Quinta-feira, 21 de Julho de 2011
Não tenho sentido estético, nem formação suficiente, académica ou outra, que me permita fazer apreciações sobre a Bienal de Cerveira, que tive a oportunidade de visitar este fim de semana, numa excursão organizada por uma associação de artistas com o apoio da Câmara do Seixal, e onde fui por incentivo da minha irmã, Helena Justino, pintora e o meu cunhado Manuel Rodrigues Vaz, jornalista e critico de arte.
Posso, simplesmente, repetir o que me disseram, que se trataria de um dos eventos mais interessantes destas 16 bienais já vividas em Vila Nova de Cerveira, e que eu apreciei significativamente as suas componentes na pintura e na fotografia e bem menos na componente que denominarei de digital.
Mas, quem sou eu?
No entanto, já sinto ser meu dever a divulgação da minha extrema preocupação, quanto à evidente crise que vi ser vivida tanto no Porto, como em Caminha, (onde estava a acontecer uma bem curiosa Feira Medieval com uma forte, talvez demasiada, participação de artesãos e comerciantes galegos e uma bem mais pequena participação portuguesa!), como as fotos acima mostram – edifícios abandonados enorme, demasiada, profusão de placas com edifícios e apartamentos à venda).
O Porto então, terra de meus pais e onde ainda tenho parte da minha família, está um autêntico Desastre!
Edifícios abandonados, degradados, colocados à venda com a impressão de o estarem há já um bom tempo, relevam a existência de uma bem frágil e estagnada economia, por todos abandonada, pois, então na actividade económica em geral o que se vê são lojas vazias, escritórios abandonados, por toda a parte histórica desta maravilhosa cidade, uma das raízes de um que foi forte Império e de uma mais que dinâmica Urbe!
(Felizmente ainda está bem forte e presente o FCP!...).
Não se entende, aparentemente, como tal pode ser possível, pois a Região do Norte ainda é fortemente beneficiária dos financiamentos comunitários, dando a clara sensação de o município ter assumido uma posição de Deixandar até considerando o desleixo em jardins, nos passeios e no estado das ruas!
Pretenderá este município deitar abaixo as raízes históricas do Património Construído Portuense?
Se não pretende, garanto que bem que parece!
Dói, a quem gosta do Porto, ver o estado a que esta cidade chegou e, mais que dói, assusta imaginar, o que tende a suceder no futuro imediato, tendo em conta a crise financeira do Estado e do município e, portanto, a sua incapacidade em dinamizar uma política de requalificação da Cidade.
Segundo a Federação Portuguesa da Indústria da Construção e Obras Públicas, no 1º trimestre de 2011, “Ao nível da produção, verificaram-se quedas na generalidade dos índices, que atingiram 20,9% no segmento dos Edifícios Residenciais, 11,9% no segmento da Engenharia Civil e 5,1% no segmento Não Residencial Privado.”, e, ainda, “Efectivamente, a evolução do peso dos desempregados oriundos do Sector no desemprego total tem vindo a crescer significativamente nos últimos anos. Enquanto em 2008, em termos médios anuais, o peso era de 10,2%, em Abril já correspondia a cerca de 14,6%, numa clara tendência ascendente, contribuindo de forma bastante expressiva para o aumento da taxa de desemprego nacional.”, o que releva que a crise, neste sector, vem de 2008, caindo em cima da crise mundial que nos afecta enormemente, país de economia aberta que somos.
Na verdade, desde, ao que parece, 2008 que chegámos ao fim de um ciclo, que poderemos denominar do ciclo “uma casa para cada família e uma rotunda para cada esquina” que, porque somos um país com uma classe média de baixos rendimentos, ( com um salário médio nos 800 euros como poderia ser de outra maneira…?), e porque somos um país de evidente decrescimento demográfico, só durou, e à custa dos financiamentos comunitários, 22 anos.
E, note-se, durou tanto tempo porque houve, felizmente, muita Obra Pública a fazer, em consequência do laxismo social do regime salazarento .
Na minha humilde opinião, realço que ainda não atingimos o auge da “bolha do imobiliário à portuguesa”, pois o excedente de habitações é evidente, e, ainda por cima, o parque habitacional antigo, detido em boa parte por esta classe média portuguesa totalmente descapitalizada, ( sei bem o que é ter um edifício com rendas com um máximo de 1,35 euros mês e um mínimo de 97 cêntimos, mês), não terá quaisquer condições para recuperar estes edifícios e, sequencialmente, colocá-los em regime de arrendamento, para Jovens casais (que, aliás, hoje, vivem em regime de baixos e instáveis salários), como já vi a CIP defender como medida de ultima instância para fazer recuperar este sector!
À excepção do, claro, já significativo parque habitacional detido pela Banca portuguesa depois das falências das famílias que detinham edifícios e apartamentos por este país fora, pois essa sim terá capacidade de retoma com alguma vantagem, mas certamente de resultados bem diminutos, dadas as características remuneratórias dos Jovens casais.
E falo nos Jovens casais porque os Jovens sós esses manter-se-ão nas casas dos pais enquanto puderem, como fazem há já vários anos!
Definitivamente, cabe aos municípios encontrarem soluções, de Comunidade, para apoiarem medidas de recuperação do parque habitacional histórico, geradoras da recuperação das empresas da Construção Civil e do Imobiliário e, também, das famílias detentoras de edifícios e apartamentos.
Soluções que necessitariam do apoio do Estado, no plano do Investimento.
Ora como o Estado está falido, como redinamizar a economia, ou, pelo menos deste sector?
Basta imaginar uma “revolução” na Lei do Arrendamento?
Com valores de partida ao nível dos 97 cêntimos, é impossível, os resultados serão irrisórios a não ser que se liberaliza totalmente o mercado, o que geraria uma imensidão de famílias sem lar !
Daí talvez o Deixandar da Câmara Municipal do Porto!
E, sobretudo, a razão de uma preocupação que me acompanha desde 2009, pois esta tendência para fazer depender o crescimento da economia do crescimento do sector da Construção Civil e Obras Públicas, que dominou a política económica portuguesa desde 1986 até 2005, só podia resultar em desastre, neste Desastre!
Como já referi, o mercado é diminuto em dimensão e em rendimentos médios, e hoje, simplesmente terminou com este impasse!
Há mais habitação que a necessária, há rendimentos médios demasiado baixos e há um segmento proprietário totalmente descapitalizado, incapaz de recuperar o parque habitacional antigo por ele somente!
Ao que temos de acrescentar agora um Estado em grave crise financeira e gerido por uma equipa neo liberal, e dominado por uma União Europeia dominantemente neo liberal!
Trata-se na verdade do caso da pescadinha de rabo na boca – onde encontrar a solução?
Somente em mais endividamento do Estado, o que é hoje, completamente impossível, e, por isso, a premência no controlo e na Regulamentação das Agencias de Notação!
Exigência de defendo desde há um ano, sem grandes resultados note-se!
Porque existem endividamentos e endividamentos, pois uns rentabilizam-se e outros degradam mais a situação, e as negociações entre democratas e republicanos nos EUA mostram tal, tal como mostram a incapacidade em sair da pescadinha de rabo na boca!
Ora as Agencias de Notação, preocupadas somente com o ataque estratégico à União Europeia e ao euro, não querem saber de tal e a própria União Europeia que alimenta a senda neo liberal parece que tende a sustentar a degradação das economias mais frágeis, sem qualquer contemplação!
Por isso entendo que há que criar uma Opinião Publica mais informada e mais interventiva e daí o Colóquio que a EPAR vai realizar a 22 de Julho, na EPAR, Escola Profissional Almirante Reis, pelas 21h, na rua do Paraíso nº 1, em Lisboa, As Agencias de Notação, a Europa e a Crise Mundial, onde intervirão os Doutores Fernando Gaspar e Julio Dias, assim como eu mesmo.
Joffre Justino
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