Terça-feira, 3 de Novembro de 2009
Caro Joffre Justino
Recebi a sua confusa prosa, onde se misturam muitas coisas.
Não conheço de perto a realidade concreta das Freguesias de
Lisboa de que fala.
Mas conheço muito bem a realidade autárquica, onde se
multiplicam os entendimentos do PS com a direita, por todo o
País. Aqui, em Coimbra, posso dar dezenas de exemplos.
Discordo, portanto, de uma visão de que o PS pode fazer
entendimentos com a direita, onde bem lhe aprouver, mas
o PCP estaria condenado a só poder falar e entender-se
com o PS. Por que carga de água ?
Nas Autarquias, os entendimentos para formar executivos
nas Freguesias, ter ou não ter pelouros nas Câmaras, devem
ter sobretudo em conta as pessoas em concreto e as reais
condições para que os eleitos de esquerda possam exercer os
seus mandatos e executar os seus programas de esquerda. Essa
é a minha experiência concreta, de quem foi impedido de exercer
pelouro na Câmara de Coimbra por uma maioria autoritária do PS,
que de bom grado ajudei a derrotar em 2001. E que me permitiu
exercer à esquerda durante os últimos 8 anos o Pelouro da Habitação
, numa Câmara de maioria PSD.
Em nome da cidadania, gostaria que divulgasse este meu depoimento
por todos aqueles a quem mandou o seu texto.
Uma Clarificação Necessária
O texto acima veio-me do email do senhor Gouveia Monteiro, que, ao que parece, será vereador do PCP, no mínimo, da CDU, em Coimbra. E como este companheiro de lides autárquicas, com bem mais responsabilidades que eu, solicita que eu divulgue a sua opção pelos mesmos meios que utilizei no texto anterior As Opções de Direita, Reaccionária, do PCP.E As Populistas do PSD entendi de imediato corresponder informando-o que iria fazê-lo neste contexto o de um debate!
Como estou a fazer. Disse-lhe que o faria amanhã, mas optei por o fazer já hoje
.
Já o informei, mas volto a fazê-lo, cometi um erro no texto anterior e que cito acima, troquei a JF de Santa Engrácia, pela JF de Santo Estêvão, aquela onde sucedeu a coligação PCP/PSD, a par da JF de São Vicente de Fora, e como soube agora, também na JF dos Anjos, onde o PCP se coliga ao PSD.
Penso que o texto do senhor Gouveia Monteiro é muito claro, provavelmente bem mais claro que os meus, ( ele queixa-se disso
), e o argumento que usa é bem simples se o PS pode fazer coligações à Direita então porque raio não o pode fazer o PCP?
Respondo eu de imediato com a mesma simplicidade e se o PCP o faz, porque raio não o pode fazer o PS?
Mais ainda, o PCP acha natural fazer uma coligação de Governo, (municipal mas Governo), numa das mais importantes Câmaras do País que permite ao senhor Gouveia Monteiro, diz ele explicitamente, exercer à esquerda durante os últimos 8 anos o Pelouro da Habitação , numa Câmara de maioria PSD. Não por 4 mas por 8, 8 anos note-se, um comunista coliga-se com o PSD e pensa que governou à esquerda
.!
Santa ingenuidade, se me perdoarem!
Sou, note-se, dos que entende que os cargos municipais deveriam ter uma característica mais representativa o que forçaria, sem dúvida, a que os acordos políticos fossem mais públicos, pois, se era forçoso o entendimento, por representatividade no Executivo Municipal, então a Governação Municipal seria imposta pela regra do eleitorado e não pela regra do cambalacho politico.
Por isso nem acho mal que o senhor Gouveia Monteiro esteja no cargo em que está exercendo as funções que exerce.
Acho mal é que o faça com a ingenuidade que apresenta, pois de facto a sua presença, por não resultar linearmente da eleição é uma presença que justifica uma politica a do PSD, somente.
Não pode pois é assumir, para o terreno da propaganda, que o PS se coliga à Direita, achando tal, mal, e esquecer que se encontra em uma coligação de Direita, ele também. E que se encontra, goste ou não, a servir os interesses da Direita.
Também já o escrevi por demasiadas vezes, não vejo qualquer mal em o PS se coligar com o PSD, para a governação do País, em determinadas circunstâncias defendi o Bloco Central por causa disso e defendo que é um grave erro democrático não haver uma coligação a governar hoje o país, dada a crise mundial e interna que vivemos.
Preferiria, para tal, uma coligação de Esquerda, a uma coligação de Direita, sem dúvida, mas, se o PSD retomar a politica de bom senso e de realismo que teve anos a fio, e se o PCP continuar na sua politica de sectarismo face ao PS, não entendo mal em que haja uma coligação PS com o PSD, em nome do Desenvolvimento económico e social, da Estabilidade politica económica e social, e da recuperação rápida face a esta crise que ainda pode vir a tornar-se em dramática.
Mas a realidade que analisamos é outra.
Pela segunda vez, perante propostas de coligação, uma parte da Esquerda, uma parte do PCP, recusa a coligação entre a Esquerda e parte para a aventura à Direita, para a sustentação de politicas de Direita, em seu nome.
É um direito que o PCP tem.
O de virar à Direita, o de se assumir cada dia que passa pelas Direitas que entender.
Não pode, depois, é criticar os outros.
Por fazerem o mesmo.
Sobretudo quando, se confrontados com uma proposta de coligação, alinham em uma outra coligação, uma de Direita e não uma de Esquerda.
Porque só há uma ilação a tirar de tal.
É que querem mesmo que a Direita governe o pais, no Governo Central mas também nas Câmaras Municipais e nas Juntas de Freguesia do Pais.
E que resultado terá tal?
O desvirtuar da Esquerda em primeiro lugar.
Note-se houve proposta explicita de coligação à Esquerda!
O desvirtuar do PCP em segundo lugar.
Note-se como o PCP perde eleitorado de eleição para eleição em nome de nada, pelo menos para a Esquerda.
O confundir o eleitorado em terceiro lugar.
Olhemos para a abstenção, para os votos brancos e nulos.
O pôr-se em causa a Democracia em quarto lugar.
Porque o erro não está na coligação, já o disse, está na escolha de coligação que se faz e o PCP está a optar pela coligação sob a alçada da Direita.
Esse é o erro.
Joffre Justino