
Há tanta estoria para contar de uma História Sindical nao ou mal contada e onde tu existes, onde tu estas liderantemente presente...porque não contá-la por aqui meu irmão?
Abraços especiais a um historiador feito na Vida....

Joffre Justino
publicado por JoffreJustino às 16:19
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...uma leitura de um comentário do meu amigo Pedro Marques...

Eu acrescentaria muito humildemente um oitavo sapato: a ideia de que "a galinha da minha vizinha é sempre melhor que a minha", já o diz o povo.
Afinal talvez tenha havido sempre gente de sapato sujo ou mesmo pé descalço. Talvez a haja em todo o lado e não apenas neste cantinho abençoado.

Enviado por Pedro Marques em junho 26, 2005 02:28 AM


Meu caro Pedro Marques,

Gostei desta tua entrada,"a galinha da minha vizinha é sempre melhor que a minha",...velho ditado popular que nos empurra para para este velho "pecado" a inveja, e que é geradora de conflito nas comunidades, como vemos, há milénios. Penso que é de facto um oitavo sapato pois as comunidades não convivem bem com a inveja e ela é sempre geradora de divisão nas comunidades....
O desgosto perante os outros é algo de normal, nas comunidades, pois a competitividade nao existe somente desde os tempos do denominado "capitalismo", bem pelo contrário...razão pela qual, a inveja, se tem uma componente negativa, o recusar o direito do outro, terá, na minha opinião, outra positiva, o aumentarmos o nosso esforço competitivo, o que, no plano do conjunto da comunidade, é positivo...enfim, acho eu...
Claro que, tratando-se de uma opinião pessoal, seria interesante ouvir a tua sobre esta matéria...
Joffre Justino
publicado por JoffreJustino às 16:08
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Terça-feira, 28 de Junho de 2005

um aeroporto...uma cidadã negra...um taxi

Pois...de novo uma cena publica de racismo à porta de uma das portas de entrada desta cidade.
Lisboa, que se fez entre misturas de raças, que se alcandorou a capital de um Imperio inercontinental, mostra como recebe - mal.
Depois de um "arrastão", que hoje há quem defenda que não existiu, surgiu mais uma razão para que ele tivesse acontecido - uma cidadã, negra, mestiça escura talvez, falante em português, viu taxis e taxis a recusarem-se a levá-la para sua casa.
Ali, à entrada de Lisboa, a cidadã viu que não era cidadã, até por um policia que aceitou um acto de discriminação, baseado numa lei, genericamente estúpida, casuisticamente adequada.
Claro, como de costume, houve quem tenha salvado a honra da casa, quem, humildemente, sem farroncas antidiscriminatorias, tenha dito e porque não a hei de levar?, até é de dia...à noite claro que não a levava, mas de dia...
Enfim, perante uma questão, legalmente protegida, de valorização estrita da segurança pessoal, valeu a cidadania. E, talvez, o negócio.
Mas a cidadã foi transportada para sua casa.
Cena teatral, juro que me pareceu cena teatral, montada para televisão ver. "Apanhados" neorealistas.
Mas valeu, mesmo que o tenha sido.
Mostra como anda esta capital de multiracialidade feita em séculos de Império montada.
Tristemente vivida hoje.
E nao querem as associações de taxistas cumprir a certificação, em formação adquirida, para a sua profissão...
Porque experimentei, já o vivi, entrar num daqueles taxis, às centenas parados no aeroporto. Experimentem pedir, leve-me à Praça do Chile e esperem pela resposta.
Coisas do genero, que azar o meu, estou aqui à horas e tenho de fazer este serviço, mas nao sabia ir apanhar o taxi a outro sitio?
Vivi isto também, naquela porta de entrada de Lisboa.
Na verdade, insisto, há aqui um problema de xenofobia, mas há também, um problema de total falta de civismo de alguns, não todos como vimos, taxistas, desta antiga capital de um Império.
Passem por lá e vejam a fila de kms de taxis por ali estacionados...quem lhes paga? Que serviço público prestam?
Eis porque urge, em Portugal, impôr, obrigar, a existência de Certificados de Aptidão Profissional. Eles trarão a noçao de civilidade, de serviço público, de rentabilidade na actividade.
Foi triste o que se viu hoje na tv, coisa que eu raramente vejo.
Uma cidadã, criança ao colo, carregada de malas, não poder entrar calmamente nesta antiga capital de um Império, é coisa que merece desprezo.
Seja qual fôr o bairro onde viva.
Mas chocar, chocar, chocou-me a atitude do policia. Era seu dever perante a recusa de um taxista, entrar no táxi, conduzir a senhora a sua casa e regressar no mesmo taxi. Era dever do seu serviço, pagar-lhe esta despesa, mostrar como se pode proteger um cidadão e servir uma cidadã.
Umpouco mais de formação, um pouco mais de civismo, um pouco mais de solidariedade...
Seja qual fôr a côr da sua pele, o bairro onde viva, a cidadã não podia, não devia, ter vivido o que viveu...
Tenha sido ou nao um "apanhado", foi tudo escandaloso....
Joffre Justino
publicado por JoffreJustino às 22:30
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Terça-feira, 21 de Junho de 2005

um artigo de Fernando Cruz Gomes sobre Mia Couto.....

Os Sete Sapatos de Mia Couto
A modernidade que nem sempre queremos
Por Fernando Cruz Gomes
Sol Português

Uma citação de escritor famoso... só deveria ser feita por outro escritor famoso. Que soubesse pegar nas frases de um e dar-lhe a "força anímica" que a criatividade merece. Só que, por vezes, entendemos que o "material" que nos apresentam é tão bom... tão bom... que mandamos às malvas certos preconceitos. E pegamos mesmo da palavra de quem a pode moldar em forma de ouro. Roubamos à criatividade dos mestres... aquilo que nos pode dar umas "luzes".

Imaginem que o escritor moçambicano, também licenciado em Medicina e Biologia, fez, há dias, uma oração de sapiência que me deu "asas" para voar por mim.

E mesmo que ele falasse a propósito da sua Terra... entendo eu que os seus conceitos se aplicam que nem uma luva ao que se passa à nossa volta, em comunidade boa como a nossa, onde, por vezes, falta a tal "onda anímica" que me também vai faltando a mim.

A oração de sapiência daquele escritor destinava-se à abertura do ano lectivo do Instituto Superior de Ciências e Tecnologia de Moçambique. As minhas palavras e esta coisa a que chamo crónica – e quase o não é – destina-se à universidade da vida e da rua, nesta mesma cidade de Toronto.

Vamos lá descalçar os sapatos... os tais sapatos sujos. Com a ajuda da calçadeira de Mia Couto, pode bem vir a acontecer que haja vantagens a tirar.

Pois... aí vão "Os Sete Sapatos Sujos":

"Não podemos entrar na modernidade com o actual fardo de preconceitos. À porta da modernidade precisamos de nos descalçar. Eu contei Sete Sapatos Sujos que necessitamos deixar na soleira da porta dos tempos novos. Haverá muitos. Mas eu tinha que escolher e sete é um número mágico:

- Primeiro Sapato - A ideia de que os culpados são sempre os outros;

- Segundo Sapato - A ideia de que o sucesso não nasce do trabalho;

- Terceiro Sapato - O preconceito de que quem critica é um inimigo;

- Quarto Sapato - A ideia de que mudar as palavras muda a realidade;

- Quinto Sapato - A vergonha de ser pobre e o culto das aparências;

- Sexto Sapato - A passividade perante a injustiça;

- Sétimo Sapato - A ideia de que, para sermos modernos, temos de imitar os outros."

Assim sendo, será que Mia Couto está mesmo a falar apenas de Moçambique?

Será que ele não visitou uma certa comunidade que faz grande este País grande em que vivemos? Será que ele não falou com muita da nossa gente?

A verdade é que também nós, por cá, temos "sapatos sujos" a mais. Com muitos preconceitos e várias formas de nos empertigarmos. Com narizes arrebitados e vozes de trovão. Temos. Só que... não temos ninguém como o Mia Couto para nos chamar à razão... até porque, mesmo que ele por cá viesse, seríamos bem capazes de nos rir muito, de lhe bater palmas apressadas e esquecer, logo a seguir, o que ele disse...

Ninguém quer descalçar os nossos "sapatos sujos"?
Fernando Cruz Gomes
in, o Sol Português
publicado por JoffreJustino às 10:38
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Sexta-feira, 17 de Junho de 2005

...a opinião da Joana Santos sobre Adorava ver seu tornozelo....

Concordo em absoluto com esta critica e apetece-me acrescentar que fico triste por ver este País que tambem é o meu a voltar ao terceiro mundo(Se é que alguma vez de lé saíu).
Continuamos a ser um País de analfabetos onde meia dúzia de iluminados tentam impôr as suas ideias.
Afinal, onde está a Liberdade apregoada aos quatro ventos?
Onde está a Democracia?

Joana
publicado por JoffreJustino às 14:41
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Uma resposta a Carlos Muralha

Meu caro,

Esta questão da Constituição da União Europeia tem de ser vista dentro do contexto de, pela primeira vez na História deste Planeta se estar a construir um Estado Federal, para não dizer um País, fora do contexto habitual da construção dos Estados e Países – fora do contexto da violência.

Na verdade, reparemos que já não é a primeira vez que se pretende construir este espaço que se pretende que chame Europa – a última experiência foi dramática, e tem o nome de ocupação nazi…

Ora, em contraponto a estas tentativas, violentas, como foi a tentativa de Napoleão também, esta ideia de irmos construindo, paulatinamente, um espaço federal, por cima de Estados existentes, por via do diálogo, da negociação, e da elaboração de uma Constituição, por si, é já excelente.

Não me interessa, sinceramente, o conteúdo da Constituição….no essencial ela é democrática e isso é o importante.

O que me interessa, aliás porque vejo este processo “de fora”, como sabes, com Angolano “exilado”, hoje por razões económicas já que um qualquer regresso custa caro, é que nasça este espaço em nome do equilíbrio de forças a nível internacional, o que tenderá a ser profundamente benéfico para o Continente onde me insiro, o Africano.

Mas mesmo se me assumisse como europeu, o importante era acelerar um processo que tende a ser – a) um exemplo para a Humanidade; b) um espaço pacificador das relações internacionais.

Falas –me dos agricultores franceses, os das 3 vacas, o do hectar de vinha, os das vilas e cidades.

Pois a sua reacção é a reacção que me preocupa também. Ela significa que aqui neste espaço, o tendencialmente mais participativista, as pessoas continuam a não se verem como participativos no espaço europeu, a verem-se, egoisticamente franceses, portugueses, etc.

Recordo-te que quando a Comissão, na sua linha massificante, tentou impor aos italianos, o fim da pizza a lenha eles pura e simplesmente mandaram a Comissão ás urtigas, em um acto de revolta que fez recuar, e muito apressadamente, a dita Comissão, ela, na verdade, o exemplo do que tem de acabar na União Europeia.

O resto são fantasias, temores de quem pensa que perde a sua identidade cultural por se entender também com Europeu, quando, na verdade, se aproveita deliciadamente da mesma sempre que essa identidade “dá geito”…

Houve tempo em que, para se concretizar um negócio, o ser humano de uma comunidade, por medo, se aproximava até meio caminho de outra comunidade, deixava o que tinha para a troca e aguardava que a outra parte fizesse o mesmo deixando ao lado do que ela deixara o que entendia como aceitável no processo de troca em causa. E tal ia-se repetindo em momentos e movimentos complexos, até se estabelecer o acordo final…

Curioso não é?

Que voltas já demos nesta maravilhosa oportunidade de podermos comunicarmos com os estranhos, os estrangeiros, os gadjos etc…

Um abraço meu irmão


Joffre Justino
publicado por JoffreJustino às 11:38
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um texto de Carlos Muralha

Após atenta análise ao teu blog, que muito gostei e admiro (tens de me ensinar como se faz uma coisa igual), venho por este meio e conforme solicitaste e eu prometi fazer alguns comentários sobge o mesmo.



Adorava ver seu tornozelo



Sobre este texto, só me refiro a ele pois foi especificamente o que me solicitaste. Só tenho a dizer que concordo absolutamente e se me permites assino por baixo.



Dos Orçamentos às Politicas



Concordo basicamente com tudo excepto com as conclusões, pois quanto a mim o problema não está na formação do comum dos portugueses, mas sim noutros aspectos que não são politicamente correctos de referir. Só a titulo de exemplo:



1) A economia paralela em Portugal é de 70% do valor de receitas geradas no País. Bastava levar este valor para níveis de países ditos civilizados e resolvias quase todos os problemas do défice. Se quiseres posso te dar exemplos de bradar aos céus.

2) Formação sim, mas às classes dirigentes. Se eu em casa for mal-educado, tenho 99% de probabilidades de ter um filho mal-educado.

3) Se o estado não cumpre, porque tenho eu de cumprir?? E se eu cumpro o que ganho com isso?? Relembro que os malandros também dormem descansados.





Uma União Europeia Egoísta



Sobre este é que eu não concordo absolutamente nada (desculpa lá ser tão bruto). Gostaria de esclarecer, e por uma questão de justiça e transparência, que sou absolutamente contra esta Europa global e sem direito á diferença e ao individuo. Assim vou expor algumas das razões que quanto a mim levaram ao não dos países que ainda têm indivíduos que pensam por si e não são rebanhos de partidos ou pseudo-lideres.



1) Quem votou NÃO, foi o lavrador que tem 3 vacas na sua pequena quinta perto de Amiens, onde faz a sua própria manteiga, bebe do seu próprio leite e tem o seu próprio queijo, e de repente o governo de Bruxelas diz que tem de matar as vacas e comprar leite, queijo e manteiga da Holanda ou da Irlanda, pois as cotas assim o obrigam. Mais ainda lhe diz passado algum tempo que as vacas dos outros países estão contaminadas com uma loucura qualquer e que ele podem de repente começar a bater com a cabeça na parede do estábulo. Esta Europa não obrigado.

2) Quem votou NÃO, foi o lavrador que tem 1 hectar de vinha, onde faz o vinho para si e para a sua família, com excelente qualidade e barato, e lhe dizem que tem de arrancar a vinha e comprar o vinho no supermercado a preços exorbitantes e de baixíssima qualidade.

3) Quem votou NÃO, foram os habitantes das vilas e cidades que se aperceberam disto tudo. Reconheço que também há os politicamnete influenciáveis, mas esses não são os que fizeram a diferença.

4) Quem votou NÃO, são os que apesar de terem preocupações sociais e económicas, não querem que os seus filhos deixem de aprender Francês ou Flamengo ou sua língua mãe e deixem de ter amor ás suas raízes culturais e patrimoniais. Deves compreender isto bem pois já te ouvi falar várias vezes sobre Angola e sei o que sentes sobre a tua Pátria.



Muitas mais razões há para votar NÃO a este projecto especifico de Europa, mas desafio-te para um almocinho para trocar-mos pontos de vista.
publicado por JoffreJustino às 00:57
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Quinta-feira, 16 de Junho de 2005

As habituais asneiras de Pezarat…

Saiu, hoje, dia 15.06, um enorme volume, na VISÃO, sobre África 30 Anos Depois. Claro que, com esse título, esperava que ao abrir o volume me surgisse uma vasta colecção de textos, sobre este Continente que, já vários disseram, partiu mal para as suas Independências…mas não, tratava-se, somente, de uma colecção de material diverso sobre Angola, Moçambique, Guiné Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.

Enfim, a “África”, dita portuguesa…velhos hábitos…maus hábitos…contraditórios hábitos.

Irei fazer alguns textos, para este blogzito, sobre este enorme volume e, por um ódiozito antigo, reconheço, irei começar pelo texto do sr Pezarat Correia.

O discurso deste senhor é o habitual…e, para um militar responsável que terá sido, pelo menos responsável pela condução da guerra nas ex colónias portuguesas foi-o, tem como tese algo inusitado, “Foi violenta a descolonização porque tinha sido violenta a colonização”…velha tese, serôdia tese, de uma dita esquerda que, sinceramente, já mete dó.

Mais uma vez, este militar transforma a questão colonial portuguesa numa mixórdia, quando a mesma foi um complexo processo feito por movimentos diversos em circunstâncias anómalas.

Processo complexo, porque e a História deixou-nos documentos que o provam, em África, ao tempo da Expansão Portuguesa, vivia momentos de movimentações populacionais significativas, pelo que o aparecimento de mais um grupo populacional não era senão mais um entre todos os outros.

Processo complexo, porque e a História deixou-nos documentos que o provam, nos espaços ocupados pelo reino português, imperialmente dirigido, em um primeiro momento, se assistiu sobretudo à construção de uma complexa teia relacional entre este imperial reino e uma multiplicidade de “reinos” e reinos, que sustentaram a manutenção e um Império com 250 000 pessoas em 50% do Planeta, o que, só por si, é obra.

Processo complexo, porque, e a História deixou-nos documentos que o provam, em um segundo momento, o Império de dividiu quanto aos objectivos, para uns foi o comércio de escravos, para outros foi uma tentativa de colonização, de ocupação de espaços imensamente vazios e de inserção desses espaços à economia da época.

Processo complexo, porque se houve violência, houve também inserção, em lógica dominante/dominado, mas onde os enriquecimentos, até do esclavagismo, se distribuíram entre o Império português e os “reinos” e reinos existentes.

Processo complexo, porque e a História deixou-nos documentos que o provam, em um terceiro momento, o Império, já totalmente fragilizado, na sequência da retirada do rei para um outro continente, o americano, para a então colónia Brasil, e em fuga face às “invasões francesas”, iniciou um processo de “colonialismo do tipo anglosaxónico”, que se reforçou com a Conferência de Berlim, anulando a, já pequena aceitação das elites africanas, apesar de só a elas dever a manutenção do espaço “colonial”, por via de tratados e acordos com essas elites realizados.

Processo complexo, porque e a História deixou-nos documentos que o provam, é ao período salazarista, de 1926 ao final da II Guerra Mundial, o quarto momento, que se terá de assacar o essencial da definitiva anulação dessas mesmas elites, e o aparecimento, enquanto ideologia dominante, de um significativo apartheid, que só foi enviado para a gaveta aquando do iniciar da Guerra Colonial em Angola, em 1961.

Sou dos que descrê, totalmente, das “estatísticas” oficiais, em particular as que são apresentadas pelos inúmeros livros da ideologia “oficial”, de Direita e de Esquerda.

Sou dos que entende que só pode ter acontecido um significativo processo de miscegenização, bem maior que o admitido, durante estes séculos de relação.

Caso não tivesse existido, não teria sido assim tão fácil obter os tratados múltiplos que estão aí para provar as relações estáveis, não teria havido o comércio tão amplamente distribuído, do ponto de vista geográfico, não teriam existido as tropas negras ao lado das brancas por todo o espaço de expressão portuguesa.

Não é, pois, possível confundir o processo de colonização europeu com o processo de expansão português.

Como teimam alguns “intelectuais”, como teima o sr Pezarat Correia.

Em um quinto momento, a cabeça do Império, já definitivamente serôdio, e acompanhando, tarde, outros, como Norton de Matos, procurou revigorizar o reforço relacional, a partir da década de 50 do século XX. Existem inúmeros textos, de reflexão estratégica, de próceres do regime, que mostram esta desorientação, depois esta mudança de rumo, durante a década de 50 e ainda na década de 60 desse século já terminado.

Este quinto momento prolonga-se em um sexto, que só o assumo como tal, separado do anterior, por ter surgido a guerra colonial.

Treze anos de guerra. Em três cenários de efectiva guerra. Confrontando uma multiplicidade de culturas, de vivências, de estares.

Desses treze anos, é fácil esconder a verdade, mas a verdade existe para além do escrito, pode-se retirar o que segue – nós, os anticolonialistas, ganhámos na Guiné Bissau, empatamos em Moçambique, e estávamos verdadeiramente perdedores, no plano militar ressalve-se, em Angola.

Ao 25 de Abril de 1974, existiam, somente, focos de Resistência, bem localizados, não existia uma Guerra.

Pezarat esconde esta realidade. Qual a razão?

Só ele poderá contar, ele que esteve do lado contrário ao da minha barricada.



Joffre Justino
publicado por JoffreJustino às 14:22
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Domingo, 12 de Junho de 2005

Dos Orçamentos às Políticas...

Está aí para todos lerem, em particular em O Público, a polémica em volta da elaboração de uma análise crítica de um Orçamento de Estado.

Com uma conclusão, "condicional à hipotese de manutenção das políticas orçamentais existentes, de um défice previsível de 6,8%", na verdade, a "COMISSÃO CONSTÂNCIO", acabou por confirmar, somente, estudo previsional, feito com a mesma delimitação, por Bagão Felix, ao tempo em que era ministro das Finanças. Conforme artigo por ele publicado no Público "(15 dias depois de ter tomado posse) em relação ao próprio OE de 2004,...informei o primeiro ministro r o Conselho de Ministros...cheguei a um valor estático do défice de 6,4%".

O que importa então é que uns meses depois, duas comissões diferentes e seguindo basicamente os mesmos critérios apontavam para um déficit em crescendo, de 6,4% para 6,8%, denotando-se pois um agravamento da situação do déficit do Estado Português.

O segundo aspecto importante reside no facto do Governo Santana Lopes ter optado por silenciar esta realidade do déficit, em lógica estática, de 6,4%, enquanto que o Governo Socrates optou por uma lógica de maior transparência para com os portugueses, divulgando esta dramática realidade.

O terceiro aspecto reside na definição e implementação de políticas perante esta realidade, coisa que o Governo Socrates concretizou, a contravapor das suas políticas eleitorais, arriscando pois ser alvo de criticas, como tem sido, em duas vias - na contençao de despesas e na busca de receitas que não pusessem em causa o "Estado de Bem Estar", no médio/longo prazo.

Mais transparência foi, antes do mais, o que, todos, ganhámos. De facto, em nada o Governo Santana Lopes beneficiou com o silenciar da realidade - meses depois o seu próprio partido, como ele realçou, o desalojou do Governo, talvez em nome do não ficar com o ónus da potencial desgraça...já que, erradamente diga-se, Miguel Cadilhe "denunciou" Cavaco Silva pela evolução negativa das suas políticas remuneratórias na Função Pública. Digo erradamente porque o erro não esteve, na minha opinião, nessas políticas, estritamente aproximativas dos ratios salariais europeus, mas sim nas medidas de evolução das receitas capazes de as sustentar.

Na verdade, quando 20% da actividade económica, segundo o Banco de Portugal, não cumpre, ou não consegue cumprir, os seus compromissos, há algo que corre mal na economia portuguesa e é esse mal que tem de ser atacado.

Ora, na minha opinião, esse mal reside na inexistência de uma política adequada de aproximação efectiva dos niveis de qualificação dos portugueses aos niveis europeus. É esse o principal problema português, pois ele é a razão dos baixos níveis de produtividade, dos erros inacreditáveis de gestão nas Organizações, e da incapacidade em se adequar a um Mercado já Europeu.

A ver vamos como essas areas vão evoluir com o Governo Socrates...

Joffre Justino
publicado por JoffreJustino às 15:25
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Segunda-feira, 6 de Junho de 2005

Adorava ver seu tornozelo....

Até a minha mãe, professora de Religião e Moral, ficou chocada com o teor do artigo "Boas Maneiras na CGD", publicado no útlimo EXPRESSO, suplemento Economia & Internacional de 04.06.05.

Que a CGD esteja a realizar "cursos de boas maneiras" é assunto interno à CGD, a ela cabe analisar as necessidades de formação dos seus funcionários e se detectou esta fragilidade a ela cabe encontrar as alternativas que permitam que a mesma seja ultrapassada..

Mas que no mesmo curso estejam enquadradas normas "de bem vestir", nao pelo tema em si, de novo cabe à CGD analisar as necessidades dos seus funcionários, mas pelo teor do apresentado no artigo em causa, é que visivelmente se estão a ultrapassar os limites do fôro intimo de cada um dos seus funcionários...

Houve tempo em que no Porto, num liceu feminino, contou-me a minha mãe, uma "reitora" apalpava as pernas das professoras a ver se as mesmas usavam realmente collants, já que na época se iniciara a moda dos collants quase transparentes...

Pois parece que estamos regressados a esse tempo, onde, também, um cavalheiro, professor, se metia com as colegas que apareciam de calças para dar aulas...

Esta acção de "boas maneiras" considera, assim, inadequado que uma funcionária CGD use saias com 2,6cm acima do joelho, (ja que o comprimento regulamentar da saia impõe um máximo de 2,5cm acima do joelho, ou, segundo o EXPRESSO, "ligeiramente abaixo"...com entende que "as gravatas, dos homens, "não devem ser de poliester", que não devem ser de "grandes padrões ou com bonecos" e que as meias, dos homens, devem, "ser da mesma cor das calças ou dos sapatos...ao andar não devem ser vistas...devem ser suficientemente compridas para não se verem as pernas sentado"...

Quanto ao calçado e segundo o EXPRESSO, as funcionárias não podem "...ter demasiadosa aneis...", "usar mules (sandálias fechadas à frente"....

Estamos, pois, regressados, quase, ao momento mais vitoriano do século XIX, no mínimo aos momentos mais escabrosos do século XX, onde uma mulher era forçada, em Portugal, a entregar a sua remuneração, do seu trabalho, ao seu "chefe de família"....

Desta forma se vê a capacidade de adaptação aos dias de hoje do sistema financeiro português. Em pleno 2005, século XXI, existindo constitucionalmente, o principio da liberdade de expressão, que tem de ter em conta que vestir é uma forma de expressão, um louco qualquer, entende ter o direito de impôr aos outros, numa empresa que na realidade vive do Estado, de todos nós enfim, pelas regalias específica que detém, a forma de vestir.

Sou do tempo em que, aconteceu comigo, uma professora, em Luanda, no Liceu Salvador Correia, se podia dar ao luxo de suspender, por um dia, um aluno que usasse, em plenos 30 e muitos graus de temperatura, a camisa "desfraldada", isto é fora das calças...

Sou do tempo em que, era urgente contestar este tipo de comportamentos.

Fi-lo.

Hoje sinto-me siderado com este tipo de imposições aos funcionários de um Banco em Portugal.

E, ficando, indigno-me.

Normas de "boas maneiras"?

Sem dúvida.

Apoio ao funcionário na adequada gestão da roupa, na côr, no Preço/Qualidade até, concordo - apoiar a superação do mau gosto, tem todo o meu apoio.

Daí a entrar em regras quanto ao mostrar mais que 2,6cm das pernas de uma cidadã, ou uns cms das pernas de um cidadão....

Daí a impôr, em Portugal, país de mais de 30º no Verão, que as cidadãs tenham de utilizar collants....

Que tarado sexual anda por detrás da CGD?

Que tarado tem medo do corpo, hoje, 2005, em Portugal?

Que tarado continuará a achar que bikini deveria ser proibido, (só pode...), nas praias de Portugal, como sucedia bem antes do 25 de Abril, ou que os casais não se podem beijar nas ruas, como sucedia também, antes do 25 de Abril, (relato estorias que aconteceram...)?

O sistema financeiro, abusa ja dos Portugueses. O sistema financeiro, tem demasiadas regalias, já, em Portugal. Esta "regalia", a de entender que se pode imiscuir na vida das Pessoas, no estar das Pessoas, esse não pode ter...

Porque a Democracia não é somente o Direito a Votar no partido A ou B.

A Democracia é também o Direito a viver, desde que se respeite os outros, como cada um entender...e o uso ou não da maquilhagem, das saias acima, ou não dos 2,5cm, das meias de homem serem ou da côr das calças e dos sapatos, ultrapassa o direito que uma empresa tem em definir e usar a sua imagem de marca...porque mostra claro desrespeito pelo outro(a)...o seu ou a sua funcionário(a).

Perante tal, sugiro, seriamente, que se proteste junto dos Recursos Humanos da CGD.


Joffre Justino
publicado por JoffreJustino às 11:00
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