Quarta-feira, 14 de Setembro de 2005
O fragmento de Eduardo Alves da Costa:
No caminho com Maiakovski
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
(enviado por Fátima Fonseca...)
Há quem pense que o medo não é natural e que, por isso, se envergonhe do medo que tem.
No entanto não ha nada mais natural que ter medo. Ele ajuda-nos a entender os limites da criatividade, das "loucuras", das exaltações, das ansiedades e a superá-los.
Infelizmente nem sempre entendemos o medo assim. O medo coibe-nos em passos seguintes porque nos envergonhamos do dito, em particular no em face dos outros. O medo, pois, leva-nos, tantas vezes, aos silêncios e, esses, sim, são dramáticos.
Este arrazoado leva-me a pensar nos meios, intermédios, que, entre o silêncio e a expressão frontal, nos ajudam a assuirmos, na vida, a superação do medo.
Um deles é, precisamente, o voto secreto, directo e universal, aquele papelinho que nos limpa de silêncios perante os poderosos do dia a dia, os arrogantes do dia a dia.
Eis o que muitos se esquecem a enorme função, psicológica até, deste papelinho que periodicamente enfiamos em algo que denominamos "urna"....
É claro que em outros momentos o papelinho é insuficiente, em particular nos "durantes", onde,mesmo perante a ameaça dos ditos papelinhos, a arrogância sobe à cabeça de alguns.
Por isso é que o papelinho não é suficiente - por isso esta nova batalha pela democracia participativa, onde entram, a distribuição de poderes, os partidos da oposição, os sindicatos, as ONG's, a comunicação social, etc.
Mesmo assim novos dramas têm surgido, sendo, hoje o principal, a tendencia para a amalgamização de interesses entre este conjunto de elementos que deveriam aplainar medos, neutralizar indiferenças e motivar as pessoas para o serviço à comunidade.
Tratarei ainda mais deste tema, mas por hoje fiquemo-nos por aqui....
Joffre Justino