Sexta-feira, 14 de Agosto de 2009
Estamos pois na madrugada de 31 de Janeiro de 1891, no Porto. O Ultimatum britânico a Portugal, a cedência vergonhosa do rei, Carlos, e do seu governo às exigências do Império britânico, a 1ª demonstração da falência do Império português, tinham já feito explodir Lisboa e até pelos Algarves se falou em Revolução, segundo João Chagas que foi até lá ver o que se passava quanto ao descontentamento popular, face a uma monarquia de vergava perante uma corte estrangeira.
Nesta madrugada, o batalhão de Caçadores nº9, liderada pelos seus sargentos, o tentente Malheiro e o Regimento de Infantaria 18, o tenente Coelho e o Regimento de Infantaria 10, e ainda uma companhia da Guiarda Fiscal, e, em frente ao antigo edifício da Câmara Municipal do Porto, ouvem o seu leader, Alves da Veiga, a declarar a implantação da Republica.
Nasce aí a raiz da actual Bandeira Portuguesa, pois é hasteada pela primeira vez uma Bandeira verde e vermelha, sendo, mais uma vez, cantada a Portuguesa, o Hino que será, depois do 5 de Outubro de 1910, o Hino do país, pois transformara-se no Hino mais cantado e divulgado em Portugal, na sua revolta anti britânica.
O 31 de Janeiro de 1891, foi uma revolta contestada, mesmo por entre os Republicanos, duvidosos quanto à eficácia da mesma, e duvidosos quanto á sua liderança, mas foi o despoletar de uma decisão a de que a Monarquia tinha de cair, por todos os meios.
Movimento militar foi também civil pois a Declaração da Implantação da Republica foi acompanhada por uma significativa multidão, tendo morrido, pelo ataque violento de que foram alvo os revoltosos, nunca menos de 12 pessoas e tendo ficado feridas nunca menos de 40.
De facto, mesmo que rapidamente derrotado, este 31 de Janeiro transformou-se rapidamente num símbolo do que iria acontecer tarde ou cedo. E, como diz Oliveira Martins, O Porto foi e ainda é a capital do pensamento democrático português.
O Porto foi o foco donde todos os movimentos restauradores da nossa sociedade partiram;
Foi assim em 1820, para expulsar os ingleses e obrigar a corte a voltar a Portugal.
Foi assim em 1826 para proclamar a Carta Constitucional.
Foi assim em 1833-34 quando se expulsou D. Miguel.
Será assim em 188
quando se puser termo à ditadura de miséria que a nossa fraqueza tolera e que vive apenas pela nossa inércia, terminando com esta frase premonitória Oliveira Martins este texto.
Regressando à Bandeira, a mesma, a aposta na Câmara Municipal do Porto, era a Bandeira do Centro Federal do Porto e de raiz maçónica e pretendia acentuar a raiz republicana do Movimento também dadas as características deste Centro, bem activo, ao contrário do que hoje vai sucedendo, pois, infelizmente, os actuais Centros Republicanos, uns não existem na prática, outros mantêm-se com dificuldade e outros, como se viu recentemente, com o histórico Centro Botto Machado, servem para vinganças pessoais e para campanhas partidárias anti PS
Note-se que os Republicanos que lideraram este Movimento eram municipalistas, daí as Declarações, a do Porto e depois a de Lisboa, serem feitas nas varandas das respectivas Câmaras Municipais, ( e diga-se que em geral era uma Visão de todos os Republicanos), mas também Federalistas e Ibéricos
.resultado sem dúvida da forma como eram vistas as cortes portuguesas e espanholas pelos respectivos Republicanos e restantes oposicionistas de então
Foi assim que nasceu a Bandeira Republicana, verde e vermelha, e que é, agora a Bandeira de Portugal, gostem os monárquicos ou não, como é também a Bandeira do Município, aquela que os do 31 da Armada roubaram.
Dói-lhes ter sido mudada a Bandeira? Dói-lhes ter acabado a Monarquia? Seria bom que assumissem, antes do mais, que foi a própria Monarquia quem criou as condições, afectivas, sociais, culturais, para que em Portugal se implantasse a República.
O que não fazem. Nunca fizeram
orgulhos balofos, humildades inexistentes.
Joffre Justino
(Presidente da Academia de Estudos Laicos e Republicanos; Director Pedagógico da EPAR, Escola Profissional Almirante Reis)