Domingo, 6 de Fevereiro de 2011
O Bloco Tesoura nao é um conceito operacional novo na vivencia política portuguesa.
Ele foi ensaiado pela primeira vez com o Governo PS/CDS e tinha como objectivo, também, ainda que não só, originar o desagregar do então PPD, gerando uma nova tecitura política em Portugal, com um CDS forte, à Direita, e um PS forte, ao Centro Esquerda, dado que o PCP se mostrava, na Esquerda, um reduto difícil de bater…
Como sabemos este ensaio foi um total fracasso, tendo sido, não só mas em muito, razão para a vitória da AD em 1979.
Sou dos que entende que estamos a assistir a um novo ensaio para a criação de um novo Bloco Tesoura, agora numa aparente coligação de interesses PSD/PCP, para desagregar agora o PS.
Cabe-me o direito, feito da experiencia vivida enquanto autarca de uma Junta de Freguesia, de colocar em reflexão as possíveis consequências deste novo Bloco Tesoura, PSD/PCP, onde o patrocínio da Presidência da República é visto, por alguns, como essencial, para acontecer.
Note-se que um assessor da PR, e bem, saiu a terreiro em defesa do PR, em face dos resultados eleitorais por ele obtidos e das leituras que os mesmos têm originado.
Claro que nao concordo com o escrito no Expresso e, como o texto em causa merece uma alargada reflexão, opto por avançar a quente, aqui integrada no contexto desta tese sobre o novo Bloco Tesoura..
Já o disse, já o escrevi - o elevado absentismo, à Direita e à Esquerda, que leva a que o actual PR seja eleito com 23% dos votantes a seu favor, e com o segundo candidato mais votado com cerca de 9%, é de extrema gravidade, não somente para o PR eleito, mas para o Regime Democrático.
É somente neste contexto que entendo que a Presidência da República, mas também todos as instituições políticas, devam passar a gerir (e a gerirem-se), com extrema cautela, a actual situação.
Em nome da estabilidade da Democracia.
Reafirmo também que sou dos que entende que vivemos um momento de crise especial, porque global, porque demonstrativa da frágil ganância do seu elemento motor até ao momento, o sector financeiro, porque gerado numa economia largamente integrada, mas selvaticamente desregulada.
Mas também porque inserido num momento de significativa conflitualidade, já não de ideologias, mas de religiões, parte especifica das ideologias, em parte significativa do Planeta, conflito em volta do qual a Democracia nasce, mas também treme, porque obrigatoriamente laica e Tolerante.
E, ainda, porque vivemos um tempo em que os Ricos do Planeta se confrontam com as Misérias e os Novos Miseráveis do mesmo, os verdadeiros Novos Proletários, Misérias geradas nos últimos 200 anos, o tempo da anterior fase globalizante, a Revolução Industrial, de domínio anglo saxonico.
É uma Crise complexa esta, e nela já houve quem dissesse que o paradigma central da mesma seria o das Incertezas!
Oras as Incertezas nunca foram motivadoras em si, pelo que ou assumimos uma resposta aos temores gerados pelas Incertezas, ou arriscamo-nos a gerar crescentes desencantos nas Democracias e a alimentar, nas partes Miseráveis do Planeta, as próximas, religiosas e sectárias ditaduras e o agravar dos Conflitos Civilizacionais.
É neste contexto que teremos de analisar este novo ensaio de mais um Bloco Tesoura.
Como vimos não sou dos que entendem que o mesmo é original, nem pecaminoso em si, pois o PS já o incentivou, com resultados como disse, para ele desastrosos!
Mas deixo-vos a seguir um cenário possível, um dos muitos, tendo em conta a realidade hoje vivida.
Dir-me-ão que o absentismo e algo natural nas Democracias.
Não é verdade, pois é de facto algo particularmente pernicioso para as mesmas, e estes últimos anos são de tal prova, com o particular exemplo das vitórias Bush, baseadas no absentismo e ao mesmo tempo numa votação militantemente religiosa e fanática – para a defesa de interesses escusos nasceram, por anos a fio, guerras inúteis, violências generalizadas, apoio das Democracias a Ditadores ou a "democracias autoritárias" , ( não me escondo e assumo aqui o apoio lamentavelmente dramático da petroleira família Bush ao MPLA de José Eduardo dos Santos, e claro, não a todo o MPLA).
Factos que começaram a limitar-se com o crescimento da participação eleitoral, nos EUA, com o surgimento da esperança Obama e e nestes últimos meses, com as circunstâncias que vieram gerar outro tipo de novos movimentos em parte importante no segmento Miserável do Planeta, como temos visto ultimamente.
E mesmo assim movimentos de razoável inconstancia.
É neste contexto que Portugal vive a sua crise, com uma instituição eleitoralmente fragilizada, a PR, um governo minoritário, e com um AR fortemente dividida e sectariamente enquistada.
Eis porque me tenho esforçado a apelar ao bom senso, à negociação e, em particular, à existência de governos de salvação nacional.
Pois a leitura da realidade não me mostra a existência de uma qualquer revolução à vista, mas sim a visão de múltiplas contra revoluções, antidemocráticas, a nascerem….
Como sabemos nao sou único, nem o mais importante, dos que fazem estes apelos mas os resultados, todos o temos visto, têm sido insignificantes.
Pior que isso.
O que se tem assistido é a um acréscimo de sectarismo, à Direita e à Esquerda, com uma parte da Direita, da religiosa, um segmento pelo menos da Opus Dei, a empurrar o seu eleitorado ao absentismo, e uma parte da Esquerda, o PCP, a alimentar o puro divisionismo ideológico aparelhista, como se viu nas Presidenciais.
Ambos na verdade, conscientemente ou inconscientemente, (vamos acreditar que seja na segunda hipótese), a procurar desintegrar a Democracia.
Desacreditando-a.
Numa fase em que algo semelhante sucede no campo planetário dos Miseráveis, mas aí somente por via da actividade do segmento religioso islâmico.
Pois, aí, o segmento ideológico sectário de Esquerda já foi anulado, como vimos suceder com a OLP destruída e passada pelas armas, pelos islâmicos do Hamas.
A lógica anticapitalista, antidimitroviana, de um sector importante do PCP, tem-se desenrolado, note-se, com um sentido estratégico impressionante.
Começou no período eleitoral pós 2005, com alguns ensaios autárquicos, onde o PCP se coligou ao PSD, para derrotar o PS .
Sempre com resultados bons para esta estratégia note-se, deixada passar em branco à Esquerda, como se nada fosse…
No pós 2009, essa mancha coligatória espúria alargou se, e ganhou o cimento que justifica a recusa comunista em apoiar Manuel Alegre, e mais, em considerar as ultimas eleições presidenciais como tendo sido uma vitória do PCP, mesmo tendo este partido tido o pior resultado de sempre.
Jerónimo de Sousa deu, entretanto o mote - alargar o Bloco Tesoura à AR, com uma moção de censura ao governo, que imponha a vitoria deste Bloco Tesoura sobre a governação minoritária socialista.
Há que criticar este grave erro, de uma parte da Direcção comunista, pondo em reflexão, à Esquerda, o que será ou uma governação neo liberal, ou uma governação de sistemática instabilidade, neste momento de crise interna e global e num país endividado e económica e socialmente fragilizado.
Porque nao será a derrocada do capitalismo a que se assistirá, mas sim à derrocada do nosso regime democráticos e tolerante, substituído, a prazo e após as sistemáticas fragilidades governativas que se sucederão, por regimes sectários, autoritários, e totalitários, prontos para uma guerra civilizacional entre islamismo e cristianismo.
E onde acontecerá ao PCP o que sucedeu a OLP - o dramático desaparecimento pela passagem das armas.