Quarta-feira, 16 de Fevereiro de 2011
Anda uma enorme tempestade no céu, parafraseando uma citação chinesa, sendo que o céu é, claro, o espaço dos mandantes, dos poderosos, não o nosso, que ronda mais lá para os lados do Purgatório... que a Igreja Católica parece ter recentemente eliminado, mas que, neste contexto, sócio político, continua a existir.
Felizmente temos, nós os viventes em Portugal, a vantagem de vivermos em Democracia e a clara desvantagem de em Democracia vivermos.
Convém esclarecer que os debates que por aqui vou dinamizando, muitos com as outras Esquerdas, a maioria deles, e ao contrário do que pensam aqueles que comigo se zangam, é feito na mesmíssima boa intenção que orienta o texto de hoje de Rui Tavares deputado independente do BE no Parlamento Europeu.
Diz ele,
“A culpa é do outro partido. Mas permitam-me sugerir um ponto de partida diferente : e se não fosse?”
Eis porque digo que anda uma enorme tempestade nos céus.
Por um lado surgem Moções de Censura, da Esquerda contra a Esquerda, e, por outro, surgem questões, entre os que levantam as Moções de Censura e, claro, entre os que são alvo das mesmas.
Surgem pois pequenos, mas existentes, espaços e momentos de aproximação.
A par de momentos de zanga claro.
Vejamos os novos números da crise e as suas leituras e, claro, vejamos tal comparativamente, como convém.
A Grécia no último trimestre de 2010, mostra uma quebra do PIB de 1,4% e, em termos homólogos, essa quebra é ainda bem maior – 6%!
Portugal teve no último trimestre uma quebra de 0,3%, e em termos homólogos, mostra uma subida de 1,2%!
A União Europeia mostra-se com um ultimo trimestre de 2010 em muito lento crescimento - +0,3%!
Em termos anuais, Portugal mostra uma economia a crescer, + 1,4%, o que é sem dúvida, por pouco que se queira assumir, uma muito boa noticia, pois cresceu cerca de 4 vezes mais que a sua zona económica!!
Talvez fosse útil aos analistas pensarem que a quebra do PIB deste último trimestre seria bem expectável, pois foi o trimestre que sofreu os impactos psicossociológicos dos cortes orçamentais, das reduções nos salários da Função Pública, das adaptações das Famílias a essas realidades e, claro, dos desgraçados debates em volta da Crise, durante a Campanha eleitoral para as Presidenciais!
E a economia, dizem os gurus, que não eu, que é sobretudo um estado de espírito e os seus aproveitamentos claro.
E como, todos os dias, a comunicação social, visivelmente, vive em uma atitude, em geral, anti portuguesa, (goste de ouvir tal ou não, desliguei dessa preocupação há muito tempo), iremos ter muito que passar, ainda, durante este 1º trimestre de 2011, ( e um pouco mais estou certo), pois para ela, e para os analistas “sérios”, Portugal morre na praia toda a vez que vai aos mercado, para depois tudo só vir a acontecer na próxima!
É aqui que tenho de voltar a falar da Deolinda.
Expliquei ao meu filho, triste que ficou porque esperava mais do meu texto anterior, que, entre 1974 e 1980, dos meus 23 anos aos meus 26, nunca tive um emprego que não fosse precário!
Entre traduções, contar pregos e parafusos, dar aulas, este vosso “economista”, ( a Ordem diz que só sou licenciado e não economista porque não me inscrevi na mesma…), só teve o seu primeiro emprego certo em Agosto de 1980!
Parece que alguns já se esqueceram de tal!
Parece que não se lembram das reivindicações do Sindicato de Professores da Grande Lisboa, e eu fui dirigente deste sindicato entre 1978 e 1980, sobre as entradas dos professores, a larga maioria em Novembro, e o abandono obrigatório em Julho, (estávamos sempre três meses por ano sem auferir uma retribuição), e que tinham em muito a ver com a precariedade do emprego à época entre os professores!
E era o mesmo em muitos outros sectores, situação que, aliás, vinha de antes, perante a explosão de licenciados havida depois de 1968769….
Vivia Portugal nesses tempos uma imensa crise, resultante da perca do Império, do regresso de mais de 600 000 pessoas das ex colónias, da instabilidade política, dos impactos das fugas de empresários, das nacionalizações, da reforma agrária, da contestação social e política acesa e daí a instabilidade no Mercado de Trabalho.
Hoje as circunstâncias são outras, mas os resultados são muito próximos.
Ainda há bem pouco tempo lidei com um(a) jovem licenciado(a) em engenharia da Qualidade, que está com um emprego precário numa das call centers da PT, e ponho o tema no genérico não vá o diabo tecê-las.
Está esta pessoa “contratada” como “empresário(a) em nome individual”, ganha à tarefa, e, claro, não se sente nada feliz com a situação.
Mas na verdade, garanto, que foi de um profissionalismo impecável na resolução do problema surgido!
É a crise, poderia dizê-lo, sem mentir e ficar-me por aqui.
Mas, na verdade, o problema está para além da crise.
Está numa política de contenção de custos com os recursos humanos, que se generalizou pelo país, à medida que os sindicatos, no sector privado, perderam força pelos erros que cometeram.
Já o relatei, e recordo, a titulo de exemplo, é inaceitável que as empresas de distribuição não devam ser forçadas, como as outras, perante cada venda, a fornecerem factura recibo, que só deve ser passado quando solicitado pelo Cliente!
Como é inaceitável que os salários nesse sectores, estejam ao nível de um salário mínimo nacional que só atingirá os 500 euros este ano e porque o Governo, na verdade, o impôs!
Como é inaceitável que não se controlem os call center e as suas funções e rentabilidades!
O problema está no facto de haver que lidar com as questões da distribuição do rendimento, com medidas para além das politicas de Estado e de Governo, isto é, com actividade sindical não partidarizada e que tenha sobretudo muita criatividade, que não se atenha a greves sem significado para além da redução da competitividade portuguesa, crime que todos os cá viventes pagam a seguir, todos e não só os que o cometem, com mais e mais impostos.
A Deolinda da Canção tem pois razão em estar indignada!
Mas a Deolinda da Canção, mas sobretudo as Deolindas que a cantam, terão de estar atentas, pois é na defesa dos seus Direitos que encontrarão soluções e a defesa dos seus direitos não passa só nem sobretudo, pela política partidária, pela critica ao Governo.
Passa por lutar por um outro sistema económico e social.
E a luta por esse sistema é feita, no concreto, com pequenas medidas, com pequenos gestos, com pequenas e aparentemente inúteis, aparentemente não revolucionárias, aparentemente não heróicas, atitudes.
Como, desculpem-me o abuso, assinar a Petição pela Regulamentação Internacional das Agencias de Notação em http://www.peticaopublica.com/?pi=P2011N6501 !
Porque, regulamentando esta actividade, teremos decisões credíveis em volta das classificações dos Estados e não meras campanhas anti Estados como hoje existem!
E ao termos tal teremos uma economia mais sã, melhor distribuição dos rendimentos, mais participação na vida da economia, da sociedade e da política e, por isso, Mudança!
Recordo mais uma vez, ao contrário de Angola, onde ontem se deram graves confrontos entre a policia e os cidadãos que comemoravam o regresso de António Caputo ao Bailundo, o que originou 15 presos e um policia ferido, em Portugal há, felizmente, Liberdade de Expressão generalizada, enquanto que em Angola, tal não acontece, havendo regiões do país onde dá direito a prisão e a violência, o colocar bandeiras partidárias e o saudar quem acabou por não ser injustamente preso!
Porque não é no Local que lidamos com esta hodierna realidade!
É no Global!
Isto é, temos de pensar o Mundo e Agir de outra forma!